segunda-feira, dezembro 24, 2007

Sentimentos confusos


Tanto tempo sem vir para cá... e tanta coisa acontecendo. Poderia falar do final de semana que recebi meu amigo artista plástico em Santos. E de como invejei, de certa forma, o jeito meio criança dele. Engraçado ver na atitude do outro o quanto talvez a gente tenha perdido do nosso olhar desatento e curioso no mundo. Saudades do tempo em que tudo era descoberta.

Poderia falar também da viagem que fiz recentemente. De marreco recheado, de hotéis vagabundos próximo de rodoviárias, de horas de sono dentro de um carro parado num posto de gasolina, de um lago ao lado de um museu que convidava para uma tarde preguiçosa, de uma lua-de-mel improvisada...

Poderia falar de ansiedade e de amor, de decepção e de amor, de saudades e de amor, de sofrimento e de amor... aliás, por que será que amor combina com estas palavras?

Poderia falar de "Tropa de elite" e pesadelos com alguém gritando no meio da noite "Pede pra sair" ou de "A maldição da flor dourada" do Zhang Yimou.

Poderia falar de como eu não entendo pessoas que dizem que te amam e que não demonstram a mínima vontade de estar com você quando você propõe algo para fazer juntos. Onde todas as palavras parecem desculpas e tudo parece inútil.

Poderia falar de tanta coisa... mas agora é véspera de Natal. Minha família está lá na sala esperando eu descer com um sorriso estampado no rosto. Pelo menos a eles não quero decepcionar...

sábado, dezembro 15, 2007

Renato Russo: a peça


Sempre curti as letras das músicas da Legião Urbana. Cazuza e Renato Russo estão entre os que sabem me traduzir. Sentimentos são universais? Acho que sim... senão, como poderiam pessoas que nunca me conheceram me dizer tão bem em letras de músicas?

Quando meu amigo Cláudio disse que estava comprando ingressos para a peça "Renato Russo", não pensei muito. Fui correndo comprar os ingressos. E o destino estava a meu favor: ainda tinham ingressos a venda e soube que no dia seguinte, já estavam esgotados.

Como posso explicar o clima que rolou na peça... Aquilo não era uma peça. Parecia um show, com todos cantando juntos as músicas. E o Renato Russo encarnado por Bruce Gomlevsky era o cantor contando histórias de sua vida para a platéia.

Chorei em muitos momentos. Com o coração apertado ao ouvir ele se despedindo dos amigos, dos pais e do filho. Aos soluços enquanto ele se revoltava com o fato de ter de ficar na cadeira de rodas. Com um sorriso cúmplice quando ele contava sobre como conheceu o namorado.

Mas tudo era tão bem pontuado com as canções que a única coisa que se podia fazer era se entregar e cantar junto. Show disfarçado de peça, peça multimídia com música e imagens projetadas... enfim, chamem do que quiser, mas não percam.

Tão bom...


Tão bom descobrir que se pode confiar em alguém... e melhor ainda descobrir que este alguém também passou a confiar em você.

Mais do palavras, as atitudes gritam muito mais. E neste encontro de almas que se confiam uma a outra, espero seguir sempre em eternas descobertas.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O trem-fantasma




Há coisas que chamam a minha atenção e eu, curioso convicto fico criando expectativas para ver. Depois, vem a dúvida: será que a coisa toda era ruim ou era eu quem estava esperando demais? Num destes meus flertes com a arte, fui conferir "O trem fantasma".

O folder dizia que era uma "play-opera-land". O que isso quer dizer? Não faço a mínima idéia. Bem, o espetáculo tinha de tudo: bonecos gigantes com imagens sendo projetadas na barriga, uma anã que ficava lendo a sorte das pessoas, um palco giratório que parecia um carrossel e que misturava cantores de ópera, uma réplica da casa de Wagner em Bayreuth e um velhinho cantando música punk em alemão.

Depois, vamos ao trem fantasma, passamos perto de cenários remetendo a terras infernais. Na saída, quando achava que tudo tinha acabado, passa ao meu lado uma bateria de escola de samba com uma mulata sambando e se esfregando nas minhas costas. Informação demais para minha cabeça... E a obra de arte total, misturandoteatro, música, artes visuais e dança, ficou na incompreensão.

Edith Piaf :: La môme


Bem, depois de muito postergar, consegui enfim assistir a cinebiografia dacantora francesa Edith Piaf. O filme, como tantas outras cinebiografias, enfatiza todo um vendaval de desgraças e abuso de drogas e paixões. Parecia que estava vendo a mesma estrutura do filme "Ray" e de "Johnny e June".

Edith Piaf também viveu desgraças mil... foi criada num bordel, abandonada pela mãe que sonhava com uma carreira de cantora, teve relações com o submundo e usou e abusou das drogas.

No filme, quando ela dizia ter 44 anos aparentava uns 80. Mas o melhor dofilme foi mesmo a trilha sonora... La vie en rose, Hymme a l'amour e Je ne regrette rien estão entre as pérolas pinçadas.

Fico só imaginando aintensidade destas vidas. Será que a vida destes artistas famosos érealmente tão intensa ou são vidas editadas em celulóide que destacamapenas as desgraças e as paixões? Sobre o filme... curti tê-lo conferido.

Está longe de ser um filme magistral. É um filme bom e merece ser visto. Para quem for, preste atenção na trilha sonora.

sábado, dezembro 01, 2007

Gilberto Freyre no Museu da Língua Portuguesa


Nesta semana foi aberta a nova exposição no Museu da Língua Portuguesa. Depois do sucesso das exposições sobre o universo de "Grande sertão:veredas" de Guimarães Rosa e de "A hora da estrela" de Clarice Lispector, o escolhido da vez foi o polêmico Gilberto Freyre.

Mas por que um sociólogo num espaço destinado a literatura e às manifestações da língua portuguesa? Simplesmente porque "Casa grande e senzala" disseca muito a alma do povo brasileiro. Este mesmo povo que, apesar das diferenças regionais, se mantém unido pela língua portuguesa.

A abertura foi muito interessante. Nada de prosecco nem canapés repletos de estrangeirismos. O clima era de puro amálgama: caipirinha de frutas bem brasileiras (pitanga, carambola, caju) e pratos com toques nordestinos (trouxinhas de palmito pupunha, bobó de camarão, caldinho de feijão, cuscuz e escaldado de siri).

A exposição vasculha o universo de Gilberto Freyre através de suas obras. Vi a casa partida, fazendo muitas referências a "Casa grande e senzala", vi microondas e geladeiras e uma dispensa cheia de latas com receitas e falando sobre a importância da culinária (referência direta a obra "Assucar". Vi um canavial infinito dentro de um armário, vi nossa sombra se tripartir em cores distintas para mostrar que somos um povo repleto de matizes.

E vi também a obra que ilustra este post (do artista plástico Cícero Dias) e que ilustrava "Casa grande e senzala". Saí da exposição querendo ler mais de Gilberto Freyre.

Sobre a arte contemporânea: prêmio Sérgio Motta, IAC e Superflex



Superdose de arte contemporânea... Um dos lados divertidos do meu trabalho é tentar entender um pouco mais desta faceta da arte.


Para mim, arte contemporânea é algo incompreensível. E também hermético. A compreensão da obra ultrapassa aquilo que é visível e adentra no próprio processo de criação. Isso é válido. Sim, super-válido. Mas fico sempre com a impressão de que a arte contemporânea acaba sendo feita para impressionar os intelectuais de plantão.


No domingo passado fui a entrega do prêmio Sérgio Motta. O que o ex-ministro das telecomunicações, responsável pela privatização das teles tem a ver com arte e tecnologia? Também não entendi muito bem, apesar da viúva dele tentar fazer uma ligação no discurso de abertura.





Na apresentação dos premiados, houve também um espetáculo multimídia. Algo meio estranho que envolvia participação de muitas pessoas da platéia, uma bailarina executando movimentos de dança moderna, uma tuba, uma parede de gelo, um cara com lança-chamas, realejos pendurados e imagens que eram projetadas.


Se eu entendi alguma coisa? Não. Se eu senti alguma coisa? Também não. Na verdade, houve um momento em que estava tão entediado com aquilo que fiquei conversando com meu amigo. E de repente, o espetáculo terminou. O comentário dele: "Pelo menos terminou no tempo certo".




Na terça-feira, foi a vez de ir a dois eventos: a abertura do IAC - Instituto de Arte Contemporânea e uma vernissage na galeria Vermelho.



O IAC fica num prédio histórico, na USP da rua Maria Antônia. Projeto interessante do Paulo Mendes da Rocha. Exposição cheia de nomes consagrados: Amilcar de Castro dialogando com Tunga, Mira Schendel pertinho de Alfredo Volpi.



Muita pose e pouca simpatia. Sabe aquilo que falam sobre a postura blasè? Lá descobri o que é estar cercado disso. Uma turma que faz coisas para impressionar os outros da mesma turma, que vão admirar e criticar e fazer disputas sobre quem fará a coisa mais delirante ou quem dirá a coisa mais criativa.



Acho isso tudo muito estranho... quase uma masturbação intelectual. Gente falando de Merleau-Ponty enquanto degusta um pouco de queijo brie com geléia acompanhado de prosecco.


De lá, fomos (eu e meu amigo artista plástico, que com certeza ficou muuuuuito chateado comigo por conta das minhas opiniões) para a vernissage na Galeria Vermelho.



O clima ali era totalmente diferente. Gente jovem, gente descolada, gente se divertindo. A exposição principal era do grupo suiço Superflex. Este grupo já tinha causado certo burburinho na Bienal ao pregar o livre acesso a informação e ao defender o copy-left (oposto ao copyright). O direito autoral pode destruir a cultura colaborativa? Este é o mote principal da discussão.

E a forma de suscitar esta discussão, foi através do projeto Free Beer. Foi desenvolvida uma fórmula de cerveja que é aberta para todos fabricarem. E esta é a obra de arte. O clima na abertura era de festa. Muita cerveja e muita gente brincando nas propostas lúdicas do Superflex.

Arte contemporânea? Pode ser hermética, pode ser divertida... no final das contas, melhor não tentar entender.


domingo, novembro 25, 2007

Curtindo o feriado

E neste último feriado, Dia da Consciência Negra (dia 20 de novembro), tive uma folga. Aproveitei e fui curtir um pouco de sol e esvaziar a cabeça das coisas de Sampa.

Fui parar no Hopi Hari junto com a minha irmã, a amiga dele e um amigo meu. O céu nublado de Sampa deu lugar ao sol escaldante em Vinhedo. E lá naquele mundo fake, desfilamos entre pirâmides egípcias, castelos de contos-de-fadas, circo, a torre Eiffel e um hotel-fantasma no Velho Oeste.

Muitos gritos, muitas risadas e aquele cansaço gostoso no final do dia após liberar tanta adrenalina. Vontade de curtir mais os próximos feriados...

Jogo de cena

Eduardo Coutinho é quase uma unanimidade no cinema brasileiro. Um dos melhores documentaristas da Terra Brasilis. Dificilmente ouço alguém falando em tom de desapontamento de qualquer trabalho dele. Dos que assisti, curti muito todos.

"Babilônia 2000" e "Edifício Master" são filmes que todos deveriam colocar na lista para assistir em algum momento.

Fui conferir "Jogo de cena", o mais novo filme dele. Eu achando que não iria ficar muito surpreso com o que veria, saí da sala mordendo a língua. O filme flerta no limite entre a ficção e a não-ficção, trata de metalinguagem, fala sobre o trabalho do ator, fala de histórias reais.

Tudo começa com um anúncio do diretor: "Procura-se mulher acima de 18 anos para contar uma história real". Ou algo semelhante. E as mulheres aparecem. E contam suas histórias deliciosamente privadas para as lentes da câmera.

No meio disso tudo, há alguns cortes e uma atriz conhecida começa a contar a mesma história que estava sendo contada. Sim, o diretor fez um trabalho coletando histórias reais e colocou depois, atrizes interpretando estas mesmas histórias. Fernanda Torres, Andréia Beltrão, Marília Pêra... todas desfilam seu talento diante das histórias reais das mulheres recrutadas por Coutinho.

Um jogo que mescla realidade e interpretação. O que é real? O que é falso? E isso me faz lembrar "Autopsicografia" do Fernando Pessoa:

"O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente."

O limite entre o real e a interpretação (o fingimento) é tão tênue. As atrizes falam da dificuldade de entrar naquela personagem que não era mais personagem e sim, pessoa. O diretor desfia histórias e traz boas reflexões. Imperdível!

sábado, novembro 17, 2007

Você não me ensinou a te esquecer



Nos momentos em que não sinto inspiração alguma para escrever algo, vou buscar o que meus caros amigos tem a dizer. E navegando no Leoboratorio, encontrei este vídeo cujo mote é "I'm not gonna think about her" (traduzindo: "eu não vou pensar nela").

Só que o que se percebe é que quanto mais a gente tenta esquecer, mais nos lembramos. No esforço de não querer mais lembrar de algo, os detalhes surgem cada vez mais nítidos.

Já pensou em dizer para alguém "Não pense no porquinho voador"? Adivinha no que foi que a pessoa pensou? Isso mesmo... foi pensar no porquinho voador.

Dizer o que não devemos fazer é o mesmo que dizer o que fazer. Então, como escapar disso tudo? Alguém me diz como faço para esquecer coisas que estão machucando meu coração, minha alma e minha mente?

quinta-feira, novembro 15, 2007

Juntando músicas


Como vai você? Eu preciso saber da sua vida... peço a alguém para me contar sobre o seu dia. Anoiteceu e eu preciso só saber como vai você. Que já modificou a minha vida. Razão da minha paz tão esquecida. Nem sei se gosto mais de mim ou de você.

Vem que a sede de te amar me faz melhor, eu quero amanhecer ao seu redor... preciso tanto me fazer feliz. Vem... que o tempo pode afastar nós dois. Não deixe tanta vida pra depois. Eu só preciso saber como vai você.

Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci. Você foi dos amores que eu tive, o mais complicado e o mais simples pra mim. Você foi o melhor dos meus erros, a mais estranha história que alguém já escreveu. E é por esta e outras que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez.

Você foi a mentira sincera, brincadeira mais séria que me aconteceu. Você foi o caso mais antigo, o amor mais amigo que me apareceu. Das lembranças que eu trago na vida, você é a saudade que eu gosto de ter. Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.

Mas não tem revolta não, eu só quero que você se encontre. Ter saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio. A esperança é um dom que eu tenho em mim. Eu tenho sim... não tem desespero não, você me ensinou milhões de coisas. Tenho um sonho em minhas mãos. Amanhã será um novo dia. Certamente eu vou ser mais feliz...

segunda-feira, novembro 12, 2007

Feria Kantuta


Sumido... sim, ando muuuuito sumido daqui deste meu cantinho virtual. Mas a vida anda intensa aqui no mundo real e acabo não tendo tanto tempo para sentar diante do computador e digitar algumas linhas.

Quer dizer, faço isso no trabalho... mas lá nem pensar em escrever no blog. Rola um Net Filter básico ali.

A flor aí da foto é a Kantuta. E é a flor-símbolo da Bolívia porque tem as cores da bandeira daquele país. Além disso, Kantuta é o nome da feira que acontece todos os domingos em São Paulo. Uma feira de preservação de hábitos folclóricos dos imigrantes bolivianos presentes neste caldeirão étnico que é Sampa.

Adoro esta cidade por conta disso...

A feira é uma festa de sabores e odores diferentes. Comece nas barracas de empanadas e salteñas.
Experimentem a de carne de porco com milho branco boliviano (sim, porque lá na cultura andina, descobre-se que há grãos de milho de várias cores... do preto ao branco, passando pelo roxo e o amarelo).

Para acompanhar, um suco de pêssego... só que pasmem. O suco é de uma cor escura e tem um pêssego desidratado no fundo do copo. Para quem quiser arriscar, um suco de amendoim também é uma opção interessante.

O suco de linhaça é exótico e eu, particularmente, não gostei muito. Depois, provei um pouco de api, uma espécie de suco de milho roxo que se bebe quente. Dizem que é o café da manhã típico dos bolivianos.

Meu companheiro nestas descobertas gastronômicas foi o Júlio. E só sei que isso foi garantia de muita diversão. O jeito exagerado dele é muito engraçado... mas, também o que esperar de um artista plástico que entra no salão negro do Senado com uma jibóia em pleno Renangate?

Enfim, depois um biscoitinho de milho, depois um frango ao forno com muito tempero diferente, depois uma sopa de amendoim, depois um chocolate boliviano (que para mim parecia um torrão de açúcar com cacau)... um pouco de Inca Cola (imaginem um refrigerante amarelo... parecia um Epocler gaseificado) e para arrematar tudo, um chá digestivo de coca.

Eu só sei que depois de tudo isso, percebi que ainda tenho muito o que descobrir nesta cidade...

sábado, outubro 27, 2007

Brand upon the brain



Justamente neste ano, resolvi desencanar um pouco da Mostra Internacional de Cinema. E justamente neste ano, conseguir os ingressos para aquilo que me propus assistir surgiu de forma menos dramática que em anos anteriores.

"Lady Chatterley" foi assim. Cheguei em cima da hora, com o filme já começando e consegui ingressos. Em anos anteriores, ingressos só com muito planejamento antecipado e filas na bilheteria logo na abertura ou ingressos comprados na internet com um overprice.

Desta vez, fui conferir a sessão-espetáculo "Brand upon the brain". Comentei com alguns amigos o que eu iria assistir e muita gente nem se animou a ir comigo. Só o meu amigo artista plástico é quem se arriscou a ir comigo.

O filme é uma espécie de resgate da magia dos primórdios do cinema. Tanto é que na abertura da sessão, o diretor anunciou: "Vamos exumar os mortos".

Um filme em preto e branco e mudo. Nada muito atraente. Mas o resgate vinha na presença de uma orquestra para fazer a trilha sonora, uma equipe canadense de sonoplastas para executar os efeitos sonoros, um castrato cantando em alguns trechos e a Marília Gabriela como narradora.

Roteiro do filme totalmente Z. Algo do tipo homem-que-relembra-sua-infância-ao-revisitar-o-farol-e-descobre-que-
seus-pais-realizam-experiências-com-os-órfãos-da-ilha.

O filme vale mais pelo espetáculo em si do que pelo próprio filme. Valeu a experiência...

segunda-feira, outubro 22, 2007

Lady Chatterley


Tenho deixado de dormir para poder fazer tanta coisa que desejo fazer... Será que o corpo cobrará o preço em algum momento? Bem, ir dormir todos os dias da semana passada às 2h00 para acordar às 6h00 tem algo quase masoquista.

Será que uma hora eu redescubro que o prazer de uma boa noite de sono é maior do que o prazer que tenho fazendo tudo o que tenho feito?

Neste domingo, minhas horas de sono foram roubadas pelo meu desejo de ir conferir um filme na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

No domingo, acordei cedo para colocar leituras em dia, ler e-mails, escrever algo neste cantinho virtual, almoçar com a família, ir encontrar amigos numa happy hour e enfim, ir ao cinema conferir um filme da Mostra Internacional.

Surpresa... o filme durava quase 3 horas. Quando vi, já passava da meia-noite e eu ainda estava ali na sala do cinema conferindo "Lady Chatterley", filme dirigido por um francês e baseado no polêmico livro do inglês D. H. Lawrence.

A história é simples... fala sobre a descoberta de si e do prazer, fala sobre a descoberta do sentimento de amor e sobre os conflitos de posições distintas. Lady Chatterley trata com delicadeza sobre todos estes assuntos ao falar de uma aristocrata inglesa casada com um ex-combatente de guerra paraplégico.

Lady Chatterley redescobre o desejo ao ver o guarda-caça da propriedade se banhando. Redescobre o prazer, redescobre o próprio sentimento de amor através de um início de luxúria. Quem disse que sexo não pode também revelar amor?

Apesar de longo, o filme tem o ritmo adequado para se mergulhar na alma de cada um dos personagens. Seja Lady Chatterley, seja Parkin, o guarda-caça que nesta transformação consegue superar a rudeza e expressar seus sentimentos.

domingo, outubro 21, 2007

Medos privados em lugares públicos


Depois de algum tempo sem ir ao cinema, resolvi novamente resgatar este hábito. E melhor ainda quando depois de tanto tempo, você ainda se depara com um filme inteligente e delicado.

"Medos privados em lugares públicos" é um filme tipicamente francês. Humor baseado em situações, personagens bem construídos. Sabine Azéma está fantástica no papel da secretária-boa-samaritana-com-algo-meio-sexualmente-perverso.

O filme tem um toque melancólico ao tratar das relações amorosas num mundo em que sexo e imediatismo parecem ser mais presentes. O que temos por aqui? Neste sentido, o filme parece um pouco pessimista porque não fornece lições de elevação moral e muito menos um sentido para a vida.

O filme é uma questão em aberto do início ao fim. E é isto que me fascina nos filmes europeus. Eles nunca dão a resposta. Trazem sempre muito mais questões. Por isso, para quem não tiver preguiça de pensar, vale a pena conferir este filme do Alain Resnais.

A Escola da Ponte: uma utopia realizada

O evento era uma palestra... uma entre muitas de um ciclo sobre arte-educação. Cheguei cedinho porque sabia que a palestra seria concorridíssima. Afinal o sumo-pontífice da experiência da Escola da Ponte era o convidado.

José Pacheco estava ali quietinho num canto. Usando sandálias de tiras e um figurino despojado. Estrábico, magro e baixo... mas ali estava uma força e um carisma imensos que preenchiam todo o espaço do palco, do auditório, do coração das mais de 300 pessoas presentes. Eu que nunca quis ter ídolos, de repente me vi fã daquele educador.

Apenas dizendo em poucas palavras o que é a Escola da Ponte. Na Vila das Aves, uma área periférica numa cidade portuguesa, está sendo conduzida uma experiência educacional há mais de 30 anos. Não há salas de aula separando as disciplinas nem os alunos. Alunos de todas as idades sentam-se em mesas coletivas e trabalham em projetos de pesquisa. Não há séries, não há aulas pré-organizadas, não há um currículo de ensino estruturado.

Mas mais do que tentar descrever a experiência, o melhor é pinçar algumas das idéias apresentadas no discurso do José Pacheco.


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"Outro dia perguntaram para mim em Brasília: Como melhorar o sistema de educação no Brasil? A resposta mais fácil é: Extingua o ministério da Educação."

A tentativa de massificar o ensino vem com o discurso da eficiência, mas até onde com isso, a escola está desempenhando o papel de uma escola?


"Os jovens confundem a linguagem da liberdade com libertinagem".

Deixar os jovens livres para decidir os próprios rumos da aprendizagem não significa caos e muito menos de falta de regras.

"A aprendizagem não está no aluno nem no professor, está na relação."

"Não há nenhum projeto neutro. Assim como não há afeto neutro".

"Autonomia é quando todos são co-participantes. Cada um é responsabilizado pelo ato coletivo. Um por todos, todos por um. Responsáveis, somos todos."

"Heterogeneidade é que é fator de aprendizagem".

"Estar dentro do sistema para usar o sistema contra ele mesmo".

"A violência é um ato de saúde mental".

sábado, outubro 20, 2007

Ainda nas repercussões sobre uma obra de arte...


Juro que não entendo muito de arte contemporânea. Mas, convivendo com um amigo artista plástico, a gente vai aprendendo alguma coisa... Pois bem, lembram que eu tinha mencionado sobre uma obra de arte polêmica envolvendo este meu amigo, uma cobra e o Senado?

Isso continua rendendo assunto... desta vez, li uma crônica no Globo online no blog do Sérgio Fadul. Curti bastante e deixo-a aqui para vocês.

Na próxima, escrevo com mais calma sobre editais de arte, "Medos privados em lugares públicos", conversas sérias e amor pra recomeçar.

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Vejam só quem visitou o Senado Federal na terça-feira, dia 9, quando aconteceu aquela já famosa sessão onde os senadores voltaram a bater boca pedindo a Renan Calheiros que deixasse a presidência da casa. Pelo jeitão da visitante ilustre, ela parece não ter estranhado o ambiente. Ficou tão feliz que até fez pose para as lentes de Roberto Stuckert Filho.

A visitante foi acompanhada do artista plástico Júlio Meiron que escapou de ter o mandato cassado em rito sumário pela polícia legislativa do Senado graças à intervenção salvadora do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Na foto abaixo dá para ver ele ao fundo tomando o depoimento do artista. Júlio participa de uma mostra de artistas brasileiros no Salão Negro do Senado. Já havia exposto uma casinha com pele de cobra, mas resolveu passar da ficção para a realidade e pôr dentro da obra uma jibóia viva para, segundo ele, " representar o momento que o Senado vive", um serpentário.


A cobra chegou a bordo de uma bolsa. Quis logo montar seu cafofo por ali e arrumou uma casinha de acrílico feita pelo artista com ampla vista para a vizinhança. Quando os seguranças perceberam que aquela cobra não era dali, mandaram (no Senado ninguém pede, lá todo mundo manda) que Júlio retirasse a jibóia e a levasse embora. Ele recusou. A alegação foi que ela não quebrara o decoro, exigia ampla defesa e negava a existência de qualquer prova contra ela. Os seguranças insistiram, mas não se animaram a pegar o bicho e resolveram prender o artista. O senador Suplicy chegou na hora e convenceu que o animal tinha certificado do Ibama. É cada coisa que acontece nesse Congresso e quase ninguém vê. Dois dias depois de ser o anfitrião da excelentíssima, Renan Calheiros resolver de forma "unilateral", nas palavras dele, se afastar do cargo.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Crazy, crazy, crazy...


Semana estranha... cheia de acontecimentos repentinos e estranhos. Coração de mãe é sempre generoso e dizem que as mães são seres abnegados. Então, quando um probleminha no coração de mãe aponta, a gente sempre se preocupa.

No trabalho, algumas coisas legais outras meio constrangedoras. Momento-king Kong: uma colega de trabalho fez um pedido de namoro no meio da sala em que trabalho e com todos os colegas de departamento olhando.

Vontade de me esconder. E o pior é ter que responder ainda de forma delicada (que não foi o que aconteceu).

E depois de tudo isso, o que eu mais queria era ficar escondidinho. Mas eis que Murphy existe. E bem no meio de um evento lá no Memorial do Imigrante, o secretário vem justamente em direção de quem?

Sim, na minha direção. E ainda me puxa para acompanhá-lo para inaugurar a exposição com todas as câmeras filmando.

Hoje descobri que aquele meu amigo escultor causou polêmica com a obra que expôs no Senado. A escultura era uma casa de acrílico e, no dia da abertura da exposição (ontem), ele colocou uma jibóia dentro da casa.

Talvez por conta do momento atual, as sensibilidades afloraram e ele apareceu em cadeia nacional sendo confrontado pelos seguranças. Bem... se associaram a cobra com alguma pessoa em específico lá do Senado, isso é de cada um. Afinal, obras de arte são abertas e devem ser interpretadas livremente. rsrs.

Goodbye, Laika


Quando ela chegou, meu irmão tinha apenas 2 anos. E a diferença de idade entre ele e eu ou mesmo entre ele e a minha irmã parecia sempre ser um obstáculo para as brincadeiras.

Por isso, minha mãe resolveu pegar mais um integrante para a família. E foi assim que veio a Laika. Vira-lata genuína, mestiça de um husky siberiano com uma vira-lata. Saiu algo assemelhado com uma raposa. Pelagem castanho-clara e porte de um husky menorzinho.

E ela era a companhia constante do meu irmão. Corria e brincava o tempo todo com ele. E é claro que também conquistou a todos da família com aquele afeto incondicional.

Neste ano, ela completou 19 anos. Mas já estava com a saúde bem debilitada. Durante algum tempo até discutíamos sobre o que seria melhor para ela: mantê-la viva ou abreviar-lhe a vida? Ela já estava cega e nos últimos meses, mal se mantinha em pé. Minha mãe ficava em dúvida, mas sempre dizia que apesar de tudo, ela não se sentia no direito de decidir sobre a vida da Laika.

Sexta-feira passada, ela se deitou. Teve uma convulsão e o coração dela já fraquinho não aguentou. Partiu deixando uma sensação confusa na gente: um certo alívio porque ao menos não a veríamos mais sofrendo e uma tristeza ao lembrarmos de trechos da vida em família na qual ela sempre esteve presente.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Saudades

Saudades do sorriso. Saudades da voz. Saudades daquele calor que vibra para fora. Saudades... saudades...

Confusões

Alguém pode explicar para mim o porquê da vida colocar confusões no seu caminho quando você quer mais é esclarecimentos?

Será que sou eu quem confude tudo ou será que são os outros que me confundem?

A correria nossa de cada dia...


Há tanta coisa para dizer, mas o tempo tem sido escasso. Acho que no fundo, no fundo, acabei me tornando um viciado neste padrões de várias atividades a se fazer em pouco tempo.

Vamos ver... neste meio tempo fui conferir uma performance do inglês Peter Greenaway ao ar livre pertinho da avenida Paulista. A performance era um filme que mesclava partes de outros três filmes, mas isso era feito ao vivo pelo diretor. O resultado foi "Life in suitcases: Tulser Luper story".

No dia seguinte, imaginei que fosse descansar. Ledo engano. Fui convidado para acompanhar um amigo para a abertura do Vídeo Brasil lá no SESC Paulista. O mais interessante nem foi a abertura, o evento em si. O mais interessante foi a performance que este meu amigo, artista plástico, resolveu fazer.

No meio de todas aquelas pessoas "descoladas", ele resolveu fazer uma homenagem a Joseph Beuys. E o que ele fez? Desfilou entre os convidados com uma jibóia pendurada no pescoço e com os lábios lambuzados de mel.

Coisa mais louca, não? Mas foi divertido ver as reações das pessoas. E é claro que a adrenalina foi para o alto quando quase fomos expulsos de lá pelo segurança.

O restante da semana foi marcado por projetos, reuniões, aulas, encontros com amigos, tentativas de ir a shows e um chá de hortelã fresca muito bom.

sábado, setembro 22, 2007

Os 5 estágios de Kubler-Ross

Abaixo, reproduzo um post do Leoboratorio (ver seção "Caros amigos"). No post, Leo ainda nos convida para vermos em que outras situações aplicamos os 5 estágios de Kubler-Ross.

"Segundo Elisabeth Kubler-Ross, experiências com a morte podem ser descritas em 5 estágios: negação (e/ou isolamento), raiva, barganha, depressão e aceitação. Esse modelo ficou conhecido como “Modelo de Kübler-Ross”.
- A negação/isolamento são mecanismos de defesas temporários do ego contra a dor psíquica diante da morte;
- O ego, não conseguindo manter a negação, dá espaço para o sentimento de raiva acompanhado de inveja e ressentimento.
- A pessoa, vendo que negação e raiva não resolveu, passa a barganha. Principalmente conversando com Deus.
- Negar não adiantou. Nem se revoltar. Nem tentar negociar. Então a pessoa entra em depressão. É quando se percebe a realidade.
- E por fim, quando vê que não tem jeito mesmo, a pessoa aceita.

Estes cinco estágios da morte são chamados por mim de os cinco estágios. Retiro o “da morte” por que acredito que os cinco estágios pode ser aplicado a tudo.

Um exemplo divertido: Acordar numa segunda-feira.
1. Negação: “O que? Já ta tocando? Mas não tá na hora! Ainda é cedo! O despertador não pode estar certo!”
2. Raiva: “Droga de despertador! Despertador estúpido! Vagabundo!”
3. Barganha: “Só mais cinco minutos…”
4. Depressão: “Oh droga… ir trabalhar… de novo… naquela empresa… não aguento mais…”
5. Aceitação: “É né!? Talvez eu termine aquele relatório hoje…”

Adoro brincar com os cinco estágios e provar que eles realmente se aplicam em tudo.
Onde mais vocês vêem estes cinco estágios?"



Pensei, pensei e cheguei a uma situação em que se aplica também o modelo de Kubler-Ross: ligar ou não ligar para aquele seu interesse romântico?



1. Negação: “Não vou ligar. Por que eu tenho que ligar?”
2. Raiva: “Desgraçado! Por que ele não liga?”
3. Barganha: “Hmmmm... talvez esteja sem créditos no celular. Talvez a bateria tenha acabado. Será que está numa área sem sinal?”
4. Depressão: “Por que estou ainda insistindo nisso? Ele nem gosta mesmo de mim. Mas também, quem é que gostaria de mim?”
5. Aceitação: “Quer saber... melhor ligar logo e perguntar se a gente se encontra hoje”

segunda-feira, setembro 17, 2007

Declarações pinçadas sobre mim

Estranho descobrir depois de um tempo o que outra pessoa pensa sobre você... Hoje, um amigo meu resolveu abrir o diário virtual dele para eu ler.

E encontrei algumas coisas que citam minha pessoa lá. Fiquei pasmo ao ler porque nem eu mesmo me vejo da forma como ele coloca. Estranho saber que você é algo que não se considera.

Não acho que seja tão bondoso quanto me descrevem. Muito menos um anjo. Mas não posso dizer que fico contente por saber que me consideram um bom amigo e que ao menos, faço a diferença para alguém querido.

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"L.F. me ligou de Sampa. Tão bom falar com ele. Traz tantas coisas boas que me sinto cruel, ruim. Há alguns dias ele me disse que viver era o máximo que me prometia, no espaço miúdo entre as duas datas que me definem. Cuidado, L.F., viver é uma promessa pesada."

"Onde está meu amigo L.F. de Sampa que seria um dos maiores consolar do mudo em tais situações? Aposto. L. F. e a coisa mais unânime que me aconteceu. Um anjo que esquece de usar asas. Meu anjo oriental. Sim, meu anjo japonês tenho provado dos seus bálsamos, em carne e osso no meu altar."

"Uma pessoa muito querida me ligou de Sampa ontem de manhã e me falou tão bonito. Conversamos justamente sobre isso, as pessoas que conhecemos, que nos envolvemos, que acreditamos, que nos fazem construir uma história. Perguntei a ele por que haviam tão poucas especiais no mundo. Ele se calou. Pouco antes, mandara uma mensagem que dizia: "Janaína acorda todo dia às quatro e meia e já na hora de ir para cama pensa que o dia não passou, que nada aconteceu. Janaína passageira, passa os dias, passa as horas do seu dia em trens lotados, filos de supermercados, bancos e repartições que repartem sua vida. Mas ela diz que apesar de tudo ela tem sonhos, ela diz que um dia a gente há de ser feliz... Janaína é beleza de gestos e abraços, mãos, dedos, anéis e lábios diante de um sorriso solto que escapa do seu rosto. Janaína é só lembrança de amores guardados, hoje apenas uma pessoa que tem medo do futuro que aconteceu, se alimenta do passado. Mas ela diz que apesar de tudo ela tem sonhos, ela diz que um dia a gente há de ser feliz."

O texto (poema? narrativa? canção?) deixou-me estático por dentro.
Quando o interroguei por e-mail sobre a autoria, ele me respondeu: "Cazuza cantava os 'beijos de liquidificador'. Serão aqueles beijos que trituram a alma? Eu ando sempre querendo iniciar novos capítulos. Aliás, tenho me dado conta que é isso que me faz seguir adiante: abrir novos capítulos, escrever novos começos, aprender novas coisas. O texto da Janaína é de uma música do Biquini Cavadão que tenho ouvido muito nestes últimos dias. Agora respondendo à sua pergunta: o que adianta sair e conhecer pessoas se há pouca coisa especial no mundo? Nem todo mundo será especial para mim. Mas eu sei que existem pessoas especiais. alguns acreditam em OVNIs, outros em coelhinho da Páscoa e Papai Noel. A minha crença é mais palpável porque depende de mim. A gente não nasce com a capacidade de ver muita coisa, precisamos sempre educar o olhar. E então sei que depende apenas de mim poder enxergar e encontrar as pessoas especiais. Cada pessoa com quem mantenho contato (e não se iluda com os números do meu Orkut porque não mantenho contato com todos) é especial para mim de alguma forma."

Das mudanças no trabalho

Nunca foi segredo para ninguém que eu sou uma pessoa determinada a trilhar sempre a ascensão numa carreira profissional.

E para isso, haja dedicação... e vai participar de reuniões em pleno sábado para discutir melhorias no plano de carreira da minha função. E busca articular planos de ação com outras secretarias.

Mas nem em meus sonhos mais loucos imaginei que pudesse acontecer tudo tão rápido assim. Bem, entrei na Secretaria de Cultura há exatos 2 meses e meio. E nesta última semana recebi o convite do secretário adjunto para poder integrar a equipe de assessoria do gabinete.

Claro que meu ego foi super-massageado. Agora vem a parte difícil... como fazer esta transição sem deixar a outra equipe chateada? E o trabalho que eu já estava desenvolvendo?

Enfim, muita coisa para pensar e ainda correndo com milhões de coisas. A mudança não acarretará alterações salariais (até onde sei), mas já garante uma visibilidade maior e valoriza o meu "passe" dentro da secretaria. rsrs.

Das angústias e do desejo de ser único para alguém

Um amigo compartilhou comigo uma angústia que carregava. Ele estava solteiro durante muito tempo. E encontrou alguém por quem se interessou. Ao que parece, o interesse foi mútuo. E começou-se alguma história.

Só que este meu amigo, por não saber em que situação estava com este alguém, foi abordado por várias outras pessoas. E teve algumas histórias também com estas outras pessoas.

O certo alguém (sorry, mas não sei o nome e mesmo que soubesse não colocaria aqui... por isso continuarei com os pronomes indefinidos) também seguiu pelo mesmo caminho e teve histórias com outras pessoas.

Mas, até onde sei, o meu amigo e alguém tinham um interesse maior um pelo outro do que pelas outras pessoas. Só que ninguém declarava isso. Até que num belo dia, perguntou-se:

"O que você acha de eu ficar com outras pessoas?"

E a resposta veio meio como charada, sem dizer sim nem não: "Acho que não posso exigir isso de você".

"Quer saber... não quero ficar com mais ninguém além de você".

E qual não foi a surpresa do meu amigo em escutar a recíproca. Logo em seguida, veio aquela sensação de alívio.

Acho que o melhor remédio para estas angústias continua sendo a sinceridade.

Das confusões sobre o amor

É possível sentir que se ama alguém sem necessariamente ter um contato físico mais íntimo? Como será que sabemos que estamos amando alguém? Se a gente ama alguém, tem mesmo assim dúvidas sobre se o outro também nos ama ou quando se ama a gente não tem dúvidas sobre o amor do outro?

Amor (ou seria melhor dizer, relações amorosas?) é algo complicado. De repente, você está quieto no seu canto e buscando levar sua vida normalmente, sem grandes sobressaltos... e aí aparece alguém que sorri e que tem uma boa conversa.

E você vai tomar um café num dia. Depois vai a uma exposição. Depois vai ao teatro. Depois vai jantar. E quando se vê, está pensando em cenas daquelas histórias românticas super-trash no estilo Bianca e Sabrina.

Acho que a raposa estava certa... é a constância do afeto que faz com que o outro seja cativado. Ou será que tudo isso acontece porque estou numa certa carência?

quarta-feira, setembro 12, 2007

Sobre comer azul-marinho

Azul-marinho é um prato típico da culinária caiçara. E neste festival de cultura tradicional paulista, pude provar este prato. Junto com um pouquinho de lambe-lambe.

Mas o que é azul-marinho? E o que é lambe-lambe? Vamos lá... azul-marinho é um prato com peixe cozido junto com banana verde com casca. É a casca da banana verde que dá o tom azulado para o peixe.

Já, o lambe-lambe é um risoto feito com mariscos. Também muito saboroso. Difícil é escolher entre tantas delícias gastronômicas presentes no festival. Este foi o almoço. Como descobri que o festival também estaria aberto até a noite, fui lá jantar.

Se no almoço o cardápio foi marcado pela cultura caiçara, no jantar, fui de pratos da cultura caipira. Virado, queima de alhos, rojãozinho, bolinho caipira e bolinho de chuva. Hoje só quero correr uma maratona para queimar as calorias deste excesso gastronômico.

domingo, setembro 09, 2007

Mudanças rápidas de freqüência

Sempre me interessei por várias coisas... sempre quis viver um pouco de tudo. E mesmo que os outros digam que algo é chato ou legal, prefiro ir conferir e tirar eu mesmo as minhas conclusões.

Este meu interesse plural acaba me levando a situações bem distintas. Neste feriado, houve algo destes contrastes.

Num dia, fui ao circo. Ao lado do Memorial da América Latina, uma tenda armada em vermelho, contrastando com o branco do concreto pintado de Niemeyer. Trapezistas, malabaristas, palhaços, música... Tive por companhia, um amigo mais novo, destes que tem o olhar constante de descoberta que acomete as crianças. Um programa divertido.

No dia seguinte, fui a uma apresentação de ópera: "Elektra" de Strauss. Desta vez, figurino diferente (ma non troppo) e companhias diferentes. Meus amigos mais velhos estavam ali curtindo a música e a movimentação cênica e a orquestra. E eu, desta vez, parecia fazer o papel da criança com olhar de descoberta.

O que mais curto nisso tudo é a transição. Sentir que tudo isso sou eu e ao mesmo tempo não é. Saber que posso estar em qualquer coisa e me adaptar a qualquer situação. Viver a pluralidade é um exercício bem divertido.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Revelando São Paulo: Festival da Cultura Paulista Tradicional




Começa neste final de semana mais um "Revelando São Paulo", um festival que celebra a cultura paulista tradicional.

Ontem foi a abertura oficial do evento. E, como este é um evento que conta com recursos e apoio da Secretaria de Cultura, fui convidado e é claro que não podia deixar de conferir.

Confesso também que sempre curti este aspecto de preservação das culturas tradicionais e o lado mais folclórico da cultura. A manifestação popular em todos os seus aspectos.

No festival, celebra-se a dança e a música, o artesanato e a culinária. E mais do que isso, os costumes. A abertura do evento foi marcada pela ritualização. Coisa que na pressa diária esquecemos. Coisa que na modernidade, renegamos em prol da racionalidade.

A comensalidade foi o mote da abertura. O compartilhamento da mesa e da comida é o traço da fraternidade presente na cultura tradicional. E foi neste clima que celebramos a abertura do festival.

Galinhada, afogado, canjiquinha, feijão tropeiro e muita tubaína. Pratos e bebidas que lembram uma infância e tempos outros. E estranhos dividindo a mesa e conversando animadamente ao som da música que entronizava a imagem de São Benedito no local destinado aos comensais.

Sabe... estou curtindo cada vez mais este meu trabalho. rsrs.

Thanks God.. um feriado.

Graças a Deus, um feriado! Sabe... estou começando a curtir novamente esta coisa de feriados. Mas eu quero mais é curtir o descanso do que ir viajar e me estressar no meio do caos do trânsito de todos querendo sair da cidade.

São Paulo é uma cidade melhor quando todos foram para outros lugares. A cidade fica mais tranquila, as filas diminuem, o trânsito até melhora depois da correria inicial de todos saindo para viajar.

Tenho corrido muito. Resolvendo coisas aqui e ali. E às vezes, ainda me questiono sobre o porquê de me envolver com tantas coisas. Um dia eu aprendo a me contentar com menos e a fazer menos.

Sei lá... dizem que menos é mais, não é?

sexta-feira, agosto 31, 2007

A little bit overwhelmed...

E no meio de tantos eventos durante a semana, que me fizeram sempre ir dormir à 1h para depois acordar às 6h (sim, afinal, o trabalho no escritório ainda estava ali me esperando), descobri na última hora que teria mais um compromisso semanal.

Ao chegar no trabalho, vi um e-mail de um colega pedindo para conversar urgentemente com ele. Quando consegui encontrá-lo, descobri que estava sendo chamado para um curso, ou melhor, para me matricular num curso.

Pois é... voltei aos estudos. Fazendo agora um curso de especialização em "Comunicação e direito: entretenimento, lazer e cultura", por conta da secretaria.
Já na primeira aula, muita coisa nova e importante para o trabalho (direitos autorais e copyright). Vamos ver o andamento do restante do curso...

Re-visão : abertura da exposição

Quarta-feira foi um dia corrido. Além de ter que correr com um estudo para entregar aqui no trabalho, fui para Santos por conta da vernissage da exposição "Re-visão" da artista plástica Suzana Garcia.

O casarão antigo da Pinacoteca casava bem com as obras que versavam sobre a transição entre o antigo e o novo na paisagem. Para evocar estes véus de tempo, os curadores montaram uma expografia na qual tínhamos que atravessar cortinas e víamos no caminho peças antigas de mobiliário até chegar na tela.

Uma pianista tocava músicas dos anos 20 e atores usando roupas da mesma época circulavam entre os convidados. Uma abertura com ares retrô e muita diversão.

Uma noite no museu

Nesta última terça-feira, o Museu da Língua Portuguesa resolveu abrir as portas durante a noite. Um teste para atrair o público adulto. Eu, como representante da Secretaria da Cultura, fui lá conferir o público visitante e também a nova monitoria do museu.

Foi interessante a experiência de ter o museu apenas para mim. Sim, porque no período que fiquei, não houve muito público visitante (talvez por conta do frio e da garoa fina que insistia em cair).

Na Praça da Língua, fiquei deitado sobre os versos iluminados, vendo as projeções naquele planetário de palavras e e sílabas. E pensando nas surpresas que aparecem ao acaso.

A onda :: Manuel Bandeira


a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

domingo, agosto 26, 2007

Das ansiedades por um telefonema



Ouvindo "O mundo é um moinho" do Cartola, na versão da Badi Assad.

"Ainda é cedo amor... mal começastes a conhecer a vida." Ligo ou não ligo? Mas se eu ligar, isso mostrará que eu estou muito a fim? Demonstrará esta minha ansiedade de querer um novo encontro e de ouvir novamente aquela voz?

"Ouça-me bem querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo".

Ligo. Mas ninguém atende. A chamada cai na caixa-postal. Ao menos, ouço um pouco da voz anunciando o recado.

"Ouça-me bem amor. Preste atenção: o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos. Vai reduzir as ilusões a pó."

Por que será que não atendeu? Será que decidiu não atender ou será que não pôde simplesmente atender? Deixou de atender por vontade própria ou por impossibilidade?

"Quando notares estás a beira de um abismo. Abismo que cavaste com teus pés."

sábado, agosto 25, 2007

Dos primeiros beijos que não foram dados

Aquele olhar denunciava tanto desejo. Eu, meio sem graça, fiquei ali parado, encarando aquele olhar. Sabe aquele olhar que prenunciava algo mais? Era este o olhar... mas acabávamos por seguir para um abraço.

Depois, na hora da despedida, quando algo incompreensível parece arrebentar dentro de você, também foi o momento perfeito para aquele beijo que não aconteceu.

Lá no teatro, depois da peça, quando fomos bisbilhotar o cenário e a gente se perdia no meio daquela magia desvendada no meio de clima de traquinagem quase infantil, também era o momento para o primeiro beijo que não aconteceu.

E nós conversando. Você comeu um pão-de-mel e ficou com o lábio inferior manchado de chocolate. Segurei seu queixo e com o dedo indicador, tirei a mancha. Uma inclinação adiante e aquele bem poderia ser o primeiro beijo.

Caminhando e delirando com as luzes noturnas da cidade, você apontava para um prédio antigo. E eu olhava atentamente para a direção apontada. Seu rosto chegava mais perto e mais perto e mais perto. E ficou perfilado ao meu. Se eu virasse o rosto para te olhar mais atentamente, o encontro dos lábios seria inevitável.

E diante de tantos primeiros beijos possíveis e não concretizados, apenas me pergunto: Será que isso é para acontecer realmente?

Pequenos milagres

Muitas vezes, ficava pensando naquela frase que sempre aparece depois dos filmes e de novelas: "esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança é mera coincidência" (ou algo semelhante).

Nesta semana, várias coisas aconteceram. Uma delas foi conferir a mais recente produção da trupe mineira Grupo Galpão. O Galpão comemora os 25 anos de existência com uma peça singular.

Numa grande campanha, eles coletaram histórias reais de pessoas do Brasil inteiro. A campanha tinha o nome de "Conte a sua história". Das mais de 500 histórias enviadas, foram selecionadas 4.

E estas quatro histórias são de uma poesia e de uma profundidade tão grande que muitas vezes fica difícil acreditar que aquilo tudo é baseado numa história real.

Quem diria que a vida (e nossas histórias) que parecem ser tão cotidianas e ordinárias, são pequenos milagres a serem resgatados.

Para quem puder conferir, eu digo com todas as letras: NÃO PERCA. A cenografia está bárbara. Os atores, fantásticos. Tudo na mais perfeita sintonia.

terça-feira, agosto 21, 2007

Das frases que te deixam sem resposta

Quando digo que sou um tímido, ninguém acredita. Eu sou ainda um daqueles que podem ficar corados por conta de um elogio inesperado. Ou que ainda não conseguem encarar nos olhos uma outra pessoa.

E quando percebo então que estou sendo observado por outra pessoa? Ihhh... nestas horas quero mais é me esconder. Fugir da vista e deixar de ser o foco das atenções. Converso muito com os outros. Mas nunca quis ser o foco das atenções de ninguém.

Agora, lá no novo trabalho, já fui tachado de "relações-públicas", já fui colocado como membro de uma Associação imaginária para congregar os amigos da happy hour e, agora, oficialmente, já fui convidado para integrar a Comissão de Lazer.

O que fazer quando os estereótipos, as imagens que os outros atribuem a você, tornam-se cada vez mais fortes?

E como dizer que apesar de eu ser uma pessoa que curte conversar com as outras, ainda assim fico sem graça e sem resposta ao ouvir coisas como "Trabalhar neste departamento ia ser bom porque eu poderia estar com você" ou "Bom poder sonhar com você na noite passada"?

domingo, agosto 19, 2007

João e Maria

Hoje, a música que ficou preenchendo minha mente foi "João e Maria". Letra do Chico Buarque para música de Sivuca. Levemente melancólico, extremamente poético.

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Agora eu era o herói ,

E o meu cavalo só falava inglês .

A noiva do cowboy, era você

Além das outras três .

Eu enfrentava os batalhões,

Os alemães e seus canhões .

Guardava o meu bodoque ,

E ensaiava um rock

Para as matinês .


Agora eu era o rei,

Era o bedel e era também juiz .

E pela minha lei,

A gente era obrigado a ser feliz.

E você era a princesa,

Que eu fiz coroar,

E era tão linda de se admirar,

Que andava nua pelo meu país.


Não, não fuja não,

Finja que agora eu era o seu brinquedo,

Eu era o seu pião ,

O seu bicho preferido.

Sim , me dê a mão,

A gente agora já não tinha medo,

No tempo da maldade,

Acho que a gente nem tinha nascido.


Agora era fatal,

Que o faz-de-conta terminasse assim.

Pra lá deste quintal,

Era uma noite que não tem mais fim.

Pois você sumiu no mundo,

Sem me avisar,

E agora eu era um louco a perguntar,

O que é que a vida vai fazer de mim ?

Tsotsi

Tsotsi é uma redução da palavra "Tsotsitaal", uma gíria do dialeto falado nas favelas de Soweto e que significa "marginal".

Tsotsi é também o nome do personagem principal do filme homônimo que recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Tsotsi é o primeiro filme da África do Sul que eu assisti. Antes dele, talvez só tenha assistido co-produções ou filmes com locações ali. Este é o primeiro filme que assisto com um roteiro que aborda as relações sociais na África atual.

A história é simples e, de certa forma previsível. Lembra em alguns aspectos o brasileiro "Cidade de Deus" por mostrar a miséria dos grandes centros urbanos. Eu, particularmente, não gosto muito de filmes que fazem questão de explorar a miséria humana. Sei que ela existe, mas para mim ao se transpô-la para a tela parece haver uma tentativa de "enobrecimento", de "glamourização".

No filme sul-africano, um jovem que sobrevive de roubos e outros crimes se vê envolvido com um recém-nascido por conseqüência de um de seus crimes. O surgimento deste recém-nascido evoca sua própria infância e traz uma certa luz em sua consciência.

O recém-nascido vem como objeto que o tira de uma invisibilidade social e que também o redime. Aliás, a redenção é algo que agrada muito a Academia hollywoodiana , neste caso garantiu o Oscar.

O filme não é ruim. Mas também não traz novidades para mim.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Semana de Portinari

Sim, e lá fui eu na minha primeira viagem a trabalho pela Secretaria da Cultura. O destino? Brodowski. Cidadezinha no interior de São Paulo, apenas 13 km de Ribeirão Preto.

O que fui fazer ali? Bem... conferir a abertura da XXXII Semana de Portinari. Sim. O pintor Cândido Portinari nasceu em Brodowski e manteve durante muitos anos, uma casa ali bem diante da igreja.

Na foto, uma montagem feita no jardim da casa, hoje convertida no Museu Casa de Portinari. O pai, a mãe e o próprio pintor.

O Museu conta com uma memorabilia grande. E uma expografia genial. A casa evoca todo o sentimento da família que vivia ali. No fogão a lenha original da cozinha, uma panela com a polenta que era geralmente servida. As cadeiras empalhadas pelo próprio pai do pintor. Nas paredes, muita pintura mural. Um passeio pelos jardins revela os canteiros com formato de letras: D - I - O (Dio = Deus em italiano).

O que era a antiga garagem foi transformada pelo pintor na capela da nonna. Um presente que o pintor fez para a avó quando ela ficou doente e não pôde mais ir a igreja. Uma visita tremendamente marcada pela emoção quase palpável daquele ambiente.

A abertura correu da forma mais folclórica possível. Muito popular, sem grandes produções. Prefeito, vice-prefeito, vereadores... enfim, todos ali para conferir a apresentação do coral e depois uma mini-peça de teatro encenada por alunos da escola local.

De lá, depois das despedidas, foi a hora da diversão. O pessoal do departamento resolveu conhecer um dos locais mais surpreendentes da cidade: o Açougue.

Sim, o lugar é um açougue. Só que os donos do açougue resolveram incrementar e oferecer um serviço extra. Então, basta você escolher a carne e dizer quantos quilos deseja.

Eles simplesmente vão e assam na churrasqueira. Enquanto você espera, pode se servir de bebidas nas geladeiras. Tudo muito caseiro. Tudo muito informal e descontraído. Para quem for a Brodowski, este é um programa imperdível.

Ahhh... e curta tudo ali. Da bacia cheia de salada fresca (tomate, alface e cebola) ao pão de alho e queijo coalho.

Eu e a cidade


A gente se acostuma com tanta coisa. Acostumamos com a violência destacada no noticiário da TV. Acostumamos com a pressa diária e com os roteiros de tédio para tédio. Acostumamos com a falta de delicadeza e com a falta de gentileza. E esquecemos que gentileza gera gentileza. Acostumamos com a mudança brusca do cenário que nos cerca.

Acostumamos com tanta coisa e não vemos muitas vezes que o mundo inteiro ao nosso redor está mudando. E quando percebemos já é tarde demais. O mundo inteiro mudou e nós apenas nos adaptamos a uma nova realidade sem lançar um olhar crítico. Muitas vezes, apenas aceitamos a mudança. Afinal, mudar é inevitável.

E quando vem o momento do confronto entre passado e futuro, neste processo de revisão (revisão = re-visão = ver novamente), percebemos muitas vezes que deixamos passar muita coisa. Deixamos passar coisas importantes, talvez até fragmentos minúsculos de nossa própria alma.

Nós somos a cidade. Somos este coletivo, esta história construída e esquecida. Somos esta confusão, reflexo do caos da modernidade e da persistência da memória. Imagem mutante nas linhas de tempo. Indivíduos querendo se destacar na multidão e ao mesmo tempo, querendo aprender a viver juntos.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Ouvindo agora: "Hey Jack Kerouac"

Hey Jack Kerouac
I think of you mother
And all the tears she cried
She would cry for none other
Than her little boy lost in a little world that hated
And that dared to drag him down
Her little boy courageous

He chose his words from mouths of
Babes got lost in the world
The hip-flash slinging madmen
Steaming café flirts
They all spoke through you

Hey Jack, now for the tricky part
When you were the brightest star
Who were the shadows?
Of the San Francisco beat boys
You were the favourite
Now they sit and rattle their bones
And think of their blood stoned days

You chose your words from mouths of
Babes got lost in the world
The hip-flask slinging madmen
Steaming café flirts
In Chinatown, howling at night

Allen baby, why so jaded?
Have the boys all grown up
and their beauty faded?
Billy, what a saint they made you
You're just like Mary down in Mexico
On All Souls' Day

You chose your words from mouths of
Babes lost in the world
The cool junk booting madmen
Street minded girls
In Harlem, howling at night

What a tear stained shock of the world
You've gone away without saying
Goodbye

Memória afetiva de um final de semana

Sábado preguiçoso. Friozinho chegando. Um pouco de garoa na cidade. E eu querendo sair. Todo mundo com preguiça e eu querendo fazer algo além de ficar dentro de casa. Planejei ir ao cinema. Planejei ir ao teatro. Planejei ver aquela exposição. Planejei curtir o sábado sozinho.

Não consegui falar com nenhum dos meus amigos. Resolvi ligar para pessoas recém-conhecidas. Afinal, nunca se sabe quando uma destas pode se tornar um bom amigo. Gosto de arriscar a conhecer melhor os outros. Gosto de dar aquele mergulho na alma do outro.

Tentei alguns novos colegas de trabalho. Ambos já estavam ocupados com suas andanças pela cidade. Sim. Estava mesmo sozinho.

E lá fui... eu e a cidade sem fim. Fui ao cinema. Na entrada, acabei encontrando uma ex-colega de trabalho. E coincidentemente, ela tinha marcado de assistir um filme ali com várias outras amigas. E eu fiquei ali para conversar porque queria ver o rumo que aquele acaso iria tomar.

Foi bom rever pessoas que dificilmente encontro no dia a dia. Goodbye. Não, não queria assistir um desenho animado. Fui caminhar novamente. Desta vez acompanhado de uma amiga que chegou e não quis assistir o filme. Fomos até uma livraria. E nos sentamos no café dentro da livraria. Adoro cafés em livrarias. Posso pegar um livro e ficar horas sentado na mesa, tomando um chá e folheando e lendo aleatoriamente parágrafos.

Sentamos. Ela foi pegar um café. Eu fiquei na mesa. E um cara na mesa ao lado resolveu puxar papo comigo. E começamos a conversar. Um sotaque forte. Estrangeiro. Sim, um ítalo-brasileiro que viveu mais de 10 anos nos Estados Unidos. E conversei com aquele estranho que depois se apresentou quando minha amiga chegou com o café.

E trocamos impressões. E ele parecia querer contar mais da vida dele. E eu nem tão interessado assim em ouvir. Minha amiga lançava um sorriso para mim por conta da situação. Eu não consigo deixar de ser simpático.

Depois ela foi embora. Foi para um show de uma banda que eu não queria ver porque já tinha visto muitos shows desta banda e já estava achando-a repetitiva. Eu fiquei na livraria. Folheando um livro. E o ítalo-brasileiro-que-morou-nos-EUA-e-que-insistia-em-conversar-comigo puxou a cadeira para mais perto e ficou conversando comigo.

Quando falei que trabalhava para o governo do Estado, ele disse que também já trabalhou para o governo americano. Mais especificamente na CIA. E eu nem botei muita fé. Afinal, tanta gente parece querer se tornar interessante às custas de alguma mentira.

Disse que ia cumprimentar um amigo que tinha visto ali na revistaria e que já voltava. Abordei um cara na revistaria dizendo para ele fingir que me conhecia e para sorrir levemente. Ele fez o que eu pedi e quando vi, estávamos realmente conversando.

Ele disse que estava indo para um restaurante lá perto. Eu disse que iria acompanhá-lo até a saída. Assim, poderia me livrar daquele outro cara que me pareceu inconveniente por ficar entrando na conversa que eu estava tendo com a minha amiga.

Na saída, agradeci o apoio dele. E só sei que acabamos conversando mais e mais. No final, já estava com um novo conhecido e um programa agendado para domingo. Estranho perceber como o mundo parece conspirar para que você conheça as pessoas.

No domingo, fui caminhar pela região dos Jardins ao lado do fotógrafo. Sim, o cara que conheci é um fotógrafo. E caminhamos e conversamos sobre o mais recente projeto dele. E ele falava sobre Roland Barthes e "punctum" e "studium". E eu não entendia nada daquilo e perguntava tal qual criança tentando descobrir aqueles termos estranhos.

Discutimos sobre várias coisas. Andamos até um café. Eu pedi um chá e um doce. Ele pediu somente um café. Fomos a uma exposição sobre Gianni Ratto. Subimos até o topo do Conjunto Nacional. Ele ficou observando os diferentes ângulos e explorando possíveis imagens. Eu fiquei ali em silêncio, com um pouco de frio, olhando as pessoas atravessando a avenida Paulista. E aquele jogo colorido e caótico de carros e pedestres.

E descobri que gosto de São Paulo justamente por conta de tudo o que estava vivendo ali: conhecer alguém estranho ao acaso, conhecer lugares e assuntos, transitar por novas alturas e descobertas, sentir-se minúsculo e ao mesmo tempo, especial.