quinta-feira, agosto 31, 2006

A grande viagem

Quem me conhece, sabe que eu curto assistir filmes de outras cinematografias. Fujo um pouco do cinemão "Hollywood" e vejo filmes franceses, iranianos, alemães, suecos, chineses...

Simplesmente, aprendi a ir ao cinema sem preconceitos (tipo aqueles que falam "ahhh, mas você quer assistir este filme? É um filme brasileiro" ou "filmes franceses são tão chatos"). O que eu digo é que há filmes chatos em qualquer idioma e há filmes bons em qualquer cultura.

Ontem fui conferir "A grande viagem", uma co-produção franco-marroquina. E gostei do que vi. Há no filme os mais diversos retratos de conflitos: o conflito de gerações (pai x filho), o conflito de culturas (ocidente x oriente), o conflito ideológico (razão e exaltação da ciência no mundo moderno x intuição e consciência na fé religiosa).

Enfim, este é um filme que permite diversas leituras e, por isso mesmo, para mim, um filme inteligente. Ele permite que se faça uma leitura, não é um caminho direcionado como geralmente acontece nos filmes americanos.

O filme conta a estória de Reva e seu pai. Reva é um jovem francês de origem muçulmana mas já profundamente marcado pelas instituições ocidentais. O pai deseja fazer uma viagem de peregrinação a Meca (um dos sete pilares da religião islâmica) e decide que o filho deverá acompanhá-lo.

O filho entra em conflito interno: obedecer ao pai ou seguir com sua vida? Segue forçosamente com o pai. E cruzam de carro a França, a Itália, a Sérvia, a Turquia, a Síria e a Jordânia até chegarem na cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita.

As imagens dos peregrinos em Meca impressionam... um mar de gente seguindo até lá movido pela força da fé. O cenário do deserto amplo (seja na neve ou no calor escaldante da areia) é um convite a interiorização. E é nesta amplitude que pai e filho se aproximam e se afastam e se reaproximam.

Relacionamentos familiares são complicados... mais complicados do que os outros. Há aqui um laço forte, atando os dois lados. Sempre tive um relacionamento tumultuado com meus pais e irmãos, marcado por uma mistura explosiva de respeito e amor, de contradições e raiva.

Ao mesmo tempo que precisamos desta referência, também desejamos marcar nossa individualidade e independência. Sou parte da família mas também sou apenas eu mesmo. Amadurecer, muitas vezes é conseguir se identificar no meio de todas estas influências. Crescer é muitas vezes romper os laços com a nossa referência para se descobrir no mundo.

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