sexta-feira, agosto 31, 2007

A little bit overwhelmed...

E no meio de tantos eventos durante a semana, que me fizeram sempre ir dormir à 1h para depois acordar às 6h (sim, afinal, o trabalho no escritório ainda estava ali me esperando), descobri na última hora que teria mais um compromisso semanal.

Ao chegar no trabalho, vi um e-mail de um colega pedindo para conversar urgentemente com ele. Quando consegui encontrá-lo, descobri que estava sendo chamado para um curso, ou melhor, para me matricular num curso.

Pois é... voltei aos estudos. Fazendo agora um curso de especialização em "Comunicação e direito: entretenimento, lazer e cultura", por conta da secretaria.
Já na primeira aula, muita coisa nova e importante para o trabalho (direitos autorais e copyright). Vamos ver o andamento do restante do curso...

Re-visão : abertura da exposição

Quarta-feira foi um dia corrido. Além de ter que correr com um estudo para entregar aqui no trabalho, fui para Santos por conta da vernissage da exposição "Re-visão" da artista plástica Suzana Garcia.

O casarão antigo da Pinacoteca casava bem com as obras que versavam sobre a transição entre o antigo e o novo na paisagem. Para evocar estes véus de tempo, os curadores montaram uma expografia na qual tínhamos que atravessar cortinas e víamos no caminho peças antigas de mobiliário até chegar na tela.

Uma pianista tocava músicas dos anos 20 e atores usando roupas da mesma época circulavam entre os convidados. Uma abertura com ares retrô e muita diversão.

Uma noite no museu

Nesta última terça-feira, o Museu da Língua Portuguesa resolveu abrir as portas durante a noite. Um teste para atrair o público adulto. Eu, como representante da Secretaria da Cultura, fui lá conferir o público visitante e também a nova monitoria do museu.

Foi interessante a experiência de ter o museu apenas para mim. Sim, porque no período que fiquei, não houve muito público visitante (talvez por conta do frio e da garoa fina que insistia em cair).

Na Praça da Língua, fiquei deitado sobre os versos iluminados, vendo as projeções naquele planetário de palavras e e sílabas. E pensando nas surpresas que aparecem ao acaso.

A onda :: Manuel Bandeira


a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

domingo, agosto 26, 2007

Das ansiedades por um telefonema



Ouvindo "O mundo é um moinho" do Cartola, na versão da Badi Assad.

"Ainda é cedo amor... mal começastes a conhecer a vida." Ligo ou não ligo? Mas se eu ligar, isso mostrará que eu estou muito a fim? Demonstrará esta minha ansiedade de querer um novo encontro e de ouvir novamente aquela voz?

"Ouça-me bem querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo".

Ligo. Mas ninguém atende. A chamada cai na caixa-postal. Ao menos, ouço um pouco da voz anunciando o recado.

"Ouça-me bem amor. Preste atenção: o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos. Vai reduzir as ilusões a pó."

Por que será que não atendeu? Será que decidiu não atender ou será que não pôde simplesmente atender? Deixou de atender por vontade própria ou por impossibilidade?

"Quando notares estás a beira de um abismo. Abismo que cavaste com teus pés."

sábado, agosto 25, 2007

Dos primeiros beijos que não foram dados

Aquele olhar denunciava tanto desejo. Eu, meio sem graça, fiquei ali parado, encarando aquele olhar. Sabe aquele olhar que prenunciava algo mais? Era este o olhar... mas acabávamos por seguir para um abraço.

Depois, na hora da despedida, quando algo incompreensível parece arrebentar dentro de você, também foi o momento perfeito para aquele beijo que não aconteceu.

Lá no teatro, depois da peça, quando fomos bisbilhotar o cenário e a gente se perdia no meio daquela magia desvendada no meio de clima de traquinagem quase infantil, também era o momento para o primeiro beijo que não aconteceu.

E nós conversando. Você comeu um pão-de-mel e ficou com o lábio inferior manchado de chocolate. Segurei seu queixo e com o dedo indicador, tirei a mancha. Uma inclinação adiante e aquele bem poderia ser o primeiro beijo.

Caminhando e delirando com as luzes noturnas da cidade, você apontava para um prédio antigo. E eu olhava atentamente para a direção apontada. Seu rosto chegava mais perto e mais perto e mais perto. E ficou perfilado ao meu. Se eu virasse o rosto para te olhar mais atentamente, o encontro dos lábios seria inevitável.

E diante de tantos primeiros beijos possíveis e não concretizados, apenas me pergunto: Será que isso é para acontecer realmente?

Pequenos milagres

Muitas vezes, ficava pensando naquela frase que sempre aparece depois dos filmes e de novelas: "esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança é mera coincidência" (ou algo semelhante).

Nesta semana, várias coisas aconteceram. Uma delas foi conferir a mais recente produção da trupe mineira Grupo Galpão. O Galpão comemora os 25 anos de existência com uma peça singular.

Numa grande campanha, eles coletaram histórias reais de pessoas do Brasil inteiro. A campanha tinha o nome de "Conte a sua história". Das mais de 500 histórias enviadas, foram selecionadas 4.

E estas quatro histórias são de uma poesia e de uma profundidade tão grande que muitas vezes fica difícil acreditar que aquilo tudo é baseado numa história real.

Quem diria que a vida (e nossas histórias) que parecem ser tão cotidianas e ordinárias, são pequenos milagres a serem resgatados.

Para quem puder conferir, eu digo com todas as letras: NÃO PERCA. A cenografia está bárbara. Os atores, fantásticos. Tudo na mais perfeita sintonia.

terça-feira, agosto 21, 2007

Das frases que te deixam sem resposta

Quando digo que sou um tímido, ninguém acredita. Eu sou ainda um daqueles que podem ficar corados por conta de um elogio inesperado. Ou que ainda não conseguem encarar nos olhos uma outra pessoa.

E quando percebo então que estou sendo observado por outra pessoa? Ihhh... nestas horas quero mais é me esconder. Fugir da vista e deixar de ser o foco das atenções. Converso muito com os outros. Mas nunca quis ser o foco das atenções de ninguém.

Agora, lá no novo trabalho, já fui tachado de "relações-públicas", já fui colocado como membro de uma Associação imaginária para congregar os amigos da happy hour e, agora, oficialmente, já fui convidado para integrar a Comissão de Lazer.

O que fazer quando os estereótipos, as imagens que os outros atribuem a você, tornam-se cada vez mais fortes?

E como dizer que apesar de eu ser uma pessoa que curte conversar com as outras, ainda assim fico sem graça e sem resposta ao ouvir coisas como "Trabalhar neste departamento ia ser bom porque eu poderia estar com você" ou "Bom poder sonhar com você na noite passada"?

domingo, agosto 19, 2007

João e Maria

Hoje, a música que ficou preenchendo minha mente foi "João e Maria". Letra do Chico Buarque para música de Sivuca. Levemente melancólico, extremamente poético.

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Agora eu era o herói ,

E o meu cavalo só falava inglês .

A noiva do cowboy, era você

Além das outras três .

Eu enfrentava os batalhões,

Os alemães e seus canhões .

Guardava o meu bodoque ,

E ensaiava um rock

Para as matinês .


Agora eu era o rei,

Era o bedel e era também juiz .

E pela minha lei,

A gente era obrigado a ser feliz.

E você era a princesa,

Que eu fiz coroar,

E era tão linda de se admirar,

Que andava nua pelo meu país.


Não, não fuja não,

Finja que agora eu era o seu brinquedo,

Eu era o seu pião ,

O seu bicho preferido.

Sim , me dê a mão,

A gente agora já não tinha medo,

No tempo da maldade,

Acho que a gente nem tinha nascido.


Agora era fatal,

Que o faz-de-conta terminasse assim.

Pra lá deste quintal,

Era uma noite que não tem mais fim.

Pois você sumiu no mundo,

Sem me avisar,

E agora eu era um louco a perguntar,

O que é que a vida vai fazer de mim ?

Tsotsi

Tsotsi é uma redução da palavra "Tsotsitaal", uma gíria do dialeto falado nas favelas de Soweto e que significa "marginal".

Tsotsi é também o nome do personagem principal do filme homônimo que recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Tsotsi é o primeiro filme da África do Sul que eu assisti. Antes dele, talvez só tenha assistido co-produções ou filmes com locações ali. Este é o primeiro filme que assisto com um roteiro que aborda as relações sociais na África atual.

A história é simples e, de certa forma previsível. Lembra em alguns aspectos o brasileiro "Cidade de Deus" por mostrar a miséria dos grandes centros urbanos. Eu, particularmente, não gosto muito de filmes que fazem questão de explorar a miséria humana. Sei que ela existe, mas para mim ao se transpô-la para a tela parece haver uma tentativa de "enobrecimento", de "glamourização".

No filme sul-africano, um jovem que sobrevive de roubos e outros crimes se vê envolvido com um recém-nascido por conseqüência de um de seus crimes. O surgimento deste recém-nascido evoca sua própria infância e traz uma certa luz em sua consciência.

O recém-nascido vem como objeto que o tira de uma invisibilidade social e que também o redime. Aliás, a redenção é algo que agrada muito a Academia hollywoodiana , neste caso garantiu o Oscar.

O filme não é ruim. Mas também não traz novidades para mim.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Semana de Portinari

Sim, e lá fui eu na minha primeira viagem a trabalho pela Secretaria da Cultura. O destino? Brodowski. Cidadezinha no interior de São Paulo, apenas 13 km de Ribeirão Preto.

O que fui fazer ali? Bem... conferir a abertura da XXXII Semana de Portinari. Sim. O pintor Cândido Portinari nasceu em Brodowski e manteve durante muitos anos, uma casa ali bem diante da igreja.

Na foto, uma montagem feita no jardim da casa, hoje convertida no Museu Casa de Portinari. O pai, a mãe e o próprio pintor.

O Museu conta com uma memorabilia grande. E uma expografia genial. A casa evoca todo o sentimento da família que vivia ali. No fogão a lenha original da cozinha, uma panela com a polenta que era geralmente servida. As cadeiras empalhadas pelo próprio pai do pintor. Nas paredes, muita pintura mural. Um passeio pelos jardins revela os canteiros com formato de letras: D - I - O (Dio = Deus em italiano).

O que era a antiga garagem foi transformada pelo pintor na capela da nonna. Um presente que o pintor fez para a avó quando ela ficou doente e não pôde mais ir a igreja. Uma visita tremendamente marcada pela emoção quase palpável daquele ambiente.

A abertura correu da forma mais folclórica possível. Muito popular, sem grandes produções. Prefeito, vice-prefeito, vereadores... enfim, todos ali para conferir a apresentação do coral e depois uma mini-peça de teatro encenada por alunos da escola local.

De lá, depois das despedidas, foi a hora da diversão. O pessoal do departamento resolveu conhecer um dos locais mais surpreendentes da cidade: o Açougue.

Sim, o lugar é um açougue. Só que os donos do açougue resolveram incrementar e oferecer um serviço extra. Então, basta você escolher a carne e dizer quantos quilos deseja.

Eles simplesmente vão e assam na churrasqueira. Enquanto você espera, pode se servir de bebidas nas geladeiras. Tudo muito caseiro. Tudo muito informal e descontraído. Para quem for a Brodowski, este é um programa imperdível.

Ahhh... e curta tudo ali. Da bacia cheia de salada fresca (tomate, alface e cebola) ao pão de alho e queijo coalho.

Eu e a cidade


A gente se acostuma com tanta coisa. Acostumamos com a violência destacada no noticiário da TV. Acostumamos com a pressa diária e com os roteiros de tédio para tédio. Acostumamos com a falta de delicadeza e com a falta de gentileza. E esquecemos que gentileza gera gentileza. Acostumamos com a mudança brusca do cenário que nos cerca.

Acostumamos com tanta coisa e não vemos muitas vezes que o mundo inteiro ao nosso redor está mudando. E quando percebemos já é tarde demais. O mundo inteiro mudou e nós apenas nos adaptamos a uma nova realidade sem lançar um olhar crítico. Muitas vezes, apenas aceitamos a mudança. Afinal, mudar é inevitável.

E quando vem o momento do confronto entre passado e futuro, neste processo de revisão (revisão = re-visão = ver novamente), percebemos muitas vezes que deixamos passar muita coisa. Deixamos passar coisas importantes, talvez até fragmentos minúsculos de nossa própria alma.

Nós somos a cidade. Somos este coletivo, esta história construída e esquecida. Somos esta confusão, reflexo do caos da modernidade e da persistência da memória. Imagem mutante nas linhas de tempo. Indivíduos querendo se destacar na multidão e ao mesmo tempo, querendo aprender a viver juntos.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Ouvindo agora: "Hey Jack Kerouac"

Hey Jack Kerouac
I think of you mother
And all the tears she cried
She would cry for none other
Than her little boy lost in a little world that hated
And that dared to drag him down
Her little boy courageous

He chose his words from mouths of
Babes got lost in the world
The hip-flash slinging madmen
Steaming café flirts
They all spoke through you

Hey Jack, now for the tricky part
When you were the brightest star
Who were the shadows?
Of the San Francisco beat boys
You were the favourite
Now they sit and rattle their bones
And think of their blood stoned days

You chose your words from mouths of
Babes got lost in the world
The hip-flask slinging madmen
Steaming café flirts
In Chinatown, howling at night

Allen baby, why so jaded?
Have the boys all grown up
and their beauty faded?
Billy, what a saint they made you
You're just like Mary down in Mexico
On All Souls' Day

You chose your words from mouths of
Babes lost in the world
The cool junk booting madmen
Street minded girls
In Harlem, howling at night

What a tear stained shock of the world
You've gone away without saying
Goodbye

Memória afetiva de um final de semana

Sábado preguiçoso. Friozinho chegando. Um pouco de garoa na cidade. E eu querendo sair. Todo mundo com preguiça e eu querendo fazer algo além de ficar dentro de casa. Planejei ir ao cinema. Planejei ir ao teatro. Planejei ver aquela exposição. Planejei curtir o sábado sozinho.

Não consegui falar com nenhum dos meus amigos. Resolvi ligar para pessoas recém-conhecidas. Afinal, nunca se sabe quando uma destas pode se tornar um bom amigo. Gosto de arriscar a conhecer melhor os outros. Gosto de dar aquele mergulho na alma do outro.

Tentei alguns novos colegas de trabalho. Ambos já estavam ocupados com suas andanças pela cidade. Sim. Estava mesmo sozinho.

E lá fui... eu e a cidade sem fim. Fui ao cinema. Na entrada, acabei encontrando uma ex-colega de trabalho. E coincidentemente, ela tinha marcado de assistir um filme ali com várias outras amigas. E eu fiquei ali para conversar porque queria ver o rumo que aquele acaso iria tomar.

Foi bom rever pessoas que dificilmente encontro no dia a dia. Goodbye. Não, não queria assistir um desenho animado. Fui caminhar novamente. Desta vez acompanhado de uma amiga que chegou e não quis assistir o filme. Fomos até uma livraria. E nos sentamos no café dentro da livraria. Adoro cafés em livrarias. Posso pegar um livro e ficar horas sentado na mesa, tomando um chá e folheando e lendo aleatoriamente parágrafos.

Sentamos. Ela foi pegar um café. Eu fiquei na mesa. E um cara na mesa ao lado resolveu puxar papo comigo. E começamos a conversar. Um sotaque forte. Estrangeiro. Sim, um ítalo-brasileiro que viveu mais de 10 anos nos Estados Unidos. E conversei com aquele estranho que depois se apresentou quando minha amiga chegou com o café.

E trocamos impressões. E ele parecia querer contar mais da vida dele. E eu nem tão interessado assim em ouvir. Minha amiga lançava um sorriso para mim por conta da situação. Eu não consigo deixar de ser simpático.

Depois ela foi embora. Foi para um show de uma banda que eu não queria ver porque já tinha visto muitos shows desta banda e já estava achando-a repetitiva. Eu fiquei na livraria. Folheando um livro. E o ítalo-brasileiro-que-morou-nos-EUA-e-que-insistia-em-conversar-comigo puxou a cadeira para mais perto e ficou conversando comigo.

Quando falei que trabalhava para o governo do Estado, ele disse que também já trabalhou para o governo americano. Mais especificamente na CIA. E eu nem botei muita fé. Afinal, tanta gente parece querer se tornar interessante às custas de alguma mentira.

Disse que ia cumprimentar um amigo que tinha visto ali na revistaria e que já voltava. Abordei um cara na revistaria dizendo para ele fingir que me conhecia e para sorrir levemente. Ele fez o que eu pedi e quando vi, estávamos realmente conversando.

Ele disse que estava indo para um restaurante lá perto. Eu disse que iria acompanhá-lo até a saída. Assim, poderia me livrar daquele outro cara que me pareceu inconveniente por ficar entrando na conversa que eu estava tendo com a minha amiga.

Na saída, agradeci o apoio dele. E só sei que acabamos conversando mais e mais. No final, já estava com um novo conhecido e um programa agendado para domingo. Estranho perceber como o mundo parece conspirar para que você conheça as pessoas.

No domingo, fui caminhar pela região dos Jardins ao lado do fotógrafo. Sim, o cara que conheci é um fotógrafo. E caminhamos e conversamos sobre o mais recente projeto dele. E ele falava sobre Roland Barthes e "punctum" e "studium". E eu não entendia nada daquilo e perguntava tal qual criança tentando descobrir aqueles termos estranhos.

Discutimos sobre várias coisas. Andamos até um café. Eu pedi um chá e um doce. Ele pediu somente um café. Fomos a uma exposição sobre Gianni Ratto. Subimos até o topo do Conjunto Nacional. Ele ficou observando os diferentes ângulos e explorando possíveis imagens. Eu fiquei ali em silêncio, com um pouco de frio, olhando as pessoas atravessando a avenida Paulista. E aquele jogo colorido e caótico de carros e pedestres.

E descobri que gosto de São Paulo justamente por conta de tudo o que estava vivendo ali: conhecer alguém estranho ao acaso, conhecer lugares e assuntos, transitar por novas alturas e descobertas, sentir-se minúsculo e ao mesmo tempo, especial.

domingo, agosto 12, 2007

Bergman & Antonioni


Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni. Dois cineastas reverenciados pelos críticos. Coincidentemente ambos morreram no mesmo dia. Um sueco, um italiano.

Eu adoro cinema. Só que nunca fui muito de querer me deixar levar por aquilo que os críticos aclamam como ótimo. Por isso, demorei a tomar contato com as obras destes dois cineastas. Ora por certo desprezo pelo fato de ambos serem "deuses sagrados" pela crítica de cinema, ora pelo fato de não ter tanta coisa
disponível deles nas locadoras.

O primeiro filme de Bergman que assisti foi aos 15 anos: "Fanny & Alexander". Achei um filme sutil, contando a história de uma família. Mas havia algo diferente naquela visão. Algo menos envolvente na emoção e apelando mais a um senso de observação.

Não foi um filme que me cativou. Mas ao menos matei minha curiosidade de ver alguma coisa de Bergman. Depois, vieram outros... todos evocando uma certa sensação de distanciamento e análise e culpa, muita culpa. Um sentimento de culpa e a busca de um perdão auto-concedido sendo trabalhado em todos os personagens.




Do Michelangelo Antonioni, o primeiro filme que assisti foi "A noite". Na época, morava perto do Cinesesc e, quando voltava do trabalho, vi o cartaz e resolvi conferir. Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau vivem um casal na armadilha do tédio e da incomunicabilidade.

Lembro de não ter gostado do filme. Sempre curti aqueles filmes que evocassem a emoção. E a linguagem de Antonioni parecia ser algo que beirava a falta de palavras, o silêncio e a plasticidade dos enquadramentos.

"Blow up", "Zabriskie Point", "Beyond the clouds"... todos vieram depois. E a sensação de ainda não me sentir a vontade com a linguagem cinematográfica dele persistia.

Talvez seja isso. Aquilo que os críticos tanto endeusam não é aquilo que me impressiona. De todos os filmes, sempre tiro algo para pensar. Mas são poucos os que me merecem a minha atenção durante anos e anos.

Não quero saber apenas da técnica, quero saber da história, quero saber da emoção e da linguagem. Por isso, nem considero tanto assim a avaliação dos críticos. Continuo confiando mais em meu próprio gosto.

sábado, agosto 11, 2007

A educação sentimental do vampiro

Algum tempo atrás fui conferir "Avenida Dropsie" da Sutil Companhia de Teatro. Saí de lá maravilhado com o trabalho feito por Felipe Hirsch e a cenografia da Daniela Thomas.

Depois de algum tempo, li que os dois tinham voltado a se reunir numa nova montagem. E a esta dupla, juntou-se mais um nome forte: Dalton Trevisan. Sim, a Sutil Companhia de Teatro encarou o desafio de adaptar para a linguagem teatral a intensidade das muitas histórias do escritor curitibano Dalton Trevisan.

Fui conferir a peça, com as expectativas em alta. E fiquei satisfeito com o que vi. A cenografia trabalhou muito bem o labiríntico jogo de emoções que permeia o texto. Pensamentos das personagens se misturam com diálogos em planos verticais.

A crueza das ações de cada personagem ganha uma veia dramática. Nudez, violência doméstica e sexual, repressão dos instintos. Tudo isso desfila diante dos nossos olhos lá no palco. E saímos com um certo sentimento contraditório: fascinados pelo trabalho de adaptação e por este puro exercício teatral, mas incomodados pelas sensações evocadas pelo texto.

Para quem quiser curtir uma boa montagem, vá. Àqueles que buscam algo mais "açucarado", a recomendação é de que procurem outra peça.

Não existem homossexuais


Hoje li nas notícias sobre mais uma parada gay que estava acontecendo em algum canto do mundo. Acho interessante todo este movimento de reafirmação de uma identidade, mas aí eu me pergunto: e desde quando a sexualidade deveria ser algo que te define como pessoa?

Aí, coincidentemente, recebo de uma amiga um texto sobre esta questão. Li e achei muito interessante a opinião do jornalista português João Pereira Coutinho. Compartilho aqui com vocês.

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Não existem homossexuais

Acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada

NÃO CONHEÇO homossexuais. Nem um para mostrar. Amigos meus dizem que existem. Outros dizem que são. Eu coço a cabeça e investigo: dois olhos, duas mãos, duas pernas. Um ser humano como outro qualquer. Mas eles recusam pertencer ao único gênero que interessa, o humano. E falam do "homossexual" como algumas crianças falam de fadas ou duendes. Mas os homossexuais existem?

A desconfiança deve ser atribuída a um insuspeito na matéria. Falo de Gore Vidal, que roubou o conceito a outro, Tennessee Williams: "homossexual" é adjetivo, não substantivo. Concordo, subscrevo. Não existe o "homossexual". Existem atos homossexuais. E atos heterossexuais. Eu próprio, confesso, sou culpado de praticar os segundos (menos do que gostaria, é certo). E parte da humanidade pratica os primeiros. Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar o sexo a condição identitária. Sou como ser humano o que faço na minha cama. Aberrante, não?

Uns anos atrás, aliás, comprei brigas feias na imprensa portuguesa por afirmar o óbvio: ter orgulho da sexualidade é como ter orgulho da cor da pele. Ilógico. Se a orientação sexual é um fato tão natural como a pigmentação dermatológica, não há nada de que ter orgulho. Podemos sentir orgulho da carreira que fomos construindo: do livro que escrevemos, da música que compusemos. O orgulho pressupõe mérito. E o mérito pressupõe escolha. Na sexualidade, não há escolha.

Infelizmente, o mundo não concorda. Os homossexuais existem e, mais, existe uma forma de vida gay com sua literatura, sua arte. Seu cinema. O Festival de Veneza, por exemplo, pretende instituir um Leão Queer para o melhor filme gay em concurso. Não é caso único. Berlim já tem um prêmio semelhante há duas décadas. É o Teddy Award.

Estranho. Olhando para a história da arte ocidental, é possível divisar obras que versaram sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo. A arte greco-latina surge dominada por essa pulsão homoerótica. Mas só um analfabeto fala em "arte grega gay" ou "arte romana gay". E desconfio que o imperador Adriano se sentiria abismado se as estátuas de Antínoo, que mandou espalhar por Roma, fossem classificadas como exemplares de "estatuária gay". A arte não tem gênero. Tem talento ou falta de.

E, já agora, tem bom senso ou falta de. Definir uma obra de arte pela orientação sexual dos personagens retratados não é apenas um caso de filistinismo cultural. É encerrar um quadro, um livro ou um filme no gueto ideológico das patrulhas. Exatamente como acontece com as próprias patrulhas, que transformam um fato natural em programa de exclusão. De auto-exclusão.

Eu, se fosse "homossexual", sentiria certa ofensa se reduzissem a minha personalidade à inclinação (simbólica) do meu pênis. Mas eu prometo perguntar a um "homossexual" verdadeiro o que ele pensa sobre o assunto, caso eu consiga encontrar um no planeta Terra.

terça-feira, agosto 07, 2007

Carpinejar e Leminski

Rafael, sabendo que eu curto poesia, resolveu me presentear com dois poemas que ele pescou em suas andanças. Leu e sentiu que deveria compartilhá-los comigo. E eu sinto que devo compartilhá-los com vocês...

“Ao andar contigo,
eu ria à toa, a música já tinha
nossa respiração.
Como uma cordilheira,
a tempestade
sobrevoava
a esponja do verde,
sem derramar relâmpagos.
Ao andar contigo,
eu me invejava.”

Carpinejar


a próxima vez
que quiser ler meu pensamento
vai ver uma coisa
letras soltas páginas rasgadas
capítulos sem fim
vírgulas loucas
surpresas e suspiros
tigres de papel
caras de nanquim

só mais uma coisa
já que você vai mesmo ver alguma
que tal olhar pro céu
em vez de olhar pra mim ?

Leminski

segunda-feira, agosto 06, 2007

Eu pelos outros

Muitas vezes eu me surpreendo com uma declaração que ouço a meu respeito. Vejo comentários e me pergunto sobre como os outros me vêem. E o porquê de me verem da forma como me vêem.

Sartre escreveu em algum lugar que "o inferno é os outros". Sim, porque os outros, queiram ou não, também nos define. A cada vida que tocamos, teremos associado uma imagem.

Eu sou eu mesmo. Mas também sou aquilo que os outros dizem de mim. E sou também o que os outros pensam de mim e não dizem. E também sou aquilo que nem os outros nem eu mesmo desconfio a meu respeito.

Nesta semana, ouvi muitas coisas dos meus colegas de trabalho. Já atrelaram a imagem de um RP (relações públicas) a minha pessoa. E acham que eu conheço muitas pessoas no trabalho, mais até do que muitos que já trabalham ali a mais tempo que eu.

Ouvi dizer que eu sou desinibido, que eu sou agitador e baladeiro. E eu me surpreendo com isso porque eu me acho exatamente o contrário de tudo isso. Eu sou um tímido incorrigível, que toma cuidado com as palavras para nao machucar os outros e que não tem coragem de abordar alguém se eu tiver alguma intenção extra.

Sou alguém que também gosta de certa calma e paz, que curte um pouco da solidão e que em alguns momentos, prefere a companhia de um bom livro do que os agitos num sábado a noite (sim, até porque as noites durante a semana é que se prezam mais às saídas noturnas para mim. rsrs).

Mas vejo que os outros me vêem de outra forma. E até se surpreendem quando eu digo que passei o final de semana tranquilo e sem sair de casa. De qualquer forma, engraçado ver a imagem que os outros tem de você...

Bem... e soube hoje que eu fui eleito para o Comitê da AAHH, a recém-criada 'Associação dos Amigos da Happy Hour'. Isso porque eu só fui em uma happy hour do pessoal nesta última sexta-feira.

sábado, agosto 04, 2007

Algumas perguntas

Por que eu sou eu e não outra coisa? Será que existe vida em Marte? Existe amor à primeira vista? O destino realmente é algo traçado e escrito nas estrelas? Ou somos nós quem escrevemos o livro da nossa vida?

O universo conspira a favor de nossos projetos? Atraímos aquilo que pensamos? Existem almas gêmeas? O cão é o melhor amigo do homem? Se Plutão não é mais um planeta, o que é agora?

Será que vou conseguir realizar tudo aquilo que imaginei para mim? De onde foi que surgiu estas coisas de matrizes e teoremas matemáticos? Que magia existe atrás do número sete (sete dias da semana, sete maravilhas do mundo, sete pecados capitais, etc.)?

Existe magia no universo? Há uma consciência superior? Que ônibus pego para chegar até Pinheiros a partir da Luz? Oscar Niemeyer é uma farsa ou um gênio? Por que eu sinto que não sei de quase nada? Será que um dia saberei um pouco mais de alguma coisa?

Precisamos mesmo comer tanto quanto comemos? O que é uma correria de respeito? Por que a gente não se contenta com o que sabemos? Por que eu tenho tantas perguntas na cabeça?