terça-feira, janeiro 30, 2007

Ayahuasca: por dentro do caleidoscópio

Nem imaginava que para participar do cerimonial, teria que fazer tantos preparativos. Não ingerir carne vermelha nem alimentos gordurosos até 3 dias antes. Não ingerir bebidas alcóolicas. Abster-se de sexo até 24 horas antes do ritual.

Aff... Bem, nada de muito sacrificante. Preparativos tranquilos... se bem que, por estas ironias do destino, na véspera do dia do ritual, fui convidado para um churrasco. Para não cair em tentação de provar uma fatia de picanha, preferi recusar e fiquei mesmo em casa.

No sábado a noite, fui para o local do ritual xamânico. Confesso que havia uma certa ansiedade em relação ao que me aguardava, mas a curiosidade continuava ali.

A ayahuasca é um chá de cor castanha, só que diferente dos chás comuns, não é translúcido. Tem uma cor que remete a cor da terra. A pessoa que conduzia o ritual entregou um copo americano de vidro com uma dose bem menor do que a servida para os outros. Afinal, esta era minha primeira vez... melhor pegar mais leve.

Ao levar o líquido para boca, um sabor ácido, lembrando muito vinagre dominou o paladar. Uma mistura de sabores que transitava entre o silvestre, a terra e o ácido. Após a ingestão, todos ficam sentados e o mestre que conduz o ritual coloca algumas músicas instrumentais e faz algumas chamadas.

O que posso dizer das sensações? Isso é algo mais difícil. Posso começar dizendo que a sensação física é boa. Sabe aquela sensação que te acompanha quando você está acordando mas ainda sente vontade de dormir? A visão fica meio nublada e você enxerga mais as auras de luzes do que propriamente as luzes. A sensação é mais ou menos esta só que ela persiste durante todo o tempo do efeito do chá.

A percepção realmente fica alterada. Você sente como se não estivesse no seu próprio corpo, como se apenas o observasse de fora. As sensações de tato ficam aguçadas e cada movimento é uma redescoberta do próprio corpo. Você começa a atentar para detalhes que te passam despercebidos no dia-a-dia: a pressão das mãos que se apóiam nas pernas, o arquear leve das pernas ao se sentar, a respiração no movimento do diafragma...

A consciência corporal é intensa. E cada sensação te leva a uma redescoberta de si. E o mais interessante é que cada sensação é única. Por mais que você queira repetir uma sensação, você não consegue. Como se você estivesse dentro de um caleidoscópio de sensações.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Ayahuasca: Coletando informações e relembrando experiências anteriores


Minha curiosidade é o motor que me impulsiona para muitas coisas. Minhas ações, minhas leituras, meus estudos... tudo movido pela curiosidade. Aquela vontade de saber mais e, mesmo que a experiência não seja boa, ao menos descobri que aquilo que provei ou vi ou tentei não era bom.

Se eu tiver que falar de alguma coisa, que eu fale com conhecimento de causa.

Pois bem, neste início de ano fui convidado para participar de uma cerimônia de cunho espiritual que envolvia o uso da ayahuasca.

Para quem não sabe, a ayahuasca é um chá preparado com o cipó mariri (ou caapi) e as folhas da chacrona. O nome ayahuasca vem de uma palavra de origem quéchua e significa "cipó dos espíritos".

O nome faz uma referência direta ao uso em cerimoniais religiosos de tribos indígenas da região amazônica. Desde os anos 50, algumas seitas religiosas tem divulgado o uso da ayahuasca: o Santo Daime, a UDV - União do Vegetal e a Natureza Divina.

Ao ser convidado, várias perguntas vieram. Será que faz mal a saúde? Em que será que isso afeta o meu corpo? Será que vou ter algum descontrole depois da ingestão?

Minha relação com drogas é até um pouco conservadora. Nunca fumei cigarros. O vício da nicotina nunca me atraiu. Aliás, nem bebo café também (a cafeína é outro vício ao qual não fui atraído também).

Curtia sim algumas bebidas alcóolicas, mas nunca fui daqueles que bebia demais. Parei por conta de um problema de fígado. Adorava um vinho, uma caipiroska de lichia, um gin-fizz, um mojito com muita hortelã...

Maconha? Provei algumas vezes mas nem sinto muita coisa. Por isso nem me atrai. Quando estive em Amsterdã, até entre num daqueles "brown coffees" e vi com curiosidade o cardápio de "baseados". Provei apenas um "space cake" e posso dizer que minha experiência foi "pirante".

Na semana passada surgiu a oportunidade de provar a ayahuasca. E o motorzinho da curiosidade começou a acelerar...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

I'm from Barcelona


Todo verão pede o seu som! Já tive a minha fase Jorge Benjor, já passei por verões mais melancólicos regados a muito R.E.M. e outros mais leves no qual o disco Acústico MTV Kid Abelha não saia do player.

Nese verão, tive a sorte de descobrir uma banda sueca: I'm from Barcelona.

São 29 integrantes (na foto acima, nem todos aparecem) e, apesar do nome, nenhum deles veio de Barcelona.

Para quem quiser experimentar, o CD "Let me introduce my friends" é de uma astral leve e para cima. Combinando com a alegria inerente dos dias de sol. Por que a gente sorri quando vê um céu azul-de-brigadeiro? Talvez porque apenas sinta lá dentro que é tempo de curtir.

Enquanto escrevo, ouço a faixa We're from Barcelona. Esta e Treehouse são as minhas favoritas.

domingo, janeiro 21, 2007

Matéria: As dez invenções brasileiras mais injustiçadas



Li uma matéria interessante na revista Mundo Estranho (sim, eu sou daqueles que curtem a cultura de almanaque e as curiosidades). Interessante saber que tanta coisa foi feita aqui por pessoas de Terra Brasilis mas que dificilmente são lembradas.

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Nem só de samba, caipirinha e bossa-nova vivem os inventores brasileiros! Da mente
de nossos compatriotas já surgiu um monte de inovações científicas - muitas delas nunca foram reconhecidas. Dedicamos este Top 10 às mais esquecidas criações made in Brazil

10) AVIÃO
SANTOS DUMONT - 1906

Até que essa invenção não é assim tão injustiçada...
No ano passado, centenário dos primeiros vôos com o 14 Bis, Santos Dumont recebeu homenagens no Brasil e até na Europa. Mas, por causa dos americanos, a paternidade do avião ainda é polêmica. Segundo eles, os verdadeiros "pais" do invento seriam os irmãos Orville e Willbur Wright, que em 1903 voaram com o Flyer I.

Os Wright fizeram seu avião voar com a ajuda de uma catapulta. Dumont foi o pioneiro da decolagem "autônoma": o 14 Bis subiu impulsionado por um motor a combustão.


09) DIRIGÍVEL SEMI-RÍGIDO
AUGUSTO SEVERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO - 1902

Trabalhando em Paris, esse brasileiro desenvolveu o projeto do primeiro dirigível "semi-rígido" - em vez de usar apenas tecido, parte da estrutura do invento tinha uma armação de metal para melhorar a sustentabilidade. Criatura e criador tiveram um fim trágico: no vôo inaugural, quando o dirigível estava a 400 metros de altura, uma explosão detonou o aeróstato e matou os dois tripulantes - Severo e seu mecânico.

Apesar de pouco conhecidas, as inovações estruturais do dirigível semi-rígido ajudaram a aperfeiçoar o zepelim, inventado em 1900.


08) ABREUGRAFIA
MANUEL DIAS DE ABREU - 1936

Esse nome complicado indica um método rápido e barato de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões, para facilitar o diagnóstico da tuberculose, doença mortal no início do século 20. O teste, que registra a imagem do tórax numa tela de raio X, espalhou-se pelo mundo.

O inventor do exame, Manuel de Abreu, foi indicado ao Nobel em 1950 e teve o invento batizado em sua homenagem. Mas só no Brasil: em outros países, o exame recebeu nomes como "schermografia" (Itália), "roentgenfotografia" (Alemanha) e "fotofluorografia" (França)...

07) BALÃO A AR QUENTE
BARTOLOMEU DE GUSMÃO - 1709

Na frente do rei de Portugal D. João VI, o padre Bartolomeu de Gusmão fez a primeira demonstração pública da Passarola, um engenho voador que levitou a 4 metros de altura. A idéia surgiu quando o religioso observou uma bolha de sabão e sacou que o ar quente
é mais leve que o ar exterior, e pode ser usado para fazer coisas vagar pelo ar.

O balão foi visto com graça, mas ninguém botou fé na invenção. Em 1783, os franceses Étienne e Joseph Montgolfier criaram um balão nos mesmos moldes
do Passarola. Entraram para a história como pioneiros...


06) ESCORREDOR DE ARROZ
BEATRIZ DE ANDRADE - 1959
Muitas vezes a gente pensa que coisas simples do dia-a-dia surgiram há muito tempo, quem sabe na Antiguidade ou até na Pré-História... Não é o caso da bacia conjugada a uma peneira que a gente usa para lavar o arroz: a criação, 100% brasileira, é da dona-de-casa Beatriz de Andrade, que vendeu os direitos do aparelho para um fabricante de brinquedos.

O invento fez o maior sucesso na Feira de Utilidades Domésticas de 1962. Como Beatriz recebia entre 2,5% e 10% das vendas, o escorredor deu uma bela força a seu orçamento familiar.

05) RADIOTRANSMISSÃO

ROBERTO LANDELL DE MOURA - 1899

Padre brasileiro, Landell foi o precursor na transferência de voz por ondas de rádio. Da avenida Paulista, o cara emitiu um som ("Alô! Alô!") que foi ouvido a 8 quilômetros de distância num telefone sem fio. No mesmo ano, o italiano Guglielmo Marconi, mundialmente considerado o pioneiro da radiotransmissão, só conseguiu transmitir sinais telegráficos (aquele "tec-tec-tec") a algumas centenas de metros.

O nome de Landell só foi conhecido no mundo em 1942, quando a Justiça americana decidiu que Marconi (que leva a fama até hoje) não era o inventor da radiotransmissão.


04) IDENTIFICADOR DE CHAMADAS (BINA)

NÉLIO NICOLAI - 1982

O mineiro Nélio Nicolai foi o inventor da tecnologia capaz de identificar o número telefônico de quem faz e recebe ligações. Ele tem a patente da criação, batizada de Bina - sigla que significa "B Identifica Número de A". Mesmo assim, ele vem travando uma briga na Justiça do Brasil e de vários países para provar que o invento é seu.

Ele alega que as operadoras e fabricantes de telefones copiaram na caradura a tecnologia que ele inventou, sem pagar nem um tostão de direitos autorais.


03) DIRIGÍVEL
JULIO CEZAR RIBEIRO DE SOUZA - 1880

O paraense Julio Cezar mandou bem unindo o balonismo e a aviação para conceber o primeiro dirigível de todos os tempos. Mas o problema é que ele demorou para dar asas à novidade... Em 1884, o cara recebeu a notícia de que os franceses Charles Renard e Arthur Krebs haviam plagiado o seu projeto e realizado pela primeira vez na história um vôo a bordo de um balão dirigível. E o pior: sem fazer qualquer referência às teorias do inventor brasileiro!

Apesar de ter patenteado sua invenção em 1881, Julio Cezar nunca conseguiu voar com seu invento. Foram algumas tentativas frustradas e só.


02) FOTOGRAFIA
HERCULES FLORENCE - 1832

Nascido na França e radicado na atual Campinas (SP), esse franco-brasileiro foi quem primeiro descobriu uma forma de gravar imagens com o uso da luz. Ele bolou um método para imprimir fotos usando papel sensibilizado com nitrato de prata - princípio fotográfico usado até hoje em revelações. Nascia a photografie.

Três anos depois, o processo de revelação fotoquímica ganhava notoriedade na França com as pesquisas de Louis Daguerre e Joseph Niépce. Ao saber que os franceses estavam sendo considerados os pais da fotografia, Florence abandonou as pesquisas.


01) MÁQUINA DE ESCREVER
FRANCISCO JOÃO DE AZEVEDO - 1861
A invenção do padre Azevedo parecia com um piano de 24 teclas que imprimiam letras num papel - para mudar de linha, era preciso pisar em um pedal na parte de baixo do aparelho. Alegando estar velho e doente, o padre entregou seu invento ao negociante George Napoleon Yost, com a promessa de que havia pessoas interessadas em fabricá-lo nos Estados Unidos. Péssima idéia...

Em 1874, o americano Christofer Sholes apresentou um modelo quase igual ao do padre Azevedo. A empresa Remington se interessou e passou a fabricar as máquinas, sem nem lembrar do brasileiro.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Minha pátria é minha língua?


Hoje recebi um e-mail interessante falando sobre os "novos verbos" incorporados à língua portuguesa. Sei que língua é algo vivo, que está sempre incorporando novas palavras, novas influências. A língua portuguesa que falamos hoje é completamente diferente da que os portugueses de 1500 falavam. Quanta evolução em apenas 500 anos.

Influências negras, indígenas, árabes... influências vindas de todos os continentes (como pude conferir lá no Museu da língua Portuguesa).

Mas, voltando ao e-mail que recebi hoje. Lembrei muito de uma amiga minha, a Rosana Tibúrcio (que sempre está por aqui lendo os posts) e da forma como ela me faz observar o uso correto da língua. Sorte a minha ter uma amiga assim, que me corrige e me orienta.

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Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma coisa, que eu não quero. Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações me disponibilizem. É uma questão de princípios. Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar, talvez eu venha a topar. Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu aceite. Mas, se você insistir em disponibilizar, nada feito.

Caso você esteja contando comigo para operacionalizar algo, vou dizendo desde já: pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para ninguém e nem compactuo com quem operacionalize. Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu ponho em operação. Se você pedir com jeitinho, eu até implemento, mas operacionalizar, jamais.

O quê? Você quer que eu agilize isso para você? Lamento, mas eu não sei agilizar nada. Nunca agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos agilizar. Precisando, eu apresso, eu priorizo, eu ponho na frente, eu dou um gás. Mas agilizar, desculpe, não posso, acho que matei essa aula.

Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador. Só por cima do meu cadáver virtual. Prefiro comprar um computador novo a reinicializar o antigo. Até porque eu desconfio que o problema não seja assim tão grave. Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de simplesmente reiniciar, e pronto.

Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de utilizar. Assim, sem mais nem menos. Eu sei, é uma atitude um tanto radical da minha parte, mas eu não utilizo mais nada. Tenho consciência de que a cada dia que passa mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu parei. Não utilizo mais. Agora só uso. E recomendo. Se você soubesse como é mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.

Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar".

Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". Todos os dias, os maus tradutores de livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram perfeitamente claras e eufônicas.

A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como vai admitir, digamos, "viabilizar"? É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um palavrão.

Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal inventabiliza só para complicabilizar. Caso contrário daqui a pouco nossos filhos vão pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações: "Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito que eu bem quilibiliser". Problema seu. Me inclua fora dessa.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Os apóstolos


Uma série de tiras em quadrinhos que fala sobre Jesus Cristo e os apóstolos? Para quem curte um humor repleto de acidez, vale a pena ler mais em "Os malvados" de André Dahmer.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Eu queria não te odiar...


Trilha sonora: "Simples desejo" da Luciana Mello. Aquela voz suingada dizendo "hoje eu só quero que o dia termine bem".

- Eu não quero ficar aqui. Não quero participar deste encontro...
- Por quê?
- Porque eu não quero odiá-la. E eu já sinto uma certa raiva corroendo minha alma.

Eu não queria sentir isso tudo. E acho que de tanto lutar contra esta raiva que insistia em ficar presa na minha alma tal qual tatuagem indesejada, o corpo reagiu com uma dor de cabeça violenta.

Eu não quero odiar ninguém. Mas tudo parece ser tão injusto... eu sempre tentei ser uma pessoa boa, sempre busquei tratar os outros como gostaria de ser tratado (como diz a "regra de ouro" de todas as religiões) e mesmo assim, tenho que enfrentar alguém que se declara contra mim.

Por que as pessoas encrencam justamente com aquelas que não querem mal nenhum? Não que eu seja um santo, mas não sou daqueles que parte para a guerra por conta de qualquer coisa.

E de repente, ouço que não sou bem-vindo e que minha presença é indesejável. Sinto um aperto no coração tão grande. E eu simplesmente não queria odiar estar pessoa. Mas é tão difícil...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Férias na praia


Desde que comecei a morar em Santos, minha visão sobre as férias de verão mudou completamente. Desta vez, minha ótica é de morador e não a de visitante. Muita gente invadindo a areia, filas gigantescas nos supermercados e padarias e som alto nas ruas (principalmente na avenida da praia).

E eu que curto um sossego e algum silêncio na areia para poder curtir a paisagem, acabo me refugiando dentro de casa. Ou vou para São Paulo... risos.

Nestas duas últimas semanas, estava em São Paulo. Cuidando de vários assuntos. E foi uma correria só. Mas foi aquela correria que não me deixou aproveitar o que curto mais: meus amigos e as opções culturais de Sampa. Estou cansado e só dando esta pausa para escrever. Daqui a pouco, volto ao trabalho.

Li um texto, dizem que foi escrito pelo Luís Fernando Veríssimo, que fala sobre as delícias da praia no verão. Divertido e bem irônico. risos.

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Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca. Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis.

Mas o principal ponto do verão é.... a praia! Ah, como é bela a praia. Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção. Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias. Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas. O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.

Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.

Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia. E as crianças? Ah, que gracinhas! Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem. As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo. Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra fincar o cabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé...

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar! Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo. Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.

Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa. A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha. Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!

Mas, claro, tudo tem seu lado bom. E à noite o sol vai embora. Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo. O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde creme de barbear até desinfetante de privada. As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece. Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família. Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Cultura inútil: Iwao Takamoto

Não sabia que ler obituários poderia ser tão informativo. risos. Desta vez, descobri que nesta última terça-feira (dia 09/janeiro) morreu Iwao Takamoto.

Quem foi Iwao Takamoto? Bem, ele foi responsável por povoar o mundo de muitas crianças (e alguns adultos) nos anos 80. O que foi que ele fez?

A notícia abaixo foi retirada do site Blog dos Quadrinhos.

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O criador do personagem Scooby-Doo, Iwao Takamoto, morreu de ataque cardíaco em Los Angeles, nos Estados Unidos. O falecimento foi na segunda-feira, mas só foi divulgado hoje. Ele estava com 81 anos.

Takamoto trabalhou em duas grandes empresas de animação. Foi assistente dos estúdios Disney logo após a Segunda Guerra Mundial. Desde 1961, atuava para a Hanna-Barbera, onde criou o medroso cachorro Scooby-Doo. Takamoto ocupava o cargo de vice-presidente de desenho criativo da empresa.

A morte dele ocorre menos de um mês depois da de Joseph Barbera, co-criador de desenhos clássicos, como Flintstones e Zé Colméia.

Nos quadrinhos, Scooby-Doo já passou por várias editoras. Atualmente, é publicado pela Panini.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Cultura inútil: Momofuku Ando

Você sabe quem é Momofuku Ando? Nem eu sabia até ler uma notícia de que ele faleceu nesta última sexta-feira (dia 05) aos 96 anos.

Pois bem, Momofuku Ando foi o inventor que forneceu a solução para todos os neófitos das artes culinárias e aos apressados de plantão que precisam de algo rápido para comer.

Ainda curioso para saber quem foi ele e o que ele inventou? É só ler a matéria abaixo que foi retirada da Folha Online.

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O inventor do macarrão instantâneo e fundador da Nissin Food Products, que produz o miojo no Brasil, morreu na última sexta-feira no Japão aos 96 anos após sofrer um ataque cardíaco.

Momofuku Ando teve a idéia de criar o macarrão instantâneo após a 2ª Guerra Mundial ao perceber que as pessoas passavam muitas horas na fila para comprar alimentos no mercado negro devido ao racionamento.

Ele fundou a Nissin e criou o "chicken ramen", um macarrão instantâneo que se tornou bastante popular no Japão em 1958.

Ando também inventou em 1971 o "cup noodle", um outro tipo de macarrão instantâneo em que água quente é despejada dentro do copo de plástico da embalagem e amolece antes de ser comido.

Devido aos preços baixos e ao fácil preparo, o "cup noodle" fez tanto sucesso que passou a ser vendido ao redor do mundo.

Ando permaneceu bastante ativo mesmo na velhice. No ano passado, ele apareceu na televisão para promover uma versão do "cup noodle" desenvolvido para alimentar os astronautas do ônibus espacial americano Discovery.

Costumava também fazer aparições públicas freqüentes, quando aproveitava para devorar os pratos que ele mesmo criou.

Ando nasceu em Taiwan em 1910, quando o país vivia sob ocupação japonesa. Já jovem, ele se mudou para o Japão e dirigiu várias empresas antes de se tornar o inventor de uma das mais populares comidas do mundo.

"Uma arte" de Elizabeth Bishop


Hoje li um poema da americana Elizabeth Bishop e fiquei fascinado com a delicadeza dos versos de "One art" (que coloco em versão livremente traduzida por mim logo abaixo).

Perder pode realmente parecer um desastre, mas faz parte do processo de amadurecimento. Deixamos para trás as brincadeiras de infância para provar dos frutos proibidos. Perdemos a inocência, a confiança (nos outros e às vezes até em si mesmo) por conta de decepções presentes. Mas aprendi que perder não é um desastre. Encontro muitas vezes uma força que me leva adiante. Perco a ilusão, ganho a realidade e um novo sonho.

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A arte de perder não é difícil de aprender;
tantas coisas parecem estar plenas desta intenção
de serem perdidas para que suas perdas não sejam um desastre.

Perca algo todos os dias. Aceite o fato
das chaves perdidas, das horas mal gastas.
A arte de perder não é difícil de aprender.

Então pratique... perder além, perder mais rápido:
lugares, e nomes, e até mesmo o seu destino
de viagem. Nenhuma destas perdas trará desastre algum.

Eu perdi o relógio da minha mãe. E veja! Meu último, ou
penúltimo, dos 3 lugares que mais amei se foram.
A arte de perder não é difícil de aprender.

Eu perdi 2 cidades que amei. E, alguns dos vastos
reinos que tive, dois rios, um continente.
Eu sinto saudades deles mas isso não é um desastre.

Mesmo o fato de te perder (a voz irônica, o gesto
que tanto amo), não posso mentir. É evidente
que a arte de perder não é tão difícil de se aprender
apesar de parecer na maior parte das vezes como um desastre.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Resoluções de ano novo

Decidi que vou criar o programa mais incrível da história da TV. E que serei mais líder de audiência que jogo do Brasil em Copa do Mundo e muito bem-vindo pela crítica. E decidi que, apesar disso, não vou fazer pose desconfortável para a Caras ou dizer para um programa de fofocas que "Fulano é um fofo" ou que "Beltrana é super querida".

Decidi que meu livro vai enfim sair do teclado e ganhar as prateleiras. Que vai conter diálogos mais elaborados que os de Aldous Huxley, mais espontâneos que os de J.D. Salinger, mais gozados que os da Bruna Surfistinha e, ao contrário dos escritos pelo Paulo Coelho, serão em português. E decidi que essa obra vai me dar o Nobel, além de uma cadeira extra colocada na ABL especialmente para mim. Na cabeceira, é lógico. E ainda serei o primeiro "imortal" a usar o fardão de verão, com direito a bermuda, mangas curtas e, claro, havaianas.

Decidi que durante minha entrevista no Letterman, responderei: "Hemingway who?". E para o Jô: "Com licença. Sou eu quem está falando". E para a Luciana Gimenez... não, melhor não ir na Luciana Gimenez.

Decidi que meus desenhos serão descobertos por um olheiro à Andy Warhol, e que os museus de todo o mundo retirarão os quadros do Lichtenstein das paredes para que dêem lugares aos meus.

Decidi reinventar todas as teorias a respeito de buracos-negros e provar cada uma delas, fazendo Stephen Hawking saltar de sua cadeira. Aliás, provar que o Stephen Hawking não precisa de uma cadeira vai me render um Pulitzer.

Decidi pensar novos pensamentos, daqueles que fariam Platão desejar sua caverna e Kierkergaard repensar seu "conceito de ironia".

Decidi que vou ganhar a Medalha Fields, apesar de minhas semelhanças com John Nash se limitarem a ver o que (ou quem) não está lá (ah! e Báskara não é uma dessas pessoas).

Decidi que, financeiramente, vou bater Bill Gates. E com esse dinheiro, farei coisas mais excêntricas que apenas inserir joguinhos secretos nas planilhas do Excel. Ou seja, decidi que vão me oferecer uma casa em Tahiti Beach em troca da minha participação em um dos episódios de "Life of Luxury". Que as festas que vou promover nela, com Pixies ao vivo e Tiësto e Paul Van Dyk estapeando-se pelo controle das mesas, serão mais concorridas que as do Hugh Hefner, dispersando sua criação de coelhas.

Mas apesar dessa casa, decidi que Zaha Hadid vai se oferecer para projetar outra para mim. E que vou aceitar.

Decidi que graças a um curso de teatro vou ser contratado para a próxima franquia de sucesso: acima de todos os James Bond, Indiana Jones e Harry Potters que estão por aí. Decidi que, como escritor vencedor do Nobel, vou dar palpites no roteiro e tornar o filme de estréia o mais cotado para o Oscar. E que Charlie Kaufman vai me pedir uma dica ou outra para o seu próprio. Com isso vou ganhar as estatuetas de Melhor Ator e, claro, Roteirista (se bem que essas, só na cerimônia de 2008).

Ah, claro: minha campanha para o lançamento do blockbuster receberá um Leão de Titânio em Cannes.

Decidi que vou descobrir o moto-contínuo, a cura do câncer, da AIDS e a solução para acabar com a fome na África, no Brasil e onde mais houver. Que um de meus discursos selará a paz entre judeus. Entre gregos e troianos. Entre Courtney Love, Chris Novoselic e Dave Grohl.

Decidi que vou começar um negócio numa área inovadora, nunca imaginada, que vai fazer o YouTube parecer artesanato hippie. E se você não faz ideia do que estou falando, é sinal de que estou no caminho certo.

Enfim... não sei o que você decidiu fazer em 2007, mas ao que parece, ser meu amigo pode ser uma grande idéia.

Feliz Ano Novo!!! E mesmo que você saiba que não vai poder realizar tudo que deseja em 2007, pelo menos tome as decisões corretas.

(Texto retirado do site Kibeloco)

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Brincadeirinhas a parte. Quero poucas coisas para 2007. Quero dar um abraço real em todos os meus amigos virtuais, quero reencontrar amigos reais que não vejo a muito tempo, quero terminar minha formação em coaching, quero começar uma pós-graduação em jornalismo institucional e em endomarketing. Quero incrementar minha carreira profissional, quero seguir feliz em meu relacionamento, quero viajar para o Aconcágua e para o Atacama. Quero é correr atrás dos meus desejos e da minha felicidade. Porque parado, ela simplesmente não vai cair no meu colo. ;-)

segunda-feira, janeiro 01, 2007

2007: mais um recomeço

Não entendo quem foi que começou esta tradição de dividir a felicidade em porções de 365 dias. Todo reveillon sinto aquela alegria generalizada, como se todos estivessem compulsoriamente celebrando algo que deveria ser celebrado todos os dias: o tempo de se estar vivo.

De qualquer forma, mais uma transição. Mais um ano que termina e mais um ano que se inicia. Adeus 2006, bem-vindo 2007. Na virada do ano, estava ali na praia. Junto com alguns amigos, isolado do restante do pessoal da areia porque decidimos ficar em cima da mureta do canal.

Sensação gostosa de se estar cercado de água, sobre uma mureta de 70 cm. Seria este um presságio de que 2007 será um ano de equilíbrio? risos. Comi lentilhas não por conta de superstição alguma, mas apenas pelo fato de ser o que tinha para se comer. Da mesma forma que comi uvas e cerejas e lombo. E pouco antes da meia-noite, estava já abrindo uma garrafa de Moët Chandon com minhas amigas enquanto aguardávamos os fogos.

Segundo o jornal, Santos teve a maior queima de fogos do Brasil (cerca de 26 toneladas de fogos, distribuídos em 7 barcas). Curti o espetáculo no céu e acho que cheiro de pólvora é um dos que ficará na minha memória afetiva de reveillóns.

A celebração e a alegria foram companhias durante a primeira madrugada de 2007. E seguimos nela até às 6h00. Difícil foi acordar às 10h00 para nos prepararmos para o restante do dia.

Minhas amigas, que vieram passar o reveillon comigo em Santos, iriam voltar ainda antes do almoço para São Paulo. De repente, um telefonema e tudo muda. Após o café da manhã, estávamos já na casa da Dona Enilce (uma das mais conhecidas banqueteiras daqui de Santos e mãe de uma grande amiga minha) apenas para conversar.

E o que era para ser uma simples conversa, se transformou num almoço regado a pratos divinos e sobremesas fantásticas. Aff... só sei que depois disso tudo, desta comilança de Natal e reveillón, preciso urgentemente começar uma dieta e voltar a ginástica.

O primeiro dia de 2007 foi marcado por boas surpresas, companhia de bons amigos e aquele cansaço gostoso (onde o corpo pede uma cama e a mente se sente satisfeita por ter feito coisas legais). Amanhã tem mais... assim como todos os outros dias.

A felicidade não bate a nossa porta se a gente não vai atrás. Então, eu estou indo atrás da minha.