domingo, abril 29, 2007
Clarice Lispector - A hora da estrela
A frase acima é da espetacular Clarice Lispector, retirada de uma das crônicas de "A descoberta do mundo".
E quem foi capaz de cunhar uma declaração de amor tão intensa desta maneira pelo idioma, nada mais apropriado do que uma retribuição. No Museu da Língua Portuguesa, uma exposição traz um pouco mais do universo particular desta escritora, ucraniana de nascimento, brasileira por paixão.
A exposição rememora que completa-se 30 anos de sua ausência. Hora de remexer nas gavetas da memória, espalhadas pelo espaço da exposição e descobri mais um pouco deste mistério que era Clarice.
"Com o perdão da palavra, sou um mistério para mim", como ela própria se reconheceu.
Itaú Contemporâneo
Fui conferir a exposição Itaú Contemporâneo - Arte no Brasil 1981-2006. Sempre gostei do espaço expositivo do Itaú Cultural, há um desafio grande ali para os curadores.
Espaços distribuídos em diferentes andares. Um espaço de exposição sem pretensão de ser espaço de exposição. A intenção desta exposição era mostrar um panorama da arte brasileira contemporânea.
Confesso que procuro não entender a arte. Vejo obras do Nuno Ramos e muitas vezes me pergunto porquê de ver aquilo tudo cristalizado num estado de arte. Acho que a obra que mais me tocou em toda a exposição foi justamente algo criado sem a pretensão de ser arte. Idéias colocadas em papel-barato e distribuídas gratuitamente.
Uma espécie de "não-arte" (ou seria uma arte-não-arte)? E acho que uma destas obras de arte-não-arte é que melhor sintetiza o que é a arte brasileira contemporânea.
Com vocês, o pudim arte brasileira (por Regina Silveira):
* 2 xícaras de olhar retrospectivo
* 3 xícaras de ideologia
* 1 colher, de sopa, de École de Paris
* 1 lata de definição temática, gelada e sem soro
* 1 pitada de exacerbação da cor
* 1 índio, pequeno, ralado
Com o olhar retrospectivo e a ideologia prepare uma calda e quando grossa junte-lhe a École de Paris, sem mexer. Deixe amornar, bata um pouco a definição temática, junte os demais ingredientes e leve ao fogo em banho-maria em forma acaramelada.
Cobertura para Pudim Arte Brasileira
Misture 1 1/2 xícara de função social com 5 colheres, de sopa, de vitalidade formal e leve ao fogo até dourar; retiro do fogo, junte mais duas colheres, de sopa, de jogada mercadológica e sacuda um pouco a frigideira para misturar tudo bem; não se deve mexer com a colher. Deixe esfriar, cubra o pudim e sirva gelado.
quinta-feira, abril 26, 2007
Guernica
Há 70 anos atrás, a pequena cidade basca de Guernica foi bombardeada pelos nazistas. Como também acontecia uma Guerra Civil na Espanha, o general Franco e o staff do governo espanhol nem fizeram questão de alertar a população. Afinal, Guernica era uma cidade pequena numa região problemática e separatista (até hoje).
Então, com a conivência do governo espanhol, mais de 40% da população da cidade de Guernica foi dizimada no bombardeio.
Picasso morava em Paris quando tomou conhecimento do bombardeio. E num momento de inspiração denunciou a barbárie do fato na tela Guernica. Uma tela monocromática e chocante em seus detalhes e símbolos.
Sobre a tela, Picasso disse:
No, la pintura no está hecha para decorar las habitaciones. Es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo.
Ainda sobre a tela, quando Paris foi ocupada pelos nazistas, conta-se que um oficial alemão, quando estava diante de uma fotografia reproduzindo o painel, perguntou a Picasso se havia sido ele quem tinha feito aquilo. E eis que o pintor teria respondido: "Não. Foram vocês".
O quadro permaneceu em Nova York, no MOMA, e retornou a Espanha somente em 1981, seguindo a vontade de Picasso. A obra só retornaria a sua Espanha natal quando o país fosse uma democracia.
quarta-feira, abril 25, 2007
terça-feira, abril 24, 2007
A nova geografia do aquecimento global
O aquecimento global já começou a alterar a geografia do planeta.
Algumas ilhas já começaram a desaparecer na região do Pacífico e do Índico. Um dos atóis que compõe o arquipélago de Kiribati desapareceu sob as águas do mar há 8 anos atrás. E apesar do sinal de que algo estava acontecendo, nada foi feito. Afinal, era apenas uma pequena nação perdida no meio do Pacífico e o atol que desapareceu não era habitado.
Outra micronação polinésia, Vanuatu, corre o risco de ser o primeiro país a desaparecer por conta do efeito do aquecimento global. Os habitantes da pequena nação já começaram a se refugiar em outros países.
Em 2006, foi a primeira vez que uma ilha habitada teve de ser evacuada por conta da elevação do nível do mar. A ilha Lohachara, na baía de Bengal, Índia, desapareceu das imagens de satélite. 10.000 pessoas ficaram sem lar.
Hoje, soube que uma nova ilha foi descoberta no Ártico, a leste da Groelândia. O que aconteceu é que a ilha sempre esteve ali só que nunca teve a configuração de ilha porque estava ligada ao continente por uma "ponte de gelo". Era portanto, parte da península.
Com o aumento das temperaturas, a camada de gelo derreteu e a nova ilha aflorou. Para ver mais, clique aqui.
Ilhas submergindo, outras surgindo. Ao que parece, estamos diante de um processo de criação de uma nova geografia. Como será que lidaremos com tudo isso?
domingo, abril 22, 2007
"Shi gan" (Time) de Kim-Di Duk
Segui descobrindo "A ilha" e depois, "O arco". Desta vez, fui conferir "Time", último filme dele que desembarcou em terras brasileiras. Não consegui assistir o filme quando estava em circuito nas telas do cinema e muito menos na Mostra Internacional de Cinema do ano passado.
Santa internet... consegui encontrar o filme e assistí-lo. E só posso dizer que vale muito a pena.
O filme é uma crítica fortíssima sobre a banalização das cirurgias plásticas. A história mostra uma mulher insegura em seu relacionamento com o namorado. Para ela, o namorado não tem mais interesse nela porque sua aparência não mais o agrada. Começa aí o jogo psicológico da personagem consigo mesma.
Ao mudar de aparência, ela pode deixar de ser si mesma e encarnar uma personagem? E se o amor da sua vida usar um novo rosto e você não conseguir reconhecê-lo? Amaria a todos que te abordassem até encontrar aquele que seria o seu grande amor?
Amor nunca foi um tema fácil de ser trabalhado sem cair no piegas. Neste filme, ele é brilhantemente tratado em suas diversas nuances. Altamente recomendável.
Santos, São Paulo, Brasil, América do Sul, planeta Terra
Interessante, não é? Saber que o nosso país, que recebeu o nome de uma árvore (e até onde sei, é o único país cujo nome tem esta origem), comemora seu descobrimento no mesmo dia destinado para celebrar o nosso planeta. Coincidência? Quem sabe.
Neste ano, o foco das preocupações planetárias é o desafio de se encarar as mudanças climáticas. Torcer aqui para que cada um faça sua parte (nem vou repetir muita coisa já dita em posts anteriores) e para que os líderes mundiais aprendam que crescimento econômico em bases de degradação é um caminho finito.
Quer saber mais? Vale a pena visitar o site do Earthday Network.
quinta-feira, abril 19, 2007
E por falar em veneno do escorpião...
Para quem quiser ter acesso a toda prova do concurso público para Técnico de Regulação de Aviação Civil, é só clicar aqui.
quarta-feira, abril 18, 2007
O doce veneno do escorpião se espalha por aí...
E eu que achava que os quinze minutos de fama dela já tinham escoado pela ampulheta. Ao que parece, ainda há muito para Raquel Pacheco (o nome verdadeiro da Bruna Surfistinha) faturar.
terça-feira, abril 17, 2007
O Código Tarantino
Em Tarantino's mind, Selton Mello e Seu Jorge discutem sobre um possível "código Tarantino", que interliga todos os filmes escritos e/ou dirigidos pelo americano Quentin Tarantino.
A personagem de Uma Thurman em "Kill Bill" seria a mesma personagem vivida por ela em "Pulp ficition"? Tarantino escreveu um roteiro único para vários filmes?
Para quem quiser conferir o curta e ver o desdobramento desta "teoria", pode ver aqui.
segunda-feira, abril 16, 2007
Pecados íntimos
Muitos amigos já tinham comentado sobre este filme, mas até então não tinha vindo a vontade de sentar diante da tela grande do cinema e conferí-lo. Fiz isso recentemente. Não diante da tela do cinema, aqui mesmo em casa.
"Pecados íntimos" é um ótimo filme. Bebe diretamente na mesma fonte de "Beleza americana", destilando a cada momento aquele tédio inerente a classe média americana. Mães jovens suspiram pelo pai desempregado que leva o filho ao parque. Desejam sob a aparência de felicidade no casamento.
Sexo com hora marcada na agenda, desejos sublimados por conta do decoro social, mães que se avaliam o tempo todo e competem por um título imaginário de "melhor mãe".
A personagem de Kate Winslet se coloca numa posição ímpar: recusa-se a permanecer como as outras mães e ao mesmo tempo, vive na mesma teia do tédio que consome seu casamento.
Tal qual "Madame Bovary" (brilhantemente citada no filme), ela busca numa aventura fora do casamento, uma chance de escapar das responsabilidades que a vida em família parece cobrar.
Para tal, encontra um pai que permanece em seu complexo de Peter Pan. Olha insistentemente para os garotos no skate e não se esforça para dar o passo seguinte.
Soma-se a estas personagens, um pedófilo recém-libertado e que sofre as hostilidades da comunidade local. O clima de desajuste atinge a todos em diferentes níveis.
No final, todos no filme (e por que não imaginar que também na vida real) são crianças, tal qual no título original do filme ("Little children").
domingo, abril 15, 2007
Parabéns, meu irmão!
O grande choque nesta baliza do meu tempo pessoal veio com o meu irmão caçula. Para quem não sabe, tenho uma irmã e um irmão. Ambos mais novos.
Minha irmã é 4 anos mais nova. A diferença de idade entre mim e meu irmão é bem maior: 11 anos de diferença. Nunca senti a diferença de idade entre mim e minha irmã. Dizem que as mulheres amadurecem mais cedo do que os homens, talvez seja isso...
E talvez seja também por conta disso que todo mundo acha que minha irmã aparenta ser mais velha do que eu. rsrs.
Já, a diferença entre mim e meu irmão sempre me marcou bastante. Antes dele, eu não sentia realmente o tempo passando.
E de repente, aos 11 anos, estava ali trocando fraldas, esquentando mamadeiras e brincando de ser babá. Tentando identificar o significado de cada choro daquele ser que não emitia palavras inteligíveis para mim. Vibrando com o fato dele engatinhar e depois ficar em pé e dar os primeiros passos.
E vê-lo dizer o meu nome (tudo bem que o meu nome e o dele são iguais em certo grau... rsrs) e ensinar a escrever o nome dele na lousa que ficava pendurada na sala de jantar.
Com o meu irmão, sinto que passei por muita coisa que todos dizem que vão sentir apenas quando se tornarem pais. Então, acho que acabei me tornando um "pai" muito cedo. rsrs. Tudo bem que eu ficava apenas com as partes boas: a descoberta em conjunto.
Dos primeiros passos para as primeiras palavras. Depois, quando ia todos os dias para o trabalho, tinha que dar uma carona para ele até a escola. Eventualmente, buscá-lo depois do expediente na escola de inglês. Ir torcer nos campeonatos de natação. Levá-lo para assistir o filme dos "Cavaleiros do Zodíaco".
Aos 21 anos, curtia o fato de enriquecer minha vida participando da infância do meu irmão. Lembro de uma grande crise interna minha que foi quando eu descobri no meio das coisas do meu irmão uma camisinha (sim, eu dividia o mesmo quarto com ele).
Para mim, aquilo soou como um sinal dantesco de que o tempo estava realmente passando. Aquele ser que, para mim, até pouco tempo atrás usava fraldas, já estava usando estes outros acessórios? Bem, eu estava com 26, ele 15.
Ontem foi aniversário dele. 21 anos. E vejo nele uma grande fonte de alegria e orgulho (quase como se eu fosse o pai dele, mesmo sabendo que nosso pai é um pai excelente). E vejo também uma grande "régua" que marca que o tempo inexoravelmente também passa para mim...
quinta-feira, abril 12, 2007
A Terra é azul!
Eu pagaria para ver esta bunda...
Faz um tempo, vi esta frase do título estampada no meu MSN. O Fabrício, meu amigo programador-produtor de cinema-RPGista inveterado-que ainda deve uma visita para mim aqui em Santos, colocou esta frase e ela aparecia ali para mim, na janela do MSN.
Fiquei me segurando para não perguntar... afinal, também não queria ser indiscreto e perguntar sobre a bunda de quem ele se referia.
Ontem fui ao cinema (aproveitar esta onda de cinema ser mais barato às quartas) e me arrisquei a conferir "O cheiro do ralo". E então descobri sobre a bunda.
Imagine um dono de um antiquário, localizado em algum bairro industrial com aqueles galpões e a decadência pairando no ar. Imagine pessoas levando objetos antigos e repletos de história, num conflito entre se desfazer de algo signficativo para elas e a necessidade de dinheiro. Imagine uma lanchonete bem no estilo "sujinho" e uma atendente que tem o rosto parecidíssimo com a da Rossy de Palma e uma bunda que povoa o imaginário dos homens. Imagine um olho de vidro, uma caixa de dinheiro sobre a mesa e um cheiro fortíssimo que sai do ralo e que constrange inclusive quem não está nem aí com o que os outros pensam dele.
Imagine tudo isso e você ainda estará na superficialidade do que é "O cheiro do ralo". O filme é baseado no livro homônimo de Lourenço Mutarelli (que aparece no filme interpretando o segurança). Não li o livro, mas se aquilo que se mostra na tela for fiel a narrativa literária, vislumbro uma obra visceral.
Selton Mello está ótimo no papel de Lourenço, o antiquário misógino e apaixonado pela bunda da garçonete que o atende na lanchonete. Lourenço é vil e um apaixonado pelo poder. O poder de dizer sim ou não para quem o busca vendendo seus bens preciosos. O poder de comprar tudo o que deseja, inclusive a visão da bunda. O poder de criar inclusive a própria história e de criar um ideal de pai.
Lourenço aprecia o poder que tem e que acumula. Paga pouco por um faqueiro de prata. Apropria-se de discursos alheios. A única coisa que o incomoda é o cheiro do ralo porque ele não quer ser identificado com aquele cheiro.
O que posso dizer? O filme é imperdível. Sério candidato a filme cult. É uma pena que pareça já estar saindo das salas de cinema em São Paulo. Quem puder, vá conferir sem falta.
quarta-feira, abril 11, 2007
O ótimo é inimigo do bom
Apesar de ser descendente de japoneses, eu e a arte de dobrar papel não temos muita afinidade. Tive uma professora de japonês que tentava me ensinar a fazer estes "tsurus" (as cegonhas tradicionais como esta da imagem acima), mas nem toda a paciência zen dela foi o suficiente para me fazer aprender.
Enfim, mas voltando ao post que li... Lá, a experiência conduzida (e aqui recomendo fortemente a leitura) concluia sobre a prática que leva a perfeição. Acabei deixando o seguinte comentário:
"Uma outra lição que aprendi, faz um tempo atrás, foi que “o ótimo é inimigo do bom”. O contexto era o seguinte: elaboração de um projeto de curso. Eu já tinha pesquisado os temas e materiais, já estava com todo material de apresentação pronto e todas as dinâmicas desenhadas. Já estava com o schedule preparado e a avaliação de meio e final de curso prontas. Mas para mim, ainda faltava alguma coisa… Pressão total de prazos apertados. E minha diretora vai a minha mesa e vê todo o material produzido e diz: “mas você já está com todo o material pronto”.
E eu respondo dizendo que “o material ainda pode melhorar”. E eis que ouço “O ótimo é inimigo do bom. Temos um prazo apertado e você já tem um bom material para entregar. Com certeza, no próximo curso você já terá incrementado mais e o material irá melhorar sempre. Não se preocupe em fazer o material perfeito e definitivo para este curso. Porque ainda haverá muitos outros cursos…”.
No fundo, acho que é isso mesmo... a prática leva a perfeição. E se nos preocuparmos apenas em fazer o melhor numa única tentativa, talvez nunca cheguemos neste melhor. O melhor de nós construimos a cada novo passo, a cada nova etapa aprendida. Hoje gosto de acreditar que aprendi esta lição.
terça-feira, abril 10, 2007
Give green a chance...
Nesta semana tivemos o anúncio do relatório da ONU sobre os efeitos do aquecimento global. É claro que esta é uma realidade que já paira no ar desde os tempos da Eco-92, mas ao que parece, só agora resolveram apertar o botão de "alerta vermelho".
Com isso, boa parte da população mundial já deve saber (ou ouvido falar) de aquecimento global. Uma pena que isso se converta em poucas ações eficazes.
Numa pesquisa feita pela Fundação Procon/SP e divulgada no mês passado, percebe-se que os consumidores precisam ainda de uma injeção extra de conscientização ambiental.
Alguns dados da pesquisa:
* 51% dos consumidores não buscam saber se a embalagem é reciclável
* 21,94% dos consumidores mostram preocupação com a postura do fabricante em relação a ambiente e sociedade
* 41% não separam o lixo para reciclagem
O jeito é torcer para que o fato do aquecimento global estar em pauta, traga também um pouco mais de consciência (e ação... afinal, saber e não fazer, continua sendo não saber).
A indústria já começa a dar os passos para arrebatar mais consumidores. A Levi's anunciou o lançamento do primeiro jeans orgânico. Jaquetas e calças confeccionadas com tecido proveniente de algodão cultivado organicamente e sem utilização de produtos químicos.
E o Al Gore anunciou a série de concertos Live Earth. Algo na linha do que ocorreu no Live 8: concertos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, com o objetivo de disseminar a mensagem do perigo iminente do aquecimento global.
Sinceramente, não sei se shows ou novos produtos de moda irão impactar de alguma forma as pessoas. A esperança quer acreditar que sim. Mas o pragmatismo reluta um pouco.
Para saber um pouco mais sobre os efeitos do aquecimento global, vale a visita ao mapa mundial que mostra o aumento do nível do mar devido ao aquecimento global e seus efeitos. Uma espécie de Google Earth com simulação do aumento do nível dos mares (de 1 a 14m... a previsão otimista para os próximos anos é de que o nível do mar suba 2m). A previsão catastrófica, prevendo que inclusive todo o gelo da Antártida derreta (porque o Ártico já se foi) é de 67m!!
segunda-feira, abril 09, 2007
Entendendo o Botox
domingo, abril 08, 2007
Páscoa: da ressurreição ao chocolate
Aproveitando que este é o domingo de Páscoa, fiquei imaginando como seria nos tempos da ressurreição de Cristo.
quinta-feira, abril 05, 2007
1 ano... 365 dias... 8360 horas...
Vários amigos meus dizem que não entendem como eu consigo conhecer pessoas pela internet. Ahhh... eu acho que a internet é apenas mais um meio. Assim como a fila do cinema e festas de amigos de amigos e casamentos de pessoas que você conhece minimamente.
A questão é mais de abertura do que propriamente de usar o meio virtual para se conhecer alguém. E digo que minhas experiências com amizades virtuais está sendo bem positiva. Seja porque tenha conhecido muita gente interessante, seja porque ganhei novos amigos espalhados pelo Brasil.
Este meu amigo que conheci há um ano atrás disse que eu fiz uma aposta arriscada. Afinal, eu poderia me decepcionar. Risco? Talvez... mas acho que o risco maior nem era o de eu me decepcionar. O risco maior era o dele não querer este contato virtual. Afinal, nunca se sabe se o meu desejo de contato será refletido no outro lada da tela de um monitor.
Amizades simplesmente acontecem. Não há uma fórmula certa para isso: se eu fizer isso e disser aquilo, fulano será meu amigo. Isso seria denegrir todo o mistério da amizade.
E este mistério da amizade, de raposas e pequenos príncipes, de cativadores e cativos do afeto, que comemoro com este meu amigo maluquinho azul hoje.
Quadrinhos involuntariamente engraçados (ou "A maldade está nos olhos de quem vê")
Recebi um novo visitante aqui neste meu cantinho virtual. Como ele chegou até aqui? Será que eu o conheço? Bem, não tenho nem como rascunhar a resposta da primeira pergunta. Quanto a resposta da segunda: até onde eu me lembro, não o conheço... nem pessoalmente nem virtualmente.
Quer dizer, agora que ele me visitou, fui retribuir a visita no cantinho virtual dele. E sabe que curti muito o que vi por ali... Quem quiser, é só visitar o Leoboratorio.
De lá, acabei pinçando esta imagem de quadrinho de um post recente dele. Traduzindo os balões (da esquerda para a direita):
"- Não apenas vocês estão condenados... mas também todos aqueles que vocês tocaram!
- Jean Loring... assinei sua condenação!
- Eu dei a Iris West o beijo da morte.
- Carol Ferrie... em perigo mortal.
- Robin... O que eu fiz a você!"
De duas, uma: ou o roteirista desta história estava tirando um sarro dos boatos que envolvem um relacionamento entre Batman e Robin ou a maldade está realmente nos olhos (e na mente) de quem lê. rsrs
quarta-feira, abril 04, 2007
Comentários rápidos: 8 filmes
Ensina-me a viver
Senhora perto de completar 80 anos mostra que tem muito a ensinar sobre o prazer de viver para um jovem. Filme positivo. Sempre vale a pena rever.
300
Estética de sangue. Corpos perfeitos (nunca vi tanta abdomen "tanquinho"). História bem fiel aos quadrinhos. Visualmente poderoso.
Scoop - o grande furo
Sou suspeito para comentar. Adoro Woody Allen. Comédia com jeito antigo. Scarlett Johanson, linda como sempre, mostra-se com bom timing para comédia.
Letra e música
Crítica leve sobre revival dos anos 80 e indústria musical. História açucarada e sem profundidade. Diversão. E apenas isso.
Olhar estrangeiro
Documentário sobre o olhar de cineastas estrangeiros sobre o Brasil. Muita risada diante de tantos absurdos. Bom trabalho de pesquisa. Vale a pena conferir.
Anima mundi
O cineasta Godfrey Reggio e o compositor Philip Glass em mais uma parceria. Filme sem diálogos e apenas com imagens de animais, com chancela do WWF - Fundo Mundial para a Vida Selvagem. Alma do mundo.
Em busca dos Friedmans
Documentário sobre a desintegração familiar quando pai e filho são acusados de pedofilia e abuso sexual. Dá pra se questionar as ações da justiça e da mídia.
Quanto vale ou é por quilo?
Depois de "Cronicamente inviável", outro soco no estômago. Crítica mirando a ação das ONGs e das campanhas beneficentes. Sabia que com aquilo que as ONGs que cuidam de crianças de rua gastam com publicidade, salários, aluguéis e custeio de despesas de viagens dos conselheiros daria para fornecer uma renda de U$10.000,00 anuais para cada criança do estado de São Paulo? Chocante, não é? Recomendadíssimo.
segunda-feira, abril 02, 2007
Maturar
Quando você envelhece, descobre que os amigos ranzinzas ficam mais ciumentos, prática sem cura, e você pára de implicar com eles e se diverte. Como pára de implicar com o blefador, que continua o mesmo, com o pão-duro, que só piora, com o teimoso, que insiste mais em suas opiniões, mesmo se estiverem furadas. Descobre que o engraçado tem novas e mais sofisticadas tiradas, e que a risada dele continua estremecendo o baralho.
Descobre que a ressaca do uísque é melhor do que a da pinga, que prosecco e champanhe são só para brindar, que o vinho tinto argentino melhora a cada safra. Descobre que a comida deve vir com pouco sal e a salada, com muito azeite. Descobre que tomate e maçã fazem bem e embutidos, mal. Que queijos magros são mais aconselháveis do que aquele brie ou emental. Descobre que em inauguração de restaurante não se come, e que, em lançamento de livro, o vinho branco é alemão.
Descobre que aquela mulher por quem você foi apaixonado continua apaixonante e o deixa sem graça toda vez que seus olhares se cruzam. E, mesmo que ela tenha se casado com seu inimigo, com quem teve quatro filhos, continua irresistível, e você fica sem graça ao lado dela como se ainda tivesse 16 anos, e ela sabe disso, e você não sabe por que enrolou tantas décadas nem por que você não a seqüestrou logo quando se conheceram na escola.
Quando você envelhece, descobre que todas as suas ex merecem carinho, um presente, um almoço, ou até um simples conselho, um telefonema eventual, um e-mail, talvez, perguntando se está tudo bem, se precisa de ajuda. E descobre que o fim da história mal resolvida não tem explicação. E se ela perguntar um dia se você entendeu as decisões dela, você devolve: - "De ter me largado? Não, e você, entendeu?" Sabe o que ela dirá? - "Também não ."
Descobre que os filhos, quando crescem, não têm nada a ver com os pais e nem se encaixam nas projeções, comparações ou expectativas criadas na infância.
Descobre que, mesmo filiado a uma geração que quebrou tabus e diminuiu o gap entre pais e filhos, os segundos nunca entenderão os primeiros, haverá um conflito que parece ser a força motriz das relações: o novo nega o antigo, o dominante perde espaço, o gene é aprimorado.
Você descobre que a moda da sua adolescência volta. Com outros pingentes e significados. A roupa não vem com a simbologia contestatória ou alienante, nem com a mesma trilha musical ou discussões existenciais. A bata que você usou no passado vira moda novamente, mas não se cantam as mesmas músicas, nem se debatem os mesmos dilemas. A roupa volta sem conteúdo ideológico.
Descobre que as modas seguem um princípio dialético que se repete. O beat veio pra contestar o acomodado anterior. E sempre vem algo pra conservar. O hippie veio pra contestar, a disco veio pra acomodar, o punk veio pra contestar, o yuppie veio pra acomodar, o dark, pra contestar, o new wave, pra acomodar, o grunge, pra contestar, o clubber, pra acomodar, o britpop, contestar, o emo, acomodar.
Mas, de repente, ao envelhecer, você descobre que tais conceitos são relativos, como tudo, que o cara da discoteca queria dançar, como o cara da onda new wave e clubber, que há contestação no ato de pular e dançar com roupas coloridas em momentos obscuros, e há acomodação no paz e amor do hippie, que produziu o pseudo-acomodado punk niilista e autodestrutivo.
Quando você envelhece, lê cada vez menos matérias que falam de saúde ou milagres da medicina. Porque você sabe que já afirmaram que café faz mal, e já afirmaram depois que faz bem, o mesmo com o sal, o mesmo com o vinho, já aconselharam comer uma castanha-do-pará por dia e já desaconselharam, o mesmo com a pílula de alho, complexos vitamínicos, aspirina, Ginkgo biloba, até açaí. Depois de ser banida de todas as listas de dietas aconselháveis, agora dizem que carne vermelha faz bem. Que vitamina C não cura gripe, todos sabem, mas todos continuam tomando e apostando nela.
Se você está nos entas, já deve ter parado de fumar, trocou a Coca pela água com gás, e sabe que está na hora de aprender para que servem alguns botões do DVD ou comandos do celular, e sabe que está na hora de começar a ler manuais de aparelhos que estão cada vez mais sofisticados. Ler com óculos de leitura, óbvio.
Você sabe que envelheceu quando confunde giga com mega, ainda diz liquidação, em vez de sale, não sabe se o trema foi abolido, usa ASA e não pixel, descobre que as letras das bulas ou dos rótulos são em outra língua e ilegíveis, e que ler cardápio à luz de velas é desesperador.
Lamenta que o Brasil de fato não tem jeito, não cresce, é resistente a mudanças, é conservador, evita discutir temas como aborto, eutanásia, descriminalização da maconha, união homossexual, tem dificuldades em se enquadrar no time de países progressistas, e que a desigualdade só aumenta, a corrupção, idem, as favelas, idem, sabe que antes da Copa do Mundo tem aquela barulheira ufanista, e que se o Brasil perde vão procurar um culpado e terá até CPI, sabe que brasileiro não sabe perder no futebol, que continuarão a invadir gramados, e nunca ninguém será preso, que muitos camelôs venderão contrabando ou falsificados, que na apuração do carnaval vai rolar briga e protestos, na novela alguém será assassinado, outro descobrirá que não é filho de quem pensa que é, que um teminha polêmico, tipo casal do mesmo sexo se beijando, será debatido por colunistas e reprovado por religiosos.
A vantagem de envelhecer? Retirar da vida expectativas que só a tornam mais complicada e descobrir que no fundo ela é também engraçada.
(Marcelo Rubens Paiva - crônica publicada originalmente no Jornal "O Estado de São Paulo" no dia 29/07/2006)
Está insanamente ocupado?
Ando em falta por aqui... mas ando em falta com milhões de outras coisas. Aí, li este artigo da colunista do NYT, Lucy Kellaway. Uma certa identificação. E pensando ainda se compartilho ou não da opinião dela.
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De tempos em tempos eu digo ao meu marido que sou uma mulher à beira de um colapso nervoso. Então exponho item por item tudo o que fiz naquele dia e todas as coisas que farei no seguinte.
A lista é interminável: artigos para escrever, mensagens cansativas para ler e enviar, uma luz piloto com problemas na caldeira, um kit esportivo infantil que foi descuidadamente esquecido no ônibus e assim por diante. Quando termino ele sempre diz, de uma forma um tanto professoral: "Você leva uma vida muito feliz e plena. Você não iria querê-la de outra forma".
Isso fica aquém da resposta que buscava, que é: "Você é uma maravilha!" ou pelo menos, "posso lhe preparar uma xícara de chá?" Mas o que é ainda mais incômodo é a suspeita de que ele possa estar certo. Minha vida atarefada pode não ser o que está me empurrando ao limite. Pode ser a coisa que me mantém sã.
Essa suspeita cresceu na semana passada após ler "CrazyBusy" (insanamente ocupado), um guia de auto-ajuda para aqueles que têm coisas demais a fazer. O subtítulo, "Sobrecarregado, superatarefado e prestes a estourar", transmitia alguma esperança de que o autor, o dr. Edward M. Hallowell, poderia me entender de uma forma que meu marido evidentemente não entendia.
Segundo o dr. Hallowell, esse excesso de atividade é endêmico. Quase todo mundo está ocupado demais. Nós todos estamos correndo mais e mais rápido em nossa agitação diária viciante e sem sentido, nos tornando ineficientes, desgastados e irritáveis. Nós estamos tão ocupados respondendo a exigências aleatórias que estamos perdendo de vista as coisas que importam. Nós paramos de pensar e estamos desperdiçando nossas vidas.
O dr. Hallowell percebeu quão ruins as coisas se tornaram quando certo dia recebeu uma paciente em seu consultório e ela lhe perguntou se era normal que seu marido mantivesse seu BlackBerry ao lado dela enquanto faziam sexo. "O fato de essa mulher não ter idéia de que o comportamento de seu marido era inaceitável, se não insano, foi o momento em que tive certeza de tínhamos criado um novo mundo", ele escreve.
Ler aquilo foi o momento em que tive certeza de que estar atarefada não era um grande problema e que o assunto é tratado com excesso de sentimentalismo. Primeiro, os hábitos de quarto deste casal. Os aparelhos que eles mantêm próximos deles enquanto copulam é problema deles. Eu não vejo nada de errado em ter um BlackBerry em um lado da cama, e aposto que muita gente faz isto.
Certamente há telefones em quartos há muito tempo e eles certamente são mais intrometidos, já que tocam. Mas de forma mais geral, toda a tese está errada - estar atarefado não é uma maldição da vida moderna como o dr. Hallowell sugere. Apesar de estar insanamente ocupada e passar grande parte do meu tempo distraída, perdendo coisas e enviando mensagens inúteis, eu não vejo evidência de que isto esteja atrapalhando minhas prioridades.
No meu criado-mudo tenho "A Abadia de Northanger" (que alguém poderia argumentar ser uma barreira tão grande à intimidade quanto um BlackBerry). O livro serve como um lembrete do que as pessoas costumavam fazer antes de estarem insanamente ocupadas.
Na época de Jane Austen havia outra compulsão social ainda mais preocupante que afligia a classe média: o ociosidade insana. Em Bath (que era altamente estimulante em comparação ao interior), as mulheres não pensavam em nada sobre não fazer nada toda manhã e então ir toda tarde ao Pump Room para assistir outras fazerem muito pouco.
E longe de tal inatividade clarear a mente para grandes pensamentos, a srta. Allen apenas se preocupava sobre se era melhor vestir o vestido de musselina liso ou com prega. Nem suas vidas eram melhores por serem poupadas da correria insensata da tecnologia. Pelo contrário: a cena dolorosa em que Catherine aguarda por uma hora pelo charmoso sr. Tilney, apenas para ser levada pelo insosso sr. Thorpe, nunca teria ocorrido caso o sr. Tilney lhe tivesse enviado uma mensagem de texto dizendo "vejo você mais tarde".
Um exemplo ligeiramente mais atualizado da superioridade do atarefamento é apresentada por uma amiga que é uma mãe e mulher que trabalha fora bem-sucedida e que no último fim de semana foi a uma fazenda spa para fugir de seu estilo de vida maníaco. Quando ela voltou, eu perguntei se foi bom. "Não", ela disse. A ociosidade forçada foi sem sentido e deprimente, especialmente quando ela teve que se sentar quieta com uma máscara de aveia fétida aplicada no rosto.
O dr. Hallowell teria pouca fé nisto. Ele diria que ela era uma viciada enfrentando sintomas de abstinência: que nosso excesso de atividade nos torna hamsters em uma roda e que quando saímos dela nos sentimos inúteis, tontos e desesperançosos. Mas há outra explicação melhor. Ser insanamente ocupado (mesmo quando periodicamente faz você se sentir à beira do colapso) ainda é muito melhor do que ficar sentado inutilmente com mingau no rosto.
Eu posso pensar em cinco motivos para isto. Estar ocupada significa que você consegue realizar as coisas, e esse é um dos maiores prazeres da vida. O ditado: "Se deseja que algo seja feito, peça a uma pessoa ocupada", é verdadeiro.
# Estar insanamente ocupada faz você se sentir importante, o que é sempre bom.
# Estar insanamente ocupada é empolgante. Correr de um lado para outro fazendo coisas aumenta o batimento cardíaco de forma satisfatória. E se, como alerta o dr. Hallowell, isto é uma droga -e daí? Ela não tem os efeitos colaterais do crack.
# Estar ocupada encoraja o tipo certo de pensamento. Eu tenho quase todos meus lampejos de inspiração quando estou fazendo outra coisa -conversando com alguém, pedalando, colocando as roupas na secadora.
# Estar muito ocupada desencoraja o tipo errado de pensamento. Ele expulsa por excesso de lotação pensamentos como: o que vou fazer da minha vida, qual é meu sentido como pessoa e eu vou morrer em breve. E essa é sua maior bênção individual. E esse é o motivo para agora, ao pensar em todas as coisas que precisarão ser feitas hoje, isso me lembrar de que elas são um cobertor de segurança para proteger minha alma.