segunda-feira, outubro 30, 2006

Belle Toujours


Mais um filme na Mostra Internacional... Desta vez, o escolhido foi "Belle toujours" (tradução: "Bela para sempre").

O filme do diretor português Manoel de Oliveira seria uma espécie de continuação do polêmico "La belle du jour" (A bela da tarde), do espanhol Luís Buñuel. Ao realizar este tributo a Buñuel e ao roteirista Jean-Claude Carrière, o diretor português mergulha um pouco mais no detalhamento do intrincado jogo psicológico lançado no primeiro filme.

Em "La belle du jour", Catherine Deneuve é a dona-de-casa de classe média Severine. Presa numa gaiola de felicidade do casamento, tenta encontrar uma fuga para o tédio e para o amor marital. Para isso, ela acaba se prostituindo durante as tardes e assim satisfazia sua busca por algo que a mantivesse viva.

"Belle toujours" seria uma espécie de "La belle du jour" 38 anos depois. Agora, as personagens Severine e Husson se reencontram e mergulha-se numa explicação mais aguda de todo este jogo traçado no primeiro filme. Fala-se sobre sadismo e masoquismo nos níveis psicológicos e sobre confrontos com a verdade.

Pode alguém amar tanto outra pessoa e para satisfazer um prazer masoquista, torturar-se psicologicamente com a culpa de uma traição? Cultivar um segredo para ao mesmo tempo encontrar neste segredo uma fonte de prazer e um reforço para o amor?

Estas questões vêm todas durante o filme. E apesar de curto (dura apenas 1 hora), suscita um grande jogo psicológico que funda-se apenas na satisfação de um sadismo.

Será que todos nós, em maior ou menor grau, embarcamos em jogos assim quando assunto é amor e prazer?

sábado, outubro 28, 2006

Qué tan lejos


E ontem, com uma semana de Mostra Internacional, fui conferir o meu primeiro filme.

Não comprei a permanente integral (por motivos de tempo$$$) e, acabei indo ontem conferir um filme somente porque fui meio que "arrastado" por um amigo. Ele escolheu o filme, comprou os ingressos e eu só precisava aparecer. Sendo assim, fui conferir o filme "Qué tan lejos" (tradução livre: "quão distante").

Nunca tinha visto um filme equatoriano. Aliás, não conheço muito sobre cinema latino-americano. Acho que no máximo uns filmes argentinos, chilenos, cubanos e mexicanos. Como se a cinematografia dos outros países fosse um terreno inexistente.

E fui surpreendido. Este primeiro filme "made in Equador" que assisti é uma produção bem feita e com uma história universal (fala sobre amizade e sobre caminhos que se cruzam e destinos diferentes que acabam convertendo num único destino).

Só atrapalhou o fato de haver uma legenda em inglês no filme e ao mesmo tempo, uma legenda eletrônica em português. Em alguns momentos, as legendas mais me confundiam do que ajudavam. E a melhor coisa que fiz foi ignorá-las e acompanhar o filme somente em seu idioma original.

A imagem que peguei para ilustrar este post é do Rio Tomebamba, um rio que nasce nos Andes e cruza a cidade de Cuenca (destino final das duas personagens) e que depois, recebe o nome de Amazonas.

É uma pena que este filme não tenha previsão apra estréia aqui no Brasil. Um filme sensível e que valeria a pena ser visto por mais pessoas. O bom da Mostra Internacional é isso: possibilitar o contato com produções que dificilmente chegarão a nós pelas vias comerciais normais.

Hoje vou tentar conferir mais um fime... se conseguir os ingressos, amanhã volto aqui para comentar.

terça-feira, outubro 24, 2006

Algumas palavras


Eu sou difícil de lembrar, mas impossível de se esquecer.

"Quanto mais o homem fala de si, mais ele deixa de ser si mesmo. Mas deixe que se esconda por trás de uma máscara, e então ele contará toda a verdade."
(Oscar Wilde)

"Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim. Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível. E que esse momento será inesquecível."
(Mário Quintana)

"Sorte no jogo, azar no amor.
De que me vale sorte no amor
Se o amor é um jogo
E o jogo não é o meu forte
Meu amor?"
(Paulo Leminski)

"Aqui a vida é curta. Então curta."
(Fábio Fabrício Fabretti)

Constituição Federal:
artigo 5º, inciso LXIII - Ninguém é obrigado a produzir provas contra si próprio...

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Conversando com van Gogh

-Você está bem? Parece estar machucado.
-Ahh... isto?
-Sim.
-Ontem eu estava tentando completar um auto-retrato. Como eu não conseguia pintar direito a orelha, então eu... cortei-a e joguei fora.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Entra ano, sai ano e é sempre a mesma história. Filas intermináveis, disputas por ingressos, legendas eletrônicas falhas, atrasos e filmes chegando em cima da hora.

Mas quer saber? Eu adoro cinema. E por isso, nada disso importa quando vejo que posso me deliciar com filmes que dificilmente virão para o circuito comercial. Onde começou a onda de filmes chineses? Na Mostra Internacional. Onde foi que ouvi falar de Quentin Tarantino a primeira vez? Na Mostra.

E quer saber? As filas e todo o resto já viraram parte do folclore de quem se propõe a assistir alguma coisa durante a Mostra. Um dia, eu quero poder comprar uma permanente e conferir todos os filmes. Quem sabe num futuro próximo. risos.

Soube que nesta 30º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo serão exibidos mais de 400 títulos. Haja tempo para poder conferir todos. São exatamente 420 filmes de 44 países em 14 dias de Mostra.

Hora de arregaçar as mangas, ler a sinopse dos filmes na programação, fazer uma seleção e partir para a luta por um ingresso.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Cachaça, pinga, aguardente

Uma coisa que eu curto muito é aprender a origem das palavras e, numa destas buscas, acabei cruzando com uma história que é contada no Museu do Homem do Nordeste. A história fala sobre a origem dos termos "pinga" e "aguardente". Vale a pena conferir...

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Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou! O que fazer agora?

A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor. No dia seguinte, encontraram o melado azedo (fermentado). Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o "azedo" do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e se formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente, era a cachaça já formada que pingava. Por isso o nome: pinga.

Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores, ardia muito. Por isso deram o nome de "água-ardente". Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar.

E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo. Hoje, como todos sabem, a aguardente é símbolo nacional!!!

quarta-feira, outubro 18, 2006

(RED)


E já que somos todos consumidores, a onda agora é ser "consumidor consciente". Comprar e ao mesmo tempo contribuir para uma boa causa.

Já estamos acostumados com estas iniciativas. Seja por conta do McDia Feliz (compre um BigMac e você ajuda as crianças cancerosas), seja por conta das pulseiras de silicone coloridas (amarela para câncer, preta-e-branca contra o racismo e por aí vai).

Bom negócio para os consumidores (que podem ajudar sem grande peso no bolso), bom negócio para as empresas (que faturam na construção de uma imagem de "socialmente responsável").

E nesta onda de "responsabilidade social das empresas", eis que surge mais uma parceria de peso.

Você já sabe o que é um produto (RED)?

A ONU - Organização das Nações Unidas criou um Fundo Global contra a AIDS, malária e tuberculose em 2002. Estas doenças acometem populações inteiras no continente africano. E aí entramos num círculo vicioso: populações pobres, doenças de Terceiro Mundo, falta de pesquisa das empresas farmacêuticas para remédios que combatam estas doenças, mais gente doente entre as populações pobres do planeta.

O cantor Bono Vox, vocalista da banda irlandesa U2, criou uma campanha em que corporações mundiais oferecem produtos em que parte da renda obtida com a venda destes produtos vai para este Fundo Global.

Estes produtos receberam o nome de produtos (RED). E, apesar do nome, nem todos os produtos são vermelhos. A Motorola criou um modelo de celular vermelho e parte da renda obtida com a venda deste produto vai para o Fundo Global. A American Express, operadora de cartão de crédito, também fez uma linha especial de cartões. Assim como a GAP (roupas), Empório Armani (relógios e acessórios), Converse (tênis) e a Apple (iPod).

Quem quiser saber mais desta iniciativa, é só visitar o site: (RED).

segunda-feira, outubro 16, 2006

E o Nobel da Paz foi para...

Muhammad Yunus, economista e banqueiro bengalês, e para o Grammen Bank, "o banco das vilas".

A grande idéia por trás de Muhammad Yunus é algo chamado microcrédito. Simplesmente, oferecer empréstimos em pequenos valores (média de 200 dólares) para pessoas sem recursos. No Brasil, o microcrédito ainda não decolou. Quem sabe um dia...

Como disseram no anúncio para entrega do prêmio Nobel, "A paz duradoura não poderá ser atingida a menos que grandes parcelas da população encontre forma de sair da pobreza. Micro-crédito é um destes meios. O desenvolvimento ajuda também no avanço da democracia e dos direitos humanos."

Mais uma boa idéia que poderia ser trazida para nossa Terra Brasilis. Se bem que o Diogo Mainardi, irônico como sempre, disse que as Casas Bahia também poderiam levar o Nobel da Paz porque também dão crédito para pobres.

sábado, outubro 14, 2006

Como viver junto


Faz um tempo que deixei de tentar entender as manifestações da arte. Não se percebe uma obra de arte apenas com os olhos racionais, com a mente. O olhar para uma obra de arte envolve mais os sentidos, mais os significados pessoais que o discurso racional.

Pelo menos é desta forma que encaro a arte hoje. Não entendo muita coisa, nem tenho a pretensão de entender. Não quero mergulhar no mundo específico do artista nem entender algo sob a ótica do artista. Eu quero é agregar as impressões que tenho sobre uma obra para minhas idéias, para minhas percepções. E só...

Ontem fui visitar a Bienal de São Paulo. Pela segunda vez, a Bienal abre as portas para o público sem cobrar nada. Uma boa iniciativa de democratizar o acesso, de despertar a discussão pela arte ao maior número possível de pessoas.

Entender muitas daquelas obras que estavam expostas? Perda de tempo... veja, circule, se impressione, descarte. Pare, reflita e siga adiante. O que significa uma instalação que tem um bloqueador de celulares? O que posso entender de uma maquete que junta obras arquitetônicas do mundo inteiro e que são feitas em açúcar? E aquelas fotos da Ana Mendietta mostrando o corpo e o signo do corpo? E a parede feita de lixo mostrada por Gordon Matta-Clark?

Interpretações tenho várias. Alguma é a correta? Não sei nem tenho a pretensão de colocar isso em discussão. O mote da Bienal deste ano é "Como viver junto". Será que as obras refletem de alguma forma este mote? Muitas vezes não enxergo nada que seja congruente com isso.

Mas quer saber? Minha intenção era apenas devanear no meio da concretização do devaneio dos outros. Não entendo a arte conteporânea nem tenho a pretensão de entender. Apenas me impressiono ou não. E só.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Bem-me-quer, mal-me-quer...


De qualquer forma, não consigo fazer "bem-me-quer, mal-me-quer"... não tenho a mínima vontade de saber uma verdade já conhecida. Então, vamos supor que ele mal-me-quer.

Amor... e quem disse que o amor era a melhor coisa do mundo? Quem foi que me enganou dizendo que o amor era uma das coisas pelas quais valia a pena viver? O amor é horrível. Você fica tão vulnerável... O peito se abre e o coração também. E, com o peito e o coração abertos, o caminho está livre para que qualquer um possa entrar em você e bagunçar todo o seu mundo.

Todo o tempo que levei para levantar minhas defesas, todo estes anos e anos que levei para construir a minha armadura para que nada pudesse me fazer mal foi em vão. Uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outra, entra na minha vida e destrói tudo. Você dá a esta pessoa um pedaço de você... e dá de graça porque ela nem pediu. Um dia, esta pessoa faz uma coisa boba como te beijar ou sorrir e, de repente, o seu coração e a sua vida já não são mais seus.

O amor entra em você, devora tudo o que é seu e te deixa perdido. Tudo o que é você já não é mais você porque sua alma já está nas mãos daquele a quem você ama. Você se entrega, e esta foi uma decisão sua, uma decisão só sua, e já não se pertence mais.

De repente, uma frase simples como "talvez a gente devesse ser apenas amigos" ou "é melhor a gente dar um tempo" se transforma numa bomba de estilhaços de vidro explodindo dentro do seu peito e rasgando o coração.

E dói... Não só na imaginação ou na mente. Não é aquela dor de sentir cacos de vidro rasgando a planta dos seus pés para depois levar alguns pontos. É aquela dor que dá desânimo nos braços, na cabeça e até mesmo na vontade de virar a cabeça no travesseiro. É uma dor na alma, no corpo, uma verdadeira dor que entra-em-você-e-destroça-por-dentro.

E você chora e se dá conta de que o sabor que o amor te dá vem do sal daquelas lágrimas que você insiste em derramar.

Nada deveria ser assim... Principalmente o amor. Eu odeio o amor.

terça-feira, outubro 10, 2006

Baú de memória e vida


Já tentei fazer cócegas em mim mesmo para ver se surgia alguma risada que me fizesse esquecer a tristeza. Já fiquei pulando em cima da cama até quebrar o estrado e só assim conseguir um sono tranqüilo.

Já comi cinco chicletes de uma só vez apenas para tentar fazer uma bola que ficasse maior que o meu rosto. Já fiquei olhando horas para a chama de uma vela dançando e enxerguei naquilo mais do que a chama de uma vela.

Já conversei com o espelho buscando alguma explicação para os erros que parecem ser recorrentes. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando na sensação da água fria correndo em fios grossos pela pele.

Já passei trote por telefone e já toquei a campainha de uma casa estranha para sair correndo depois. Já roubei xícaras de café em cafeterias apenas porque elas eram bonitas e eu queria ter xícaras de café sem gostar de beber café. Já roubei flores nos jardins apenas para distribuí-las depois.

Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Já fiquei horas esperando ao lado de um telefone. Já me arrependi por ter embarcado muitas vezes naqueles “joguinhos” de sedução. Já senti o gosto metálico daquele beijo que antecede o fim. Já me apaixonei e achei que era para sempre até ver que era um “para sempre que acaba”.

Já tentei esquecer algumas pessoas, até descobrir que estas nunca serão esquecidas porque fazem parte da minha vida, da minha história. E aprendi que esquece-las seria o mesmo que esquecer de parte de mim mesmo.

Já dormi na areia da praia porque as estrelas estavam me chamando para vê-las. Já comi muita manga e jabuticaba e goiaba que eu colhia direto das árvores no quintal da casa da minha avó.

Já raspei o fundo da tigela para pegar aquela massa crua de bolo. Já lambi muita tampa de alumínio de iogurte. Já fiquei raspando a lata de leite condensado com o dedo. Já fiquei brincando de quebrar o ossinho do frango e fazer um pedido.

Já fiz juras eternas. Já escrevi no gesso de um amigo que tinha quebrado o braço. Já escrevi com pedaço de tijolo no asfalto da rua. Já escrevi um poema porque um amigo pediu. Já escrevi no muro da escola, raspando a tinta e deixando o reboco aparente.

Já quis ser arquiteto, mágico, jornalista, biólogo, violinista, psicólogo, chef de cozinha e viajante profissional. Já estudei muita coisa achando que seria útil. Já estudei muita coisa estranha porque eu queria. Já percorri muitos caminhos errados para chegar no lugar certo.

Já chorei sentado no chão do banheiro. Já corri para não deixar que me vissem chorando. Já chorei baixinho ao lado da minha cachorra. Já prendi o choro muitas vezes dentro do peito... e doeu.

Já saí de casa e fui para lugares lotados apenas para me sentir sozinho. Já fiquei sozinho em casa quando o que eu mais queria era estar com alguém ao meu lado. Já fiquei no meio de um monte de gente e sentindo falta de uma só.

Já fiquei acordado por mais de 3 dias seguidos. Já dormi horas e horas sem acordar nem para comer nem para ir ao banheiro. Já tive medo do escuro e de portas de armário abertas a noite e de palhaços de brinquedo. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já sonhei que estava dando um passo e senti minha perna se mexer como se quisesse andar.

Já vi alguns amigos partindo e chorei por pensar que não os veria mais. E aprendi que bons amigos nunca deixam de ser amigos. Já aprendi que o trem da partida também é o trem da chegada. Amigos partirão e entrarão na sua vida, simplesmente porque é assim que é a dinâmica da vida: um ir e vir sem razão.

sábado, outubro 07, 2006

O escultor de cataventos

Alexander Calder era um engenheiro, conhecia muito a respeito de cálculos, já tinha noção sobre centro de gravidade e sabia também sobre as máquinas e o funcionamento delas, sabia dissecá-las como ninguém, em porcas, parafusos e engrenagens.

Alexander Calder tinha um espírito brincalhão e criativo, e no meio da frieza da máquina, encontrou formas de fazer com que pedaços de metal e roldanas e fios elétricos se convertessem em seres que ressoavam diretamente em nossas memórias de infância.

Bem, e depois de tudo isso, talvez você ainda se pergunte: "Mas quem era Alexander Calder?". Pois bem, para aqueles que não conhecem o trabalho do artista plástico, que foi "padrinho" dos artistas neoplasticistas paulistanos, existe uma chance de ver algumas de suas obras agora na exposição que acontece na Pinacoteca do Estado.

Calder foi o inventor do móbile. Sim, ele foi quem criou a estrutura do móbile (depois tão difundido naqueles enfeites sobre os berços de bebês). E foi um dos precursores da chamada arte cinética, aquela que incorpora o movimento como integrante da obra.

Para mim, a mostra não está tão destacada quanto aconteceu com a recente exposição das obras do Henry Moore, mas como eu nunca tinha visto uma peça do Calder tão próxima, foi bem interessante.

Senti-me meio criança vendo aqueles móbiles. Deslumbrado com as cores primárias e aquele equilíbrio precário das peças. E até arrisquei ficar soprando para as peças apenas para vê-las se mexendo.

E talvez seja este mesmo o espírito de uma obra de arte... fazer a gente sentir algo, transportar-nos para um outro mundo e fazer refletir.

segunda-feira, outubro 02, 2006

O que você faria se o diabo vestisse Prada?


Muita chuva... céu cinzento e final de semana marcado por eventos interessantes. Como o tempo estava chuvoso, o programa mais óbvio era ficar em casa (coisa que eu simplesmente me recusava a admitir) ou ir para algum lugar abrigado. Fui parar na sala de cinema. E conferi dois filmes (não no mesmo dia, que fique claro... risos): "O diabo veste Prada" e "O que você faria?" (título exdrúxulo que deram para "El método").

Em comum, os dois filmes tratam a respeito de vida profissional. Até onde conseguimos separar a vida profissional da vida pessoal? Aliás, é possível separá-las ou isso é tarefa sem solução?

Em "O diabo veste Prada" vi uma assistente de uma editora-chefe de uma revista conceituada na área de moda. Aquilo que seria apenas algo temporário e para "abrir as portas" para uma carreira em jornalismo, transforma-se numa "prisão", exigindo o tempo da vida social e da vida íntima. Até onde abrimos mão da nossa felicidade pessoal para construir uma carreira?

Por mais que a personagem Andrea diga "Eu não tive escolha..." é óbvio que ela escolheu. Ela escolheu seguir adiante. e aqui, lembro um pouco dos preceitos do taoísmo: "A não-ação também é uma forma de agir".

Quem vota nulo, exercita uma ação para beneficiar quem está ganhando. Quem vê e não faz algo torna-se cúmplice. E se alguém diz que abriu mão de um relacionamento por conta da carreira mesmo "não tendo escolha", o fez de forma consciente. Sabia das opções e seguiu adiante.

O filme "O que você faria?" é um filme espanhol e um pouco mais "cruel" na abordagem da vida privada mesclada na vida corporativa. Até onde o que você pensa e os seus princípios morais são avaliados para se trabalhar numa empresa?

Em "O que você faria?", partimos de um processo de seleção para um cargo de direção numa empresa. Logo abaixo, uma multidão protesta contra uma a globalização e as atividades do FMI e do Banco Mundial. Incrível como a luta lá fora se reflete psicologicamente na luta pela vaga dentro do prédio.

Quem ganhará a vaga? O herói? O diplomata? O egocêntrico? A mulher madura? A jovem executiva ambiciosa?

No filme, os limites são testados. E fica no ar a pergunta? Até onde a promessa de felicidade pessoal é jogada de escanteio para progredirmos na carreira? No lugar das personagens do filme, o que você faria?