terça-feira, janeiro 30, 2007

Ayahuasca: por dentro do caleidoscópio

Nem imaginava que para participar do cerimonial, teria que fazer tantos preparativos. Não ingerir carne vermelha nem alimentos gordurosos até 3 dias antes. Não ingerir bebidas alcóolicas. Abster-se de sexo até 24 horas antes do ritual.

Aff... Bem, nada de muito sacrificante. Preparativos tranquilos... se bem que, por estas ironias do destino, na véspera do dia do ritual, fui convidado para um churrasco. Para não cair em tentação de provar uma fatia de picanha, preferi recusar e fiquei mesmo em casa.

No sábado a noite, fui para o local do ritual xamânico. Confesso que havia uma certa ansiedade em relação ao que me aguardava, mas a curiosidade continuava ali.

A ayahuasca é um chá de cor castanha, só que diferente dos chás comuns, não é translúcido. Tem uma cor que remete a cor da terra. A pessoa que conduzia o ritual entregou um copo americano de vidro com uma dose bem menor do que a servida para os outros. Afinal, esta era minha primeira vez... melhor pegar mais leve.

Ao levar o líquido para boca, um sabor ácido, lembrando muito vinagre dominou o paladar. Uma mistura de sabores que transitava entre o silvestre, a terra e o ácido. Após a ingestão, todos ficam sentados e o mestre que conduz o ritual coloca algumas músicas instrumentais e faz algumas chamadas.

O que posso dizer das sensações? Isso é algo mais difícil. Posso começar dizendo que a sensação física é boa. Sabe aquela sensação que te acompanha quando você está acordando mas ainda sente vontade de dormir? A visão fica meio nublada e você enxerga mais as auras de luzes do que propriamente as luzes. A sensação é mais ou menos esta só que ela persiste durante todo o tempo do efeito do chá.

A percepção realmente fica alterada. Você sente como se não estivesse no seu próprio corpo, como se apenas o observasse de fora. As sensações de tato ficam aguçadas e cada movimento é uma redescoberta do próprio corpo. Você começa a atentar para detalhes que te passam despercebidos no dia-a-dia: a pressão das mãos que se apóiam nas pernas, o arquear leve das pernas ao se sentar, a respiração no movimento do diafragma...

A consciência corporal é intensa. E cada sensação te leva a uma redescoberta de si. E o mais interessante é que cada sensação é única. Por mais que você queira repetir uma sensação, você não consegue. Como se você estivesse dentro de um caleidoscópio de sensações.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Ayahuasca: Coletando informações e relembrando experiências anteriores


Minha curiosidade é o motor que me impulsiona para muitas coisas. Minhas ações, minhas leituras, meus estudos... tudo movido pela curiosidade. Aquela vontade de saber mais e, mesmo que a experiência não seja boa, ao menos descobri que aquilo que provei ou vi ou tentei não era bom.

Se eu tiver que falar de alguma coisa, que eu fale com conhecimento de causa.

Pois bem, neste início de ano fui convidado para participar de uma cerimônia de cunho espiritual que envolvia o uso da ayahuasca.

Para quem não sabe, a ayahuasca é um chá preparado com o cipó mariri (ou caapi) e as folhas da chacrona. O nome ayahuasca vem de uma palavra de origem quéchua e significa "cipó dos espíritos".

O nome faz uma referência direta ao uso em cerimoniais religiosos de tribos indígenas da região amazônica. Desde os anos 50, algumas seitas religiosas tem divulgado o uso da ayahuasca: o Santo Daime, a UDV - União do Vegetal e a Natureza Divina.

Ao ser convidado, várias perguntas vieram. Será que faz mal a saúde? Em que será que isso afeta o meu corpo? Será que vou ter algum descontrole depois da ingestão?

Minha relação com drogas é até um pouco conservadora. Nunca fumei cigarros. O vício da nicotina nunca me atraiu. Aliás, nem bebo café também (a cafeína é outro vício ao qual não fui atraído também).

Curtia sim algumas bebidas alcóolicas, mas nunca fui daqueles que bebia demais. Parei por conta de um problema de fígado. Adorava um vinho, uma caipiroska de lichia, um gin-fizz, um mojito com muita hortelã...

Maconha? Provei algumas vezes mas nem sinto muita coisa. Por isso nem me atrai. Quando estive em Amsterdã, até entre num daqueles "brown coffees" e vi com curiosidade o cardápio de "baseados". Provei apenas um "space cake" e posso dizer que minha experiência foi "pirante".

Na semana passada surgiu a oportunidade de provar a ayahuasca. E o motorzinho da curiosidade começou a acelerar...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

I'm from Barcelona


Todo verão pede o seu som! Já tive a minha fase Jorge Benjor, já passei por verões mais melancólicos regados a muito R.E.M. e outros mais leves no qual o disco Acústico MTV Kid Abelha não saia do player.

Nese verão, tive a sorte de descobrir uma banda sueca: I'm from Barcelona.

São 29 integrantes (na foto acima, nem todos aparecem) e, apesar do nome, nenhum deles veio de Barcelona.

Para quem quiser experimentar, o CD "Let me introduce my friends" é de uma astral leve e para cima. Combinando com a alegria inerente dos dias de sol. Por que a gente sorri quando vê um céu azul-de-brigadeiro? Talvez porque apenas sinta lá dentro que é tempo de curtir.

Enquanto escrevo, ouço a faixa We're from Barcelona. Esta e Treehouse são as minhas favoritas.

domingo, janeiro 21, 2007

Matéria: As dez invenções brasileiras mais injustiçadas



Li uma matéria interessante na revista Mundo Estranho (sim, eu sou daqueles que curtem a cultura de almanaque e as curiosidades). Interessante saber que tanta coisa foi feita aqui por pessoas de Terra Brasilis mas que dificilmente são lembradas.

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Nem só de samba, caipirinha e bossa-nova vivem os inventores brasileiros! Da mente
de nossos compatriotas já surgiu um monte de inovações científicas - muitas delas nunca foram reconhecidas. Dedicamos este Top 10 às mais esquecidas criações made in Brazil

10) AVIÃO
SANTOS DUMONT - 1906

Até que essa invenção não é assim tão injustiçada...
No ano passado, centenário dos primeiros vôos com o 14 Bis, Santos Dumont recebeu homenagens no Brasil e até na Europa. Mas, por causa dos americanos, a paternidade do avião ainda é polêmica. Segundo eles, os verdadeiros "pais" do invento seriam os irmãos Orville e Willbur Wright, que em 1903 voaram com o Flyer I.

Os Wright fizeram seu avião voar com a ajuda de uma catapulta. Dumont foi o pioneiro da decolagem "autônoma": o 14 Bis subiu impulsionado por um motor a combustão.


09) DIRIGÍVEL SEMI-RÍGIDO
AUGUSTO SEVERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO - 1902

Trabalhando em Paris, esse brasileiro desenvolveu o projeto do primeiro dirigível "semi-rígido" - em vez de usar apenas tecido, parte da estrutura do invento tinha uma armação de metal para melhorar a sustentabilidade. Criatura e criador tiveram um fim trágico: no vôo inaugural, quando o dirigível estava a 400 metros de altura, uma explosão detonou o aeróstato e matou os dois tripulantes - Severo e seu mecânico.

Apesar de pouco conhecidas, as inovações estruturais do dirigível semi-rígido ajudaram a aperfeiçoar o zepelim, inventado em 1900.


08) ABREUGRAFIA
MANUEL DIAS DE ABREU - 1936

Esse nome complicado indica um método rápido e barato de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões, para facilitar o diagnóstico da tuberculose, doença mortal no início do século 20. O teste, que registra a imagem do tórax numa tela de raio X, espalhou-se pelo mundo.

O inventor do exame, Manuel de Abreu, foi indicado ao Nobel em 1950 e teve o invento batizado em sua homenagem. Mas só no Brasil: em outros países, o exame recebeu nomes como "schermografia" (Itália), "roentgenfotografia" (Alemanha) e "fotofluorografia" (França)...

07) BALÃO A AR QUENTE
BARTOLOMEU DE GUSMÃO - 1709

Na frente do rei de Portugal D. João VI, o padre Bartolomeu de Gusmão fez a primeira demonstração pública da Passarola, um engenho voador que levitou a 4 metros de altura. A idéia surgiu quando o religioso observou uma bolha de sabão e sacou que o ar quente
é mais leve que o ar exterior, e pode ser usado para fazer coisas vagar pelo ar.

O balão foi visto com graça, mas ninguém botou fé na invenção. Em 1783, os franceses Étienne e Joseph Montgolfier criaram um balão nos mesmos moldes
do Passarola. Entraram para a história como pioneiros...


06) ESCORREDOR DE ARROZ
BEATRIZ DE ANDRADE - 1959
Muitas vezes a gente pensa que coisas simples do dia-a-dia surgiram há muito tempo, quem sabe na Antiguidade ou até na Pré-História... Não é o caso da bacia conjugada a uma peneira que a gente usa para lavar o arroz: a criação, 100% brasileira, é da dona-de-casa Beatriz de Andrade, que vendeu os direitos do aparelho para um fabricante de brinquedos.

O invento fez o maior sucesso na Feira de Utilidades Domésticas de 1962. Como Beatriz recebia entre 2,5% e 10% das vendas, o escorredor deu uma bela força a seu orçamento familiar.

05) RADIOTRANSMISSÃO

ROBERTO LANDELL DE MOURA - 1899

Padre brasileiro, Landell foi o precursor na transferência de voz por ondas de rádio. Da avenida Paulista, o cara emitiu um som ("Alô! Alô!") que foi ouvido a 8 quilômetros de distância num telefone sem fio. No mesmo ano, o italiano Guglielmo Marconi, mundialmente considerado o pioneiro da radiotransmissão, só conseguiu transmitir sinais telegráficos (aquele "tec-tec-tec") a algumas centenas de metros.

O nome de Landell só foi conhecido no mundo em 1942, quando a Justiça americana decidiu que Marconi (que leva a fama até hoje) não era o inventor da radiotransmissão.


04) IDENTIFICADOR DE CHAMADAS (BINA)

NÉLIO NICOLAI - 1982

O mineiro Nélio Nicolai foi o inventor da tecnologia capaz de identificar o número telefônico de quem faz e recebe ligações. Ele tem a patente da criação, batizada de Bina - sigla que significa "B Identifica Número de A". Mesmo assim, ele vem travando uma briga na Justiça do Brasil e de vários países para provar que o invento é seu.

Ele alega que as operadoras e fabricantes de telefones copiaram na caradura a tecnologia que ele inventou, sem pagar nem um tostão de direitos autorais.


03) DIRIGÍVEL
JULIO CEZAR RIBEIRO DE SOUZA - 1880

O paraense Julio Cezar mandou bem unindo o balonismo e a aviação para conceber o primeiro dirigível de todos os tempos. Mas o problema é que ele demorou para dar asas à novidade... Em 1884, o cara recebeu a notícia de que os franceses Charles Renard e Arthur Krebs haviam plagiado o seu projeto e realizado pela primeira vez na história um vôo a bordo de um balão dirigível. E o pior: sem fazer qualquer referência às teorias do inventor brasileiro!

Apesar de ter patenteado sua invenção em 1881, Julio Cezar nunca conseguiu voar com seu invento. Foram algumas tentativas frustradas e só.


02) FOTOGRAFIA
HERCULES FLORENCE - 1832

Nascido na França e radicado na atual Campinas (SP), esse franco-brasileiro foi quem primeiro descobriu uma forma de gravar imagens com o uso da luz. Ele bolou um método para imprimir fotos usando papel sensibilizado com nitrato de prata - princípio fotográfico usado até hoje em revelações. Nascia a photografie.

Três anos depois, o processo de revelação fotoquímica ganhava notoriedade na França com as pesquisas de Louis Daguerre e Joseph Niépce. Ao saber que os franceses estavam sendo considerados os pais da fotografia, Florence abandonou as pesquisas.


01) MÁQUINA DE ESCREVER
FRANCISCO JOÃO DE AZEVEDO - 1861
A invenção do padre Azevedo parecia com um piano de 24 teclas que imprimiam letras num papel - para mudar de linha, era preciso pisar em um pedal na parte de baixo do aparelho. Alegando estar velho e doente, o padre entregou seu invento ao negociante George Napoleon Yost, com a promessa de que havia pessoas interessadas em fabricá-lo nos Estados Unidos. Péssima idéia...

Em 1874, o americano Christofer Sholes apresentou um modelo quase igual ao do padre Azevedo. A empresa Remington se interessou e passou a fabricar as máquinas, sem nem lembrar do brasileiro.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Minha pátria é minha língua?


Hoje recebi um e-mail interessante falando sobre os "novos verbos" incorporados à língua portuguesa. Sei que língua é algo vivo, que está sempre incorporando novas palavras, novas influências. A língua portuguesa que falamos hoje é completamente diferente da que os portugueses de 1500 falavam. Quanta evolução em apenas 500 anos.

Influências negras, indígenas, árabes... influências vindas de todos os continentes (como pude conferir lá no Museu da língua Portuguesa).

Mas, voltando ao e-mail que recebi hoje. Lembrei muito de uma amiga minha, a Rosana Tibúrcio (que sempre está por aqui lendo os posts) e da forma como ela me faz observar o uso correto da língua. Sorte a minha ter uma amiga assim, que me corrige e me orienta.

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Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma coisa, que eu não quero. Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações me disponibilizem. É uma questão de princípios. Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar, talvez eu venha a topar. Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu aceite. Mas, se você insistir em disponibilizar, nada feito.

Caso você esteja contando comigo para operacionalizar algo, vou dizendo desde já: pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para ninguém e nem compactuo com quem operacionalize. Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu ponho em operação. Se você pedir com jeitinho, eu até implemento, mas operacionalizar, jamais.

O quê? Você quer que eu agilize isso para você? Lamento, mas eu não sei agilizar nada. Nunca agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos agilizar. Precisando, eu apresso, eu priorizo, eu ponho na frente, eu dou um gás. Mas agilizar, desculpe, não posso, acho que matei essa aula.

Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador. Só por cima do meu cadáver virtual. Prefiro comprar um computador novo a reinicializar o antigo. Até porque eu desconfio que o problema não seja assim tão grave. Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de simplesmente reiniciar, e pronto.

Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de utilizar. Assim, sem mais nem menos. Eu sei, é uma atitude um tanto radical da minha parte, mas eu não utilizo mais nada. Tenho consciência de que a cada dia que passa mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu parei. Não utilizo mais. Agora só uso. E recomendo. Se você soubesse como é mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.

Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar".

Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". Todos os dias, os maus tradutores de livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram perfeitamente claras e eufônicas.

A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como vai admitir, digamos, "viabilizar"? É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um palavrão.

Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal inventabiliza só para complicabilizar. Caso contrário daqui a pouco nossos filhos vão pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações: "Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito que eu bem quilibiliser". Problema seu. Me inclua fora dessa.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Os apóstolos


Uma série de tiras em quadrinhos que fala sobre Jesus Cristo e os apóstolos? Para quem curte um humor repleto de acidez, vale a pena ler mais em "Os malvados" de André Dahmer.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Eu queria não te odiar...


Trilha sonora: "Simples desejo" da Luciana Mello. Aquela voz suingada dizendo "hoje eu só quero que o dia termine bem".

- Eu não quero ficar aqui. Não quero participar deste encontro...
- Por quê?
- Porque eu não quero odiá-la. E eu já sinto uma certa raiva corroendo minha alma.

Eu não queria sentir isso tudo. E acho que de tanto lutar contra esta raiva que insistia em ficar presa na minha alma tal qual tatuagem indesejada, o corpo reagiu com uma dor de cabeça violenta.

Eu não quero odiar ninguém. Mas tudo parece ser tão injusto... eu sempre tentei ser uma pessoa boa, sempre busquei tratar os outros como gostaria de ser tratado (como diz a "regra de ouro" de todas as religiões) e mesmo assim, tenho que enfrentar alguém que se declara contra mim.

Por que as pessoas encrencam justamente com aquelas que não querem mal nenhum? Não que eu seja um santo, mas não sou daqueles que parte para a guerra por conta de qualquer coisa.

E de repente, ouço que não sou bem-vindo e que minha presença é indesejável. Sinto um aperto no coração tão grande. E eu simplesmente não queria odiar estar pessoa. Mas é tão difícil...