segunda-feira, outubro 18, 2010

O amor e outros estranhos rumores

Realismo fantástico. É o que sempre ouvi falar dos escritos do Murilo Rubião. Então, quando ouvi falar da estréia de "O amor e outros estranhos rumores", peça baseada em contos do escritor mineiro, fiquei imaginando como seria ter o universo fantástico no palco.

Um coelho branco permeia os mistérios envolvidos em cada fragmento de estória. A imagem de um baobá com suas raízes milenares. O vapor de um navio. Noivas surgindo em vermelho, verde e amarelo para um Barba-azul desmemoriado.

Tudo estava lá... e a cenografia plena de transparências e portas e janelas, dava vazão ao fluxo das estórias. Eu não entendi, mas acho que o sentido nem era o entendimento. O sentido era a o absurdo e a reflexão advinda das situações retratadas.

Quanto custa um amor? Se a Terra roda por que não ficamos tontos? Eu quero aquele ninho de passarinho, posso usar como fruteira ou como cinzeiro.

Como esquecer


Ela olhava para a foto e recordava momentos de um passado que já foi bom. Este fragmento de passado agora doía diante de seus olhos. Uma dor na cabeça, no peito, na alma. Ela aproximou a foto da chama e a viu queimar lentamente. Colocou a foto flamejante num prato. E num ímpeto apagou a chama com a mão nua. A dor da queimadura era boa. Ao menos a fazia esquecer daquela dor da lembrança, daquela dor que ia fundo na alma.

Na cena inicial do filme "Como esquecer" abre-se todo aquele universo comum a todos que passaram pela ausência do amor tão intensamente vivido. E, surpreende a presença luminar da Ana Paula Arosio. Uma atuação convincente.

Das frases pinçadas no filme ficou uma na minha memória: "O que é oposto ao amor? O ódio é a resposta mais óbvia, mas não é isso... o oposto do amor é outra coisa".

quinta-feira, outubro 14, 2010

Politicamente correto


Poser total... Depois de comer um veggieburger (e quem diria que um burger de alho-poró com vinagrete pudesse ser tão bom) no Vegacy enquanto lia "Copenhage: antes e depois" (livro do Sérgio Abranches que fala sobre a COP2009, a conferência internacional sobre o clima), fui assistir "London River", filme de Rachid Bouchareb.

O filme trata basicamente da busca de uma mãe cristã tipicamente inglesa e de um pai africano muçulmano que buscam seus respectivos filhos depois do atentado terrorista que aconteceu em Londres nos idos de 2005.

Afora a trama central, que explora as angústias da ausência e das incertezas sobre o paradeiro de entes queridos, há toda a exploração de um subtexto de conflito de culturas: conflitos entre cristianismo e islamismo, preconceitos entre raças e crenças.

E o ator Sotique Kouyaté está fantástico. Não foi a toa que ganhou o prêmio de melhor interpretação masculina no Festival de Berlim. Na cena em que ele está no trem, a câmera pega um olhar que é de arrepiar...

Eu matei minha mãe


E enfim, fui assistir "Eu matei minha mãe". Os comentários eram muitos sobre o filme e, é claro que quando isso acontece, fico um pouco ressabiado com receio de me deixar afetar pela expectativa.

Mas o filme realmente vale a pena. Uma porrada! Mas vale a pena. É possível para cada um identificar alguma nuance na relação das personagens de mãe e filho. E há frases que soam perigosamente sinceras:

"Todo mundo já quis matar sua mãe. Talvez por um segundo ou por um ano, todo mundo já odiou sua própria mãe".

Há no filme um destilado de diálogos contudentes. Farpas voando para todos os lados, com direito a chantagem emocional e revolta juvenil. Memórias de um tempo em que discutir por qualquer coisa era rotina.

Acho que o melhor para a sanidade do relacionamento entre pais e filhos é justamente o momento em que os dois não moram mais debaixo do mesmo teto...

domingo, outubro 10, 2010

Egoísmo


Numa sociedade que tem se tornado cada vez mais egoísta, seria o egoísmo a nova qualidade para o sucesso? Ao se priorizar os valores individuais e as realizações individuais, estamos reforçando esta sociedade egoísta? Teremos cada vez menos madres Teresas de Calcutá neste mundo? Ou será que mesmo os candidatos a novas madres Teresas agem de forma egoísta?

Num artigo do Eugênio Mussak li algo bem interessante (e elucidativo) que compartilho aqui:

"Imagine que você está viajando de avião e, de repente, um comissário de bordo anuncia que acabou de ocorrer uma despressurização na aeronave e que os passageiros devem colocar a máscara de oxigênio que cai à sua frente. Ao seu lado, está sentado um jovem com os dois braços engessados. Mesmo percebendo seu desespero, você coloca primeiro sua máscara e só então o ajuda.

Cuidar de si mesmo antes de cuidar do outro tem um quê de altruísmo. Ao cuidar de nós mesmos, tiramos do outro essa responsabilidade e, ainda por cima, ficamos bem para ajudar quem precise. Mas, se após ajustar sua máscara sobre o nariz e a boca e recuperar a respiração normal, você não se interessar em auxiliar seu vizinho de viagem, não será apenas um egoísta, mas um omisso.

E é justamente nesse pormenor que reside a diferença entre dois tipos de egoísmo. Há o egoísmo normal, e até ético, da pessoa assumir a responsabilidade por si mesma, por sua segurança e pela solução de suas necessidades fundamentais; e há o egoísmo mau, patológico, próprio da pessoa que não demonstra interesse pelo outro. Este não pensa primeiro em si, mas só em si."

sábado, outubro 09, 2010

Viver?


"-Só achei que poderíamos ampliar nosso círculo de relacionamentos..."
"-Eu não preciso disso, já tenho muitos amigos. Uns 250 amigos no MySpace."

Até onde a virtualidade se infiltra em nosso tempo pessoal e até onde nos apoiamos na virtualidade como ferramenta para garantir um mínimo de contato social? Ultimamente tenho sentido muita falta de encontrar presencialmente meus amigos. No final das contas, tenho percebido que encontros presenciais somente com aqueles que estão imediatamente mais próximos (o que significa repetidamente, o pessoal do trabalho).

Faz um tempão que tento marcar um encontro com a Cynthia. O Antônio tenta marcar um café comigo desde o mês passado. A Sté insiste em marcar um momento para colocar a conversa em dia. Por que isso não acontece de forma mais fácil? Simplesmente porque ou um ou outro sempre está com a agenda lotada. É rodízio, é trânsito, é compromisso profissional, é o cansaço depois de uma semana tensa... enfim, a vida na metrópole não parece favorecer muito os encontros.

Talvez seja esta a vantagem das cidades litorâneas. Ao menos, em algum momento, todos se encontram na praia. Quando morava em Santos, encontrava mais facilmente as pessoas.

No final das contas, tenho notícias dos meus amigos pelo Facebook. E isso me preocupa um pouco. Afinal, até onde é válido e até onde você realmente está presente em relação ao outro na plataforma virtual?

Nesta semana, por exemplo, descobri pelo Facebook que a avó de uma amiga minha tinha falecido. E perdi a missa porque não tinha visto meus e-mails num dia a noite.

Viver nestes tempos tem gerado um certo aprendizado. Tenho que reaprender a manter meus vínculos sociais, sem sentir a solidão que sinto diante do monitor do computador.

domingo, outubro 03, 2010

Eleições 2010

Cumprido o dever cívico, fica agora a ansiedade pelos resultados. Longe de ser partidário, sou apenas politizado no sentido de ter consciência de que a política afeta o cotidiano e os rumos de um projeto de Brasil.

Meu voto? Além de secreto, posso dizer que foi suprapartidário. Estava mais interessado em boas propostas do que em partidos. Foram votos para o PV, para o PSDB, para o PSB, para o PT. Agora é aguardar... e torcer para que a lei da Ficha Limpa vigore a partir de agora.

No Facebook, uma amiga colocou um vídeo que achei muito pertinente e que compartilho aqui: O analfabeto político por Bertold Brecht.

domingo, setembro 19, 2010

Alucinando no final de semana

"(...)Fazer do meu peito uma caixa de ódio como um coração que não quer perdoar...". As palavras da letra da música de Lupicínio Rodrigues saíam teatralizadas durante o show de Arrigo Barnabé.

O Casa de Francisca, um lugar que eu queria conhecer faz um tempo, reabriu. E a programação, mais atraente do que nunca. Eu, Cláudia e Cláudio alucinando na descoberta de algumas músicas do Lupicínio Rodrigues naquelas interpretações do Arrigo Barnabé.

Vontade de comprar o DVD do show que será lançado em breve.

Depois do show, algumas horinhas de sono e o domingo começava bem cedo.



O trem que antes havia abandonado a estação de Paranapiacaba voltou. O Expresso Turístico entrou em operação e, nesta primeira viagem foi possível perceber a grande expectativa, tanto por parte dos turistas quanto por parte dos moradores da vila histórica.

Para quem não conhece, o passeio vale a pena para conhecer a vila histórica e ser recebido pela simplicidade e por sabores exóticos. Um chá de gengibre na Casa de Chá Tradições da Serra. Um suco de cambuci, fruta típica da Mata Atlântica, com gostinho ácido e levemente adstringente. Enfim, sabores que inevitavelmente associo a estas minhas visitas ao "lugar de onde se avista o mar" (tradução do tupi para o português da palavra Paranapiacaba).

quarta-feira, setembro 15, 2010

Meu nome é ...


Eu sou um daqueles que tem nome duplo. Só que geralmente me chamam apenas pelo primeiro nome. O segundo nome é aquele que muitas vezes poucos conhecem. Mas, ultimamente, não entendo o porquê, tenho percebido as pessoas me chamando pelo segundo nome.

Sempre me identifiquei mais com o primeiro (mentira, sempre fui mais identificado com o primeiro. Eu na verdade me identifico com a combinação dos dois). Quando me chamam pelo primeiro nome, a resposta vem quase no automático.

Hoje, no almoço, ouvi alguém chamando outra pessoa. Coincidentemente chamavam alguém que tinha o mesmo nome que o meu segundo nome. Mas como não respondiam, resolvi ver porque não faziam a pessoa parar de chamar insistentemente. Aí percebi que eu era a pessoa chamada.

Pelo visto terei que ficar atento quando chamarem também meu segundo nome... ainda bem que, apesar de geminiano, não tenho propensão a múltiplas personalidades. Já pensou? Ser cem, ser cento e cinquenta como dizia o heterônimo de Fernando Pessoa?

segunda-feira, setembro 13, 2010

Por que eu trabalho com cultura?


Para eu sempre mudar o ponto de vista pelo qual eu defino algo. Para ouvir perguntas como "Com o que se parece uma chama depois de apagar?". Para reconhecer o outro e garantir a participação na cultura do outro quando o outro assim o desejar. Para manter a conectividade com o mundo. Para apoiar os projetos de educação mesmo contra a vontade da própria sociedade. Para ouvir mais do que falar. Para dar vida à imaginação. Para ampliar repertórios simbólicos. Para aprender. Para desaprender. Para reaprender. Para demolir as bases do que aprendi antes. Para singularizar. Para melhorar o mundo. Para trabalhar em prol da cidadania cultural permeada por formação estética e senso ético. Para fazer alguma diferença num mundo em que tudo está facilitado e onde a intenção da produção local é apresentar-se no palco do mundo. Para ser feliz através da realização profissional...

domingo, setembro 12, 2010

EXistência


Deus existe? Ou Deus esta morto? Ontem, numa destas conversas que rolam ao final de um jantar, a discussão rolou em torno da crença em Deus.

"Você é ateu, Luiz?". E eu simplesmente disse que acredito que há alguma força fora de nosso conhecimento. E acho que isso possa ser chamado de Deus. Da mesma forma que possa ser chamado de Força.

Talvez Deus seja apenas um nome para definir algo genérico e que não possamos explicar. Ou um nome para definir muitas coisas. Aquilo que mantém as partículas de matéria juntas pode ser chamado de força nuclear forte ou força nuclear fraca ou pode ser chamado de Deus.

Aquilo que mantém a vida das plantas pode receber o nome de Deus ou fotossíntese. Enfim, tudo parece ser apenas uma questão de nomes. E não se deve confundir um sentimento de espiritualidade com religiões estruturadas, não é?

It's a little bit complicated...


Ainda influenciado pela leitura recente de "Admirável mudo novo", vejo diante de mim a frase que ilustrava o comportamento sexual e afetivo das pessoas num futuro imaginado por Aldous Huxley:

"Cada um pertence a todos".

Nesta visão de futuro, não haveria espaço para relações monogâmicas e exclusivas e, consequentemente, para ciúmes e neuroses advindas da fidelidade e do romantismo. Eu desejo alguém? Simplesmente sigo e satisfaço meus desejos.

Um virtual friend de longa data, o Leo Saraiva, comentou meu post passado e disse que não estamos longe (do futuro imaginado), "basta virarmos a esquina do tempo".

Acho que ele tem razão, pelo menos neste campo do comportamento afetivo... e os sinais já se fazem explodir diante do meu campo de visão. Uma pessoa que acabo de conhecer declara que está casada há 36 anos e que a fidelidade é um mito. Outro diz que se relaciona com casais para esquecer dos próprios problemas.

E fico vendo que no meio de tantas particularidades, o meu relacionamento atual acaba parecendo uma exceção. Quase uma situação anacrônica. Qual será o equilíbrio entre relações objetivas e relacionamentos românticos?

quinta-feira, setembro 09, 2010

Futuros possíveis


Nestes últimos tempos resolvi ler livros que tinha deixado de lado e reler outros livros que o tempo deixou apenas a trama central na memória.

E nesta onda, acabei embarcando em George Orwell e Aldous Huxley. Duas visões distintas de futuro: ambas um tanto totalitárias, só que cada um seguindo vertentes distintas. "1984" com o Grande Irmão e a vida dominada pelo Partido, a história controlada ad-nauseum, uma vida de sexo controlado, onde prazer estava em segundo plano e o dever para com a nação vinha sempre em primeiro lugar. "Admirável mundo novo" com o fim da família, sexo livre e consumo hiper-estimulado, uma visão liberal de mundo com controle hipnopédico.

E lendo e relendo estes livros, fica a questão: será que estamos mesmo tão longe destas visões de mundo?

quarta-feira, setembro 08, 2010

Feeling alive


Primavera chegando. E eu ando em algumas dúvidas sobre o caminho de cá ou o caminho de lá. Criança cheia de "por ques". E o tarô simplesmente joga a carta dos enamorados: hora de sair de cima do muro e tomar alguma decisão.

Medo de tomar a decisão errada. Sigo no trabalho atual ou arrisco em uma nova oportunidade? Fico nesta cidade ou mudo para outra e recomeço em outro lugar? Tenho a sensação de estar sempre recomeçando. Mas não acho que isso seja ruim.

Acho que me apaixono muito fácil. E sou meio viciado nesta sensação. Apaixonar-me traz cores novas e algumas dores. O ruim é nutrir paixões por esperanças tolas. E a primavera nem chegou... pelo visto o renascer começará intenso.