sexta-feira, agosto 18, 2006
Sonhos de Einstein
Terminei de ler o livro do Alan Lightman: "Sonhos de Einstein". Um livro muito fácil e gostoso de se ler, caminha muito pelo lado onírico e parte de um pressuposto simples: quais foram os sonhos que Einstein teve para criar sua teoria sobre espaço-tempo?
Há vários sonhos que respondem considerações sobre o tempo. E se o tempo não fosse contínuo? E se pudéssemos viajar pelo tempo? E se o tempo não fosse uma medida? E se o tempo fosse vivido de trás para frente?
Vários "e se..." respondidos de forma simples, elocubrações com um fundo poético mas também com um pé na física teórica. Não, não se assuste ao ler que o escritor é um físico. Nem se intimide ou deixe de ler o livro por conta disso. O livro é deliciosamente bem escrito e viajamos no tempo pelos sonhos de Einstein.
Abaixo, vou transcrever uma das considerações feitas num dos sonhos: "E se pudéssemos viver para sempre?". Aproveitem e se quiserem mais, melhor correr para as livrarias. risos.
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Suponhamos que as pessoas vivam eternamente. Estranhamente, as populações de cada cidade estão divididas em dois grupos: os Depois e os Agoras.
Os Depois consideram que não há pressa para entrar na universidade, para começar a aprender uma segunda língua, para ler Voltaire ou Newton, para lutar por uma promoção, para se apaixonar, para constituir família. Para todas essas coisas há um tempo infinito. No tempo sem fim, todas as coisas podem ser realizadas. Assim, todas as coisas podem esperar. E quem pode argumentar contra a lógica dessas pessoas? Os Depois podem ser reconhecidos em qualquer loja ou passeio. Seu andar é tranqüilo e eles usam roupas folgadas. Gostam de ler qualquer revista que apareça aberta, de rearranjar os móveis em casa, ou de iniciar uma conversa com a mesma facilidade com que uma folha cai de uma árvore. Os Depois deixam-se ficar nos cafés bebericando café e discutindo as possibilidades da vida.
Os Agoras percebem que, com vidas infinitas, eles podem fazer tudo o que puderem imaginar. Terão um número infinito de carreiras, casarão um número infinito de vezes, mudarão suas crenças políticas infinitamente. Cada pessoa será advogado, pdreiro, escritor, contador, pintor, físico, fazendeiro. Os Agoras estão constantemente lendo novos livros, aprendendo novos ofícios, novas línguas. De modo a experimentar a infinidade da vida, eles começam cedo e nunca vão devagar. E quem pode argumentar contra a lógica dessas pessoas? É fácil identificar os Agoras. São os donos dos cafés, os professores universitários, os médicos e enfermeiras, os políticos, as pessoas que balançam as pernas constantemente quando se sentam. Eles transitam por uma sucessão de vidas, dispostos a não deixar escapar nada.
Quando dois Agoras encontram-se casualmente na pilastra hexagonal da fonte Zähringer, comparam as vidas que conquistaram, trocam informações e olham seus relógios. Quando dois Depois se encontram no mesmo local, converam sobre o futuro e seguem com os olhos a parábola de água do chafariz.
Os Agoras e Depois têm uma coisa em comum. Como a vida é infinita, ambos têm uma lista infinita de parentes. Avós nunca morrem, tampouco bisavós, tias-avós e tios-avôs, tias-bisavós, e assim por diante; gerações de antecedentes afora, todos estão vivos e dando conselhos. Filhos nunca se livram da sombra dos pais. Nem filhas se livram da sombra das mães. Ninguém jamais está sozinho.
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