terça-feira, novembro 28, 2006
O melhor lugar para... - um guia de Sampa: parte 3 de 3
21: O melhor lugar para sentir o cheiro do campo
Saudade do cheiro da fazenda? Graças à cavalaria da Polícia Militar, ele é garantido na avenida Tiradentes, na área central. Diferentemente dos cachorros, cujos donos são obrigados por lei a recolher seus dejetos, os cavalos da PM vão deixando suas necessidades fisiológicas (bem maiores, aliás) pelas ruas. É campo, sim -minado.
22: O melhor lugar para se sentir no Rio
Qual a diferença entre andar de montanha-russa no Playcenter e pegar um ônibus no balneário carioca? Bem, na montanha-russa, o carro subir e despencar faz parte da brincadeira e costuma acabar bem. Já nos coletivos cariocas, o chão é o limite e os desavisados freqüentemente beijam a lona. E a semelhança? A adrenalina. Nas curvas, a impressão é a de que o carro (em ambos) vai ficar em duas rodas -e não adianta segurar nas barras de ferro e fechar os olhos ou você vai perder a única coisa que faz o ônibus carioca levar vantagem: a paisagem das praias é muuuiiito melhor que a vista da marginal Tietê.
23: O melhor lugar para sentir numa rua fantasma de madrugada
Há mais de 400 anos, era o caminho que ligava o colégio dos Jesuítas ao mosteiro São Bento; chamava-se então rua do Rosário. Depois da República, o nome mudou para 15 de Novembro. Hoje, a colméia humana do dia vira cenário de cidade abandonada à noite. Na dúvida, respeite o passado e leve um terço: o lugar é tão deserto que você se assusta com a própria sombra e o eco dos passos.
24: O melhor lugar para ficar invisível
Faça como os bichos, camufle-se na paisagem. Um bom lugar para isso é misturar-se à massa compacta que atravessa o cruzamento da Paulista com a Brigadeiro Luiz Antônio, na hora do almoço ou do rush, quando o farol de pedestres abre. É ali que os batedores de carteira aproveitam o truque da invisibilidade para incrementar o faturamento.
25: O melhor lugar para ter um ataque de pânico
Poucas coisas são mais claustrofóbicas do que 1 milhão de pessoas espremidas na 25 de Março -é o equivalente ao dobro da população de Luxemburgo (443 mil) em uma rua. Mas sossegue, isso só acontece em datas comerciais importantes: o movimento normal é só de 500 mil pessoas -quase o dobro da população de Barbados (275 mil).
26: O melhor lugar para achar frutas de plástico
Mais um ponto para a 25 de Março: é o melhor lugar para comprar não apenas frutas de plástico, mas também barbeador elétrico falsificado, remédio natural para reumatismo, violão chinês, gongo, máscara do Batman, bolinhas de isopor, anão de jardim, gravata do Mickey, camisa da Portuguesa... Tudo o que você não precisa você encontra lá.
27: O melhor lugar para namorar na praça como no interior
A praça da Matriz, na Freguesia do Ó, tem tudo: a igrejinha, bancos, jardim, pipoqueiro e botequim. Com 144 mil habitantes, a Freguesia ainda conserva certo ar de interior paulista, não à toa. Um dos bairros mais antigos de São Paulo, era na então "distante" Freguesia que os bandeirantes paravam para abastecer antes de enfrentar as longas viagens pelo interior.
28: O melhor lugar para exibicionistas/ voyeuristas
Sem dúvida, o Minhocão, e em duas vias. De fora para dentro, quem mora nos andares mais baixos dos prédios vira personagem de "reality show" diurno: de carro, no trânsito parado ou perambulando no viaduto aos domingos, é difícil não esticar os olhos para uma das centenas de janelas, onde sempre tem alguém em ação. De dentro para fora, os shows são noturnos e, portanto, mais "hardcore": com o elevado fechado, moradores de rua, notívagos e os praticantes da mais velha profissão do mundo mostram a vida como ela é.
29: O melhor lugar para se sentir na polinésia francesa
Não é preciso atravessar o Pacífico Sul. Essa pequena e ensolarada ilha deserta fica em plena represa de Guarapiranga, a 2 km da avenida Robert Kennedy, em Interlagos, zona sul. O lugar, originalmente chamado de ilha das Formigas, por causa de suas minúsculas moradoras autóctones, tem duas árvores e um farol, nada mais. Paul Gauguin estranharia a falta de belas nativas, mas não poderia reclamar da praticidade: em 15 minutos de barco, ele estaria em São Paulo. Só não se sabe para quê.
30: O melhor lugar para despedidas amorosas
Separação tem que ser triste, e a rodoviária Tietê é o cenário perfeito. O ritual do adeus é longo: você pode pegar o metrô com a pessoa amada, carregar suas malas, esperar na plataforma e dar tchauzinho pela janela; com sorte, ele/ela se senta do lado direito, prolongando o adeus até que o ônibus faça a curva e deixe de vez o terminal. Melhor que em "Casablanca" (tem até aquela névoa da cena final, a diferença é que aqui cheira a diesel).
segunda-feira, novembro 27, 2006
O melhor lugar para... - um guia de Sampa: parte 2 de 3
11: O melhor lugar para marcar encontros pela internet
O Conjunto Nacional tem tudo o que você precisa. É fácil chegar, de metrô, de ônibus ou de carro. Tem um café, para iniciar a conversa; uma livraria, para descobrir gostos em comum; um cinema, caso a história evolua para algo mais romântico; restaurantes, se precisar espichar o papo; e uma galeria, para uma digestão culturete. E tem solução para qualquer desfecho: uma farmácia, para comprar camisinha; um hotel com preço honesto na mesma calçada; e policiamento, caso seu
amigo virtual se transforme em perigo real. Melhor de tudo: também permite passar incógnito, se um dos dois mentiu deslavadamente sobre a triste figura.
12: O melhor lugar para exorcizar seus demônios
Dizem que a melhor forma de se proteger contra assaltos na praça da Sé é correr para dentro da catedral. Em princípio, nenhum cristão seria capaz de cometer tal ato dentro da casa de Deus. Mesmo que não funcione - caso o larápio seja ateu ou um neoliberal extremado - entrar na igreja lava a alma de qualquer pecador. Desde a reforma, em 2002, ela está impecável.
13: O melhor lugar para PEGAR UM BRONZE
Parque Ibirapuera. A praça da Paz, onde acontecem os shows gratuitos, é uma vasta área verde sem nenhuma árvore que atrapalhe a visão do palco. Portanto, sem nenhuma sombra para se proteger do sol. Na hora do entusiasmo, você nem se lembra disso. Depois, nunca mais esquece. A marca da camiseta o persegue por meses a fio.
14: O melhor lugar para xingar o juiz
No pequeno e aconchegante estádio do Juventus, na Mooca, dá para escutar até as instruções do técnico. Primeiro, porque o torcedor fica muito perto do gramado; segundo, porque a torcida juventina muitas vezes não chega a mil pessoas.
15: O melhor lugar para pensar que São Paulo não tem mar
Faróis servem para orientar navegantes sobre a entrada de portos ou sinalizar áreas perigosas, como a presença de recifes. Qual seria a função de um farol de navegação em plena São Paulo? O farol do Jaguaré, na rua Salatiel de Campos, tem 23 metros e foi erguido na década de 1930 pelo primo de Santos Dumont, o urbanista Henrique Dumont Villares, com o objetivo de orientar embarcações no rio Pinheiros. Seu relógio não funciona, mas o farol está aberto à visitação pública.
16: O melhor lugar para ter o carro levado pela enxurrada
Não há seguradora capaz de contestar o sinistro. Ao sentir os primeiros pingos (espere aqueles grandes e pesados), compre pipoca e corra para a região de Aricanduva, mais precisamente para a rua Iemanjá -quer lugar mais apropriado para homenagear a rainha das águas? A água sobe com uma velocidade impressionante, e logo você flutuará como um barco: é hora de subir para o teto e clamar por socorro, já que a correnteza causada pelo transbordamento do Aricanduva costuma arrastar tudo. As bocas-de-lobo, que deveriam levar a água das ruas para o Aricanduva, estão abaixo da borda do córrego e fazem o inverso. Esperto.
17: O melhor lugar público para transar perigosamente
Lembre-se, é atentado ao pudor, mas, nesse aspecto, o parque Trianon oferece o pacote completo. É proibido entrar à noite, portanto mais excitante. É preciso pular a grade, portanto mais aventureiro. Na natureza exuberante, o casal pode encarnar Adão e Eva e libertar seus instintos primitivos. Ah, e ainda tem as lixeiras, para jogar fora a camisinha. Sem contar o risco de ser assaltado.
18: O melhor lugar para DESCOBRIR que o tempo VOA
Aos 18, você preferia descer/subir as ladeiras de Perdizes a pé (santa vitalidade, Batman!) e não de carro: com sua parca experiência ao volante, engatar a primeira e "segurar" o carro o fazia suar frio. Hoje, tudo mudou: subir a pé, seu coração não agüenta; descer é arrumar confusão com as próprias pernas.
19: O melhor lugar para tomar banho de cachoeira
O melhor lugar é debaixo do elevado Costa e Silva em dia de chuva. Dependendo do lugar, a cachoeira pode lembrar um "Véu de Noiva", em que a água se distribui como renda, ou "Niagara Falls", um jato assustador de toneladas de líquido. Leve em conta o elemento surpresa, pois sua fonte é imprecisa.
20: O melhor lugar para descobrir onde estão os homens QUE FALTAM
Mulheres vivem reclamando da falta de rapazes disponíveis e se perguntando aonde vão? Estão todos no mesmo lugar: nos bares e casas noturnas da rua da Consolação, entre as alamedas Itu e Tietê. A quantidade (e, quase sempre, a qualidade) é de encher os olhos. O detalhe, que aqui faz toda a diferença, é que a recíproca não é verdadeira. Eles não estão sentindo falta das mulheres. Ali é território gay.
domingo, novembro 26, 2006
O melhor lugar para... - um guia de Sampa: parte 1 de 3
São Paulo é um caso de amor e ódio. Sei que há vários problemas, sei que há o estresse do trânsito diário, sei que há tanta coisa que me faria desistir de querer morar numa cidade como esta. Mas São Paulo não é uma cidade comum: não tem a beleza natural de um Rio de Janeiro nem a arquitetura colonial de Salvador. O que Sampa tem que me fascina tanto? Realmente não sei... mas sei que não aguento ficar tanto tempo longe. Sensação de estar na cidade em que tudo acontece, sensação de estar sintonizado com o mundo inteiro quando se está lá.
São Paulo é um enigma. E para tentar mostrar um pouco deste enigma, selecionei um texto em que se expõe alguns lugares especiais em Sampa. Enjoy it!
.......................................
1: O melhor lugar para alcançar a "iluminação"
Foi exatamente debaixo de uma figueira que Buda atingiu, aos 35 anos, a "iluminação". Localizada no parque da Luz, há uma figueira que tem mais de 100 anos e, para abraçar seu tronco, são necessárias 12 pessoas. A espécie é originária da Índia e veio parar no parque graças a Dom João 6º, que em 1798 decidiu criar um ortobotânico com espécies nativas e estrangeiras para extração de madeira.
2: O melhor lugar para maldizer a existência de motoboys
Eles estão por toda parte, mas parecem se multiplicar como "gremlins" na rua da Consolação. O farol fecha e, em poucos segundos, os três que ocupavam a dianteira da pista já são seis, depois 12 e assim sucessivamente, em progressão geométrica. Mudar de pista é uma atitude de alto risco. Nunca se sabe quando nem de onde eles podem surgir. E se você "fecha" sem querer apenas um, compra briga com todos.
3: O melhor lugar para abençoar a APARIÇÃO de UM taxista
No Jardim Ângela, Shakespeare mudaria o "meu reino por um cavalo" para "meu reino por um táxi". Ali, eles são tão raros quanto diamantes. Por dois motivos: é uma viagem longa (mais de uma hora desde a região central), cara (em torno de R$ 60, só a ida) e, no jargão profissional, "sem volta": retorna-se vazio ou com falsos passageiros, que entram em dupla para fazer assaltos.
4: O melhor lugar para praguejar contra marronzinhos
Escolha o cruzamento das avenidas Rebouças e Brasil. Sempre há pelo menos um, seja para mandar parar, quando o farol está verde, ou andar, quando o vermelho diz o contrário. Você obedece o farol -está condicionado- e leva multa (ou passa o dia injuriado, achando que levou). Justiça seja feita, no trânsito paulistano é difícil não embirrar com os marronzinhos: por percepção seletiva, o motorista só os vê quando o tráfego está parado (e ele irritado) ou depois de alguma barbeiragem proibida (e ele multado).
5: O melhor lugar para tomar bolo ou chá de cadeira
As escadarias do prédio da Gazeta, na Paulista, são um clássico: dá para esperar sentado, sem dar pinta de quem levou "bolo" e há sempre o que observar enquanto o tempo não passa: a zoeira dos adolescentes do Objetivo, os atores amadores que se apresentam ali na frente, as greves que atrapalham o trânsito. Se não estiver acontecendo nada, é possível comprar um jornal na banca da frente ou um sorvete de casquinha ali do lado. E esperar.
6: O melhor lugar para FALAR MAL DE Oscar Niemeyer
Dizem que o arquiteto tem alguma coisa contra o verde -e o Memorial da América Latina parece prova inconteste. É um mar de concreto que, em dias escaldantes, se torna mais inóspito que o Saara. Oscar Niemeyer já argumentou que o espaço livre, sem vegetação, valoriza a arquitetura (é mais ou menos como preferir ficar careca para valorizar o design da cabeça). Ainda bem que ele não pensou nisso quando projetou o parque Ibirapuera.
7: O melhor lugar para "ver" a poluição
Lugares poluídos não faltam, mas nada mais simbólico do que uma avenida chamada Bandeirantes para ficar literalmente cara a cara com um "patrimônio" da cidade. Escolha a faixa central e fique no banco do passageiro: os caminhões jogam aquela fumaça negra diretamente no seu nariz, você respira fundo e se sente um verdadeiro Anhanguera. Das 23 estações de controle de ar da Cetesb, a de Congonhas (que cobre Bandeirantes e Washington Luís) era a que mais estourava os limites de emissão de monóxido de carbono, produzido pelos veículos. Isso melhorou. Desde 2003, segundo a Cetesb, nenhuma estação ultrapassa mais esse limite. Mas fique tranqüilo, a sensação intoxicante continua a mesma.
8: O melhor lugar para fingir que está em Paris
Às vezes, a mais parte mais interessante de uma apresentação no Teatro Municipal é o intervalo. Você pede uma taça de prosecco, passeia pelo salão nobre e, com ar existencialista, vai ao terraço. Não vai ver exatamente a Avenue de Opera, mas a vista do Viaduto do Chá é bem bonita. Se estiver frio, melhor: enrole-se em um cachecol usado e diga que comprou no mercado de pulgas.
9: O melhor lugar para se perder
Caia na conversa daquela "dica imperdível": um amigo falou de uma pizzaria incrível no Brás. E você vai. Mas pega o viaduto errado no parque Dom Pedro e vai parar na Mooca. Pergunta às pessoas no caminho, e ninguém conhece nada. Pede o guia emprestado a um taxista, mas parece que todas as ruas são contramão. Já desistindo, cai numa rua escura e, sem querer, encontra a pizzaria. Nessa altura, a fome é tão grande que você entende por que a pizza é tão incrível assim.
10: O melhor lugar para soltar a voz
A acústica não é tão boa quanto o boxe do banheiro, mas a motivação para soltar a voz (ou necessidade) é incomparável quando se está no túnel Anhangabaú, principalmente com trânsito intenso. Imagine o Bono Vox cantando para 100 mil fanáticos no Morumbi sem o retorno (aquele aparelhinho para ouvir a própria voz): só ouve o barulho. Tentar conversar no carro, com as janelas abertas, é o mesmo que trocar palavras em um show da banda Motorhead.
São Paulo é um enigma. E para tentar mostrar um pouco deste enigma, selecionei um texto em que se expõe alguns lugares especiais em Sampa. Enjoy it!
.......................................
1: O melhor lugar para alcançar a "iluminação"
Foi exatamente debaixo de uma figueira que Buda atingiu, aos 35 anos, a "iluminação". Localizada no parque da Luz, há uma figueira que tem mais de 100 anos e, para abraçar seu tronco, são necessárias 12 pessoas. A espécie é originária da Índia e veio parar no parque graças a Dom João 6º, que em 1798 decidiu criar um ortobotânico com espécies nativas e estrangeiras para extração de madeira.
2: O melhor lugar para maldizer a existência de motoboys
Eles estão por toda parte, mas parecem se multiplicar como "gremlins" na rua da Consolação. O farol fecha e, em poucos segundos, os três que ocupavam a dianteira da pista já são seis, depois 12 e assim sucessivamente, em progressão geométrica. Mudar de pista é uma atitude de alto risco. Nunca se sabe quando nem de onde eles podem surgir. E se você "fecha" sem querer apenas um, compra briga com todos.
3: O melhor lugar para abençoar a APARIÇÃO de UM taxista
No Jardim Ângela, Shakespeare mudaria o "meu reino por um cavalo" para "meu reino por um táxi". Ali, eles são tão raros quanto diamantes. Por dois motivos: é uma viagem longa (mais de uma hora desde a região central), cara (em torno de R$ 60, só a ida) e, no jargão profissional, "sem volta": retorna-se vazio ou com falsos passageiros, que entram em dupla para fazer assaltos.
4: O melhor lugar para praguejar contra marronzinhos
Escolha o cruzamento das avenidas Rebouças e Brasil. Sempre há pelo menos um, seja para mandar parar, quando o farol está verde, ou andar, quando o vermelho diz o contrário. Você obedece o farol -está condicionado- e leva multa (ou passa o dia injuriado, achando que levou). Justiça seja feita, no trânsito paulistano é difícil não embirrar com os marronzinhos: por percepção seletiva, o motorista só os vê quando o tráfego está parado (e ele irritado) ou depois de alguma barbeiragem proibida (e ele multado).
5: O melhor lugar para tomar bolo ou chá de cadeira
As escadarias do prédio da Gazeta, na Paulista, são um clássico: dá para esperar sentado, sem dar pinta de quem levou "bolo" e há sempre o que observar enquanto o tempo não passa: a zoeira dos adolescentes do Objetivo, os atores amadores que se apresentam ali na frente, as greves que atrapalham o trânsito. Se não estiver acontecendo nada, é possível comprar um jornal na banca da frente ou um sorvete de casquinha ali do lado. E esperar.
6: O melhor lugar para FALAR MAL DE Oscar Niemeyer
Dizem que o arquiteto tem alguma coisa contra o verde -e o Memorial da América Latina parece prova inconteste. É um mar de concreto que, em dias escaldantes, se torna mais inóspito que o Saara. Oscar Niemeyer já argumentou que o espaço livre, sem vegetação, valoriza a arquitetura (é mais ou menos como preferir ficar careca para valorizar o design da cabeça). Ainda bem que ele não pensou nisso quando projetou o parque Ibirapuera.
7: O melhor lugar para "ver" a poluição
Lugares poluídos não faltam, mas nada mais simbólico do que uma avenida chamada Bandeirantes para ficar literalmente cara a cara com um "patrimônio" da cidade. Escolha a faixa central e fique no banco do passageiro: os caminhões jogam aquela fumaça negra diretamente no seu nariz, você respira fundo e se sente um verdadeiro Anhanguera. Das 23 estações de controle de ar da Cetesb, a de Congonhas (que cobre Bandeirantes e Washington Luís) era a que mais estourava os limites de emissão de monóxido de carbono, produzido pelos veículos. Isso melhorou. Desde 2003, segundo a Cetesb, nenhuma estação ultrapassa mais esse limite. Mas fique tranqüilo, a sensação intoxicante continua a mesma.
8: O melhor lugar para fingir que está em Paris
Às vezes, a mais parte mais interessante de uma apresentação no Teatro Municipal é o intervalo. Você pede uma taça de prosecco, passeia pelo salão nobre e, com ar existencialista, vai ao terraço. Não vai ver exatamente a Avenue de Opera, mas a vista do Viaduto do Chá é bem bonita. Se estiver frio, melhor: enrole-se em um cachecol usado e diga que comprou no mercado de pulgas.
9: O melhor lugar para se perder
Caia na conversa daquela "dica imperdível": um amigo falou de uma pizzaria incrível no Brás. E você vai. Mas pega o viaduto errado no parque Dom Pedro e vai parar na Mooca. Pergunta às pessoas no caminho, e ninguém conhece nada. Pede o guia emprestado a um taxista, mas parece que todas as ruas são contramão. Já desistindo, cai numa rua escura e, sem querer, encontra a pizzaria. Nessa altura, a fome é tão grande que você entende por que a pizza é tão incrível assim.
10: O melhor lugar para soltar a voz
A acústica não é tão boa quanto o boxe do banheiro, mas a motivação para soltar a voz (ou necessidade) é incomparável quando se está no túnel Anhangabaú, principalmente com trânsito intenso. Imagine o Bono Vox cantando para 100 mil fanáticos no Morumbi sem o retorno (aquele aparelhinho para ouvir a própria voz): só ouve o barulho. Tentar conversar no carro, com as janelas abertas, é o mesmo que trocar palavras em um show da banda Motorhead.
sexta-feira, novembro 24, 2006
Quando os porcos voarem...
"When pigs fly?" Isso não faz o menor sentido. Quando foi que os porcos criaram asas? Mesmo assim, para um falante nativo do idioma de Shakespeare, isso faz muito sentido.
A frase "when pigs fly" é um ótimo exemplo de idiom, ou uma expressão que tem um significado completamente diferente das palavras que a compõe. Vamos dar uma olhada nesses divertidos exemplos!
When pigs fly
Os porcos não podem voar! É impossível, o que é precisamente o que a expressão quer dizer. Por exemplo, você escuta alguém dizer, "Do you think Mary will quit her job now that she's pregnant?" Outra pessoa responde, "Yeah, when pigs fly! There is no way she is giving up her career!" Quando foi usada a expressão when pigs fly, quer dizer que é impossível que a Mary desista do seu emprego.
Get in someone's hair
Se você get in someone's hair, você não escalou até o topo da sua cabeça! Pelo contrário, isso quer dizer que você está enchendo a pessoa - talvez invadindo seu espaço pessoal. Por exemplo, "Susan was trying to prepare dinner, but her children were getting in her hair!" Isso significa que os filhos de Susan estavam perturbando quando ela estava cozinhando. Se alguém está te perturbando, você pode dizer, "Get out of my hair!"
Hit the ceiling
O teto está bem longe das nossas cabeças, então não é tão fácil atingi-lo - a não ser que você esteja muito nervoso! Se alguém hits the ceiling quer dizer que ele está reagindo de forma agressiva. Por exemplo, "When Carol's son got an F on his report card, she hit the ceiling!" Isso quer dizer que Carol ficou furiosa quando seu filho reprovou em uma matéria.
Knock someone's socks off
Pode até ser possível pull as meias de alguém - mas como você pode knock as meias de alguém? Impressionando-as é claro! Por exemplo, "You should see Tom's new car! It'll knock your socks off, it's so amazing!" Isso quer dizer que o novo carro de Tom é muito impressionante!
Bite the bullet
Como seria o sabor de uma bala de revólver se você a provasse? Não tão bom. Então por que alguém bite the bullet? Isso é dito quando se enfrenta com coragem uma situação complicada. Por exemplo, "She had to bite the bullet and give in to her boss's unreasonable demands." Isso quer dizer que ela agiu com bravura quando se deparou com as exigências injustas de seu chefe.
Drive someone up a wall
Os carros não dirigem pelas paredes, então quem pode drive you up a wall? Alguém que está te aborrecendo pode! Por exemplo, "My mom is driving me up a wall! She won't ever let me stay out late." Isso quer dizer que estou muito aborrecido pelo fato de minha mãe não deixar eu ficar fora até tarde.
A frase "when pigs fly" é um ótimo exemplo de idiom, ou uma expressão que tem um significado completamente diferente das palavras que a compõe. Vamos dar uma olhada nesses divertidos exemplos!
When pigs fly
Os porcos não podem voar! É impossível, o que é precisamente o que a expressão quer dizer. Por exemplo, você escuta alguém dizer, "Do you think Mary will quit her job now that she's pregnant?" Outra pessoa responde, "Yeah, when pigs fly! There is no way she is giving up her career!" Quando foi usada a expressão when pigs fly, quer dizer que é impossível que a Mary desista do seu emprego.
Get in someone's hair
Se você get in someone's hair, você não escalou até o topo da sua cabeça! Pelo contrário, isso quer dizer que você está enchendo a pessoa - talvez invadindo seu espaço pessoal. Por exemplo, "Susan was trying to prepare dinner, but her children were getting in her hair!" Isso significa que os filhos de Susan estavam perturbando quando ela estava cozinhando. Se alguém está te perturbando, você pode dizer, "Get out of my hair!"
Hit the ceiling
O teto está bem longe das nossas cabeças, então não é tão fácil atingi-lo - a não ser que você esteja muito nervoso! Se alguém hits the ceiling quer dizer que ele está reagindo de forma agressiva. Por exemplo, "When Carol's son got an F on his report card, she hit the ceiling!" Isso quer dizer que Carol ficou furiosa quando seu filho reprovou em uma matéria.
Knock someone's socks off
Pode até ser possível pull as meias de alguém - mas como você pode knock as meias de alguém? Impressionando-as é claro! Por exemplo, "You should see Tom's new car! It'll knock your socks off, it's so amazing!" Isso quer dizer que o novo carro de Tom é muito impressionante!
Bite the bullet
Como seria o sabor de uma bala de revólver se você a provasse? Não tão bom. Então por que alguém bite the bullet? Isso é dito quando se enfrenta com coragem uma situação complicada. Por exemplo, "She had to bite the bullet and give in to her boss's unreasonable demands." Isso quer dizer que ela agiu com bravura quando se deparou com as exigências injustas de seu chefe.
Drive someone up a wall
Os carros não dirigem pelas paredes, então quem pode drive you up a wall? Alguém que está te aborrecendo pode! Por exemplo, "My mom is driving me up a wall! She won't ever let me stay out late." Isso quer dizer que estou muito aborrecido pelo fato de minha mãe não deixar eu ficar fora até tarde.
quinta-feira, novembro 23, 2006
Amor é divino, sexo é animal... amor é bossa-nova, sexo é carnaval...
Não sei se é verdade. Não fui consultar as provas de vestibular da Universidade da Bahia nem sei como é que a pessoa quem divulgou este e-mail soube da nota que a vestibulanda recebeu. De qualquer forma é divertido... Enjoy!
...................................
Durante o vestibular, a Universidade da Bahia cobrou dos candidatos a interpretação do seguinte trecho de poema de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer".
Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação:
"Ah! Camões, se vivesses hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
consultavas a internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!"
Ganhou nota dez.
Foi a primeira vez, ao longo de mais de 500 anos, que alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher...
...................................
Durante o vestibular, a Universidade da Bahia cobrou dos candidatos a interpretação do seguinte trecho de poema de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer".
Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação:
"Ah! Camões, se vivesses hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
consultavas a internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!"
Ganhou nota dez.
Foi a primeira vez, ao longo de mais de 500 anos, que alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher...
segunda-feira, novembro 20, 2006
Alma não tem cor
Dizem que hoje foi o dia em que Zumbi dos Palmares foi assassinado. Hoje comemora-se o Dia da Consciência Negra. E por incrível que pareça, é feriado em algumas cidades do Brasil.
Eu sinto um certo incômodo com tudo isso. Da mesma forma que sinto um certo incômodo ao ver projetos como o das cotas para negros nas universidades. Num mundo ideal, não seria preciso dar cotas para ninguém porque todos teriam acesso a educação. Ok, ok. Estamos longe de estar num mundo ideal e estamos longe de estar numa sociedade igualitária.
E agora, citando a filósofa alemã Hannah Arendt: "não nascemos livres nem iguais. Liberdade e igualdade são marcos a serem alcançados".
Já tive colegas de trabalho negros, mas nunca tive colegas de trabalho de origem indígena. Será que deveríamos criar cotas para os índios? Aliás, uma lei recente obriga empresas a preencher parte de seus quadros de funcionários com pessoas portadoras de deficiência.
O problema é que não se encontram pessoas portadoras de deficiência qualificadas em número suficiente para a demanda criada. Mas até aí, o problema passa a ser das empresas e não do Estado que não deu acesso a educação básica aos portadores de deficiência.
Tudo aqui soa como uma corrida pela igualdade de direitos, só que uma corrida improvisada, onde a solução dada muitas vezes leva a um jogo de empurra-empurra. Ninguém quer a responsabilidade pelo problema.
Cotas para negros nas universidades? Não seria melhor investir na melhoria da escola básica e na abertura de mais vagas? Acho que o problema não é a cor da pele, o problema é a situação econômica de cada célula familiar. Existem pobres brancos, existem pobres negros, existem pobres amarelos, existem pobres pardos e pobres de todas as cores que quiserem criar.
O problema é menos de cor e mais de distribuição.
Eu sinto um certo incômodo com tudo isso. Da mesma forma que sinto um certo incômodo ao ver projetos como o das cotas para negros nas universidades. Num mundo ideal, não seria preciso dar cotas para ninguém porque todos teriam acesso a educação. Ok, ok. Estamos longe de estar num mundo ideal e estamos longe de estar numa sociedade igualitária.
E agora, citando a filósofa alemã Hannah Arendt: "não nascemos livres nem iguais. Liberdade e igualdade são marcos a serem alcançados".
Já tive colegas de trabalho negros, mas nunca tive colegas de trabalho de origem indígena. Será que deveríamos criar cotas para os índios? Aliás, uma lei recente obriga empresas a preencher parte de seus quadros de funcionários com pessoas portadoras de deficiência.
O problema é que não se encontram pessoas portadoras de deficiência qualificadas em número suficiente para a demanda criada. Mas até aí, o problema passa a ser das empresas e não do Estado que não deu acesso a educação básica aos portadores de deficiência.
Tudo aqui soa como uma corrida pela igualdade de direitos, só que uma corrida improvisada, onde a solução dada muitas vezes leva a um jogo de empurra-empurra. Ninguém quer a responsabilidade pelo problema.
Cotas para negros nas universidades? Não seria melhor investir na melhoria da escola básica e na abertura de mais vagas? Acho que o problema não é a cor da pele, o problema é a situação econômica de cada célula familiar. Existem pobres brancos, existem pobres negros, existem pobres amarelos, existem pobres pardos e pobres de todas as cores que quiserem criar.
O problema é menos de cor e mais de distribuição.
domingo, novembro 19, 2006
Retornar
O passado sempre bate a nossa porta para cobrar a dívida pendente? E quando a dívida contraída é consigo mesmo? Será que enterramos muita coisa no passado, sob camadas e mais camadas de memória, para podermos seguir adiante? E o que acontece quando o passado parece não mais bater a porta e sim, esmurrá-la e tenta forçar passagem para uma solução?
Volver, mais recente filme de Almodóvar, fala basicamente sobre isso. Mostra uma constelação de personagens femininas fortes e marcantes. Este é um filme de mulheres fortes. Nada de lágrimas em dramas rasos, nada de mulheres se descabelando por conta de uma tragédia.
As mulheres em "Volver" fluem com naturalidade em situações difíceis. Unem-se, brigam, questionam, agem. Não foi à toa que o elenco feminino ganhou em conjunto o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes (e ao que me consta, foi a primeira vez que isso aconteceu).
Pedro Almodóvar é um dos poucos diretores que conseguem me fazer desejar ir ao cinema, independente de qualquer crítica ou elenco. Gosto daquela estética confessadamente kitsch e das personagens fortes em situações que eu só poderia chamar de "almovorianas", situações com um toque bizarro e que poderiam cair no melodramático exaltado mas que soam extremamente naturais em seus filmes.
Quem puder conferir, não perca.
No próximo post falo mais sobre Sampa, gravuras, Mix Brasil e outras coisinhas mais.
Volver, mais recente filme de Almodóvar, fala basicamente sobre isso. Mostra uma constelação de personagens femininas fortes e marcantes. Este é um filme de mulheres fortes. Nada de lágrimas em dramas rasos, nada de mulheres se descabelando por conta de uma tragédia.
As mulheres em "Volver" fluem com naturalidade em situações difíceis. Unem-se, brigam, questionam, agem. Não foi à toa que o elenco feminino ganhou em conjunto o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes (e ao que me consta, foi a primeira vez que isso aconteceu).
Pedro Almodóvar é um dos poucos diretores que conseguem me fazer desejar ir ao cinema, independente de qualquer crítica ou elenco. Gosto daquela estética confessadamente kitsch e das personagens fortes em situações que eu só poderia chamar de "almovorianas", situações com um toque bizarro e que poderiam cair no melodramático exaltado mas que soam extremamente naturais em seus filmes.
Quem puder conferir, não perca.
No próximo post falo mais sobre Sampa, gravuras, Mix Brasil e outras coisinhas mais.
sábado, novembro 18, 2006
Separar ou manter junto?
No Blog do André, blog mantido pelo jornalista André Fischer, o post fala sobre uma reflexão a respeito do amor.
Segundo relato do jornalista, tudo começou por conta de um set de músicas em que Peter Hook, baixista do New Order, mixou num verdadeiro diálogo duas músicas: Love will tear us apart (clássico do Joy Division) e Love will keep us together (da dupla Captain and Tenille).
O refrão de cada uma destas músicas é justamente o título. E na mixagem ficavam dialogando em eterna discussão: love will tear us apart (traduzindo: o amor irá nos separar) e love will keep us together (tradução: o amor irá nos manter juntos).
A reflexão despertada por esta mixagem levou à seguinte questão: o amor, no final das contas, vai nos separar ou nos aproximar?
E pensando nisso tudo, não sei se posso chegar numa resposta simples. Amor é algo complicado. Depende de muita coisa. Depende de pele e depende de doação, depende de superar certa dose de individualismo e depende de sinceridade.
O amor deveria sempre aproximar. Mas existem pessoas que se amam mas que não conseguem se entender e nesta incompatibilidade, por mais amor que exista, a consequência seria a separação.
A resposta? O amor pode nos separar. O amor pode nos aproximar. Quem disse que há uma fórmula universal?
quinta-feira, novembro 16, 2006
Rosa que sana
Existe amizade orkútica? Durante muito tempo, duvidei da possibilidade de uma amizade sincera se desenvolver na internet. Acredito sim que seja possível fazer contatos iniciais e que estes contatos possam um dia se tornar amizade depois de alguns chás e muita conversa.
Hoje, apesar de todas as máscaras que a internet permite, apesar da comunicação rápida (e muitas vezes superficial) que impera na rede, vejo que há espaços para pessoas que conseguem superar tudo isso e cativar.
E neste momento, lembro daquela conversa entre o Pequeno Príncipe e a raposa. A raposa ensina o Pequeno Príncipe sobre o significado de "cativar". Cativar é criar laços, segundo a lição da raposa, e faz-se gradualmente, com certa dose de paciência e rotina.
Num momento que não se sabe quando, fomos cativados. E quem cativa torna-se eternamente responsável pelo cativado. Na despedida, a raposa chorou com a partida do Pequeno Príncipe. E ele retrucou: "Eu não queria te fazer sofrer". E ela apenas respondia que "tinha ganhado a cor do trigo" entre as memórias afetivas dela porque o trigo era da cor dos cabelos do Pequeno Príncipe.
Hoje é aniversário da Rosana, uma destas grandes surpresas do orkut. Amiga de um amigo de um amigo... Nestes cruzamentos virtuais, acabamos parando para uma conversa que se prolonga em todos os momentos possíveis. E tal qual a raposa, eu também ganhei. Ganhei na memória afetiva o uso do recurso de gravar a voz do MSN. Coisa que nunca tinha usado e que vi a primeira vez com a Rosana.
Parabéns, Rosana! Você sabe que eu continuo sempre aqui na torcida, não é?
Hoje, apesar de todas as máscaras que a internet permite, apesar da comunicação rápida (e muitas vezes superficial) que impera na rede, vejo que há espaços para pessoas que conseguem superar tudo isso e cativar.
E neste momento, lembro daquela conversa entre o Pequeno Príncipe e a raposa. A raposa ensina o Pequeno Príncipe sobre o significado de "cativar". Cativar é criar laços, segundo a lição da raposa, e faz-se gradualmente, com certa dose de paciência e rotina.
Num momento que não se sabe quando, fomos cativados. E quem cativa torna-se eternamente responsável pelo cativado. Na despedida, a raposa chorou com a partida do Pequeno Príncipe. E ele retrucou: "Eu não queria te fazer sofrer". E ela apenas respondia que "tinha ganhado a cor do trigo" entre as memórias afetivas dela porque o trigo era da cor dos cabelos do Pequeno Príncipe.
Hoje é aniversário da Rosana, uma destas grandes surpresas do orkut. Amiga de um amigo de um amigo... Nestes cruzamentos virtuais, acabamos parando para uma conversa que se prolonga em todos os momentos possíveis. E tal qual a raposa, eu também ganhei. Ganhei na memória afetiva o uso do recurso de gravar a voz do MSN. Coisa que nunca tinha usado e que vi a primeira vez com a Rosana.
Parabéns, Rosana! Você sabe que eu continuo sempre aqui na torcida, não é?
terça-feira, novembro 14, 2006
Podemos ser amigos simplesmente?
E eu que só queria amizade, tive que me confrontar com os cuidados para rejeitar sem magoar... Aff! E tudo o que eu desejava era apenas uma amizade, alguém para conversar em alguns momentos. Nada mais além disso.
De repente, alguém que eu nem considerava para ter relacionamento amoroso algum, se declara... Eu que não gosto de magoar ninguém, fico naquela "saia justa". Falar o que? "Ahhh... mas eu me vejo mais como um irmão para você"? Ou ir para o mais clichê "Acho que somos ótimos amigos e tenho medo de estragar esta amizade com um romance"?
Confesso que ainda fico perdido nestas situações. E o pior de tudo é que não é a primeira vez que acontece. Já aconteceu diversas vezes e em todas eu nunca sabia o que dizer.
Conversando com uma amiga, desabafei e disse que não entendia o porquê disso tudo acontecer. E a resposta dela foi que "no começo eu achava que você estava me cantando também. Só depois é que fui perceber que este era mesmo o seu jeito".
Quer dizer que agora tenho que tomar cuidado para não ser tão educado ou tão atencioso com os outros? Corro o risco de seduzir alguém mesmo sem intenção? Ahhh... eu me recuso a acreditar nisso.
Ou a carência rola muito solta pelo mundo (e qualquer forma de atenção se transforma em "cantada") ou eu estou muito por fora da forma como todos exercitam a sedução nesta época.
De repente, alguém que eu nem considerava para ter relacionamento amoroso algum, se declara... Eu que não gosto de magoar ninguém, fico naquela "saia justa". Falar o que? "Ahhh... mas eu me vejo mais como um irmão para você"? Ou ir para o mais clichê "Acho que somos ótimos amigos e tenho medo de estragar esta amizade com um romance"?
Confesso que ainda fico perdido nestas situações. E o pior de tudo é que não é a primeira vez que acontece. Já aconteceu diversas vezes e em todas eu nunca sabia o que dizer.
Conversando com uma amiga, desabafei e disse que não entendia o porquê disso tudo acontecer. E a resposta dela foi que "no começo eu achava que você estava me cantando também. Só depois é que fui perceber que este era mesmo o seu jeito".
Quer dizer que agora tenho que tomar cuidado para não ser tão educado ou tão atencioso com os outros? Corro o risco de seduzir alguém mesmo sem intenção? Ahhh... eu me recuso a acreditar nisso.
Ou a carência rola muito solta pelo mundo (e qualquer forma de atenção se transforma em "cantada") ou eu estou muito por fora da forma como todos exercitam a sedução nesta época.
domingo, novembro 12, 2006
Le temps qui reste
Final de semana com toques interessantes. Neste domingo, um dia chuvoso se mostra convidativo para a leitura... e é o que vou fazer depois deste post.
Ontem, recebo um telefonema de uma amiga me convidando para uma caminhada. Atualmente moro em Santos e caminhar na praia é um típico programa de final de semana. Não tenho o costume de fazer isso sempre porque detesto praia lotada. Geralmente caminho logo nas primeiras horas da manhã ou a noite.
Enfim, ontem fui encontrar esta minha amiga para caminharmos juntos pela praia. Saí daqui de casa (próximo do canal 6) e fui encontrá-la no canal 3 (uns 2km). Ali, encontrei outros amigos dela e fomos todos nós em direção a cidade vizinha (São Vicente).
Quando vi, já estava seguindo para a casa de um amigo deles que eu nem conhecia. E tudo isso, gerando um percurso total de 5 km e algumas centenas de metros só de ida. De repente, eu me vejo no apartamento de um amigo de amigos e embarcando num almoço improvisado.
Na volta (e antes que pergunte, sim, voltei a pé para casa), eu e Gwa demos uma parada no Cinearte Posto 4, um antigo posto dos bombeiros que foi convertido em sala de cinema.
Entramos e fomos conferir "Le temps qui reste" (tradução: "O tempo que resta"), do diretor francês François Ozon.
O filme trata de um tema já explorado a exaustão pelos dramas: um jovem descobre que tem poucos meses de vida e começa a questionar muita coisa que fez e que vive. Nenhuma novidade até aí. Mais um filme que volta a embarcar em reflexões sobre a vida, mas ao menos, não chega a pieguice (como seria fácil de se chegar).
Um dos momentos que mais curti foi o encontro do protagonista com a avó (feita pela Jeanne Moureau). Romain, o protagonista, resolve contar que está doente apenas para a avó paterna. E ela, ao saber que ele não tinha falado disso para mais ninguém, pergunta o porquê dele ter contado apenas para ela.
A resposta de Romain foi amargamente sincera: "Porque você também está próxima da morte". Uma lembrança de que a morte é caminho natural para todos, uns estão mais próximos, outros mais distantes. Mas todos iremos morrer.
Depois do filme, voltei para o meu caminho de volta para casa. Resultado do dia: uma caminhada de mais de 10km (e como a caminhada foi sob o sol, minha pele sem protetor solar ardeu em reclamações), um almoço improvisado no meio de pessoas estranhas e regado a muitas risadas, um filme nada excepcional falando sobre alguém que resolve fazer as pazes com os outros e consigo mesmo. Foi um bom dia...
Ontem, recebo um telefonema de uma amiga me convidando para uma caminhada. Atualmente moro em Santos e caminhar na praia é um típico programa de final de semana. Não tenho o costume de fazer isso sempre porque detesto praia lotada. Geralmente caminho logo nas primeiras horas da manhã ou a noite.
Enfim, ontem fui encontrar esta minha amiga para caminharmos juntos pela praia. Saí daqui de casa (próximo do canal 6) e fui encontrá-la no canal 3 (uns 2km). Ali, encontrei outros amigos dela e fomos todos nós em direção a cidade vizinha (São Vicente).
Quando vi, já estava seguindo para a casa de um amigo deles que eu nem conhecia. E tudo isso, gerando um percurso total de 5 km e algumas centenas de metros só de ida. De repente, eu me vejo no apartamento de um amigo de amigos e embarcando num almoço improvisado.
Na volta (e antes que pergunte, sim, voltei a pé para casa), eu e Gwa demos uma parada no Cinearte Posto 4, um antigo posto dos bombeiros que foi convertido em sala de cinema.
Entramos e fomos conferir "Le temps qui reste" (tradução: "O tempo que resta"), do diretor francês François Ozon.
O filme trata de um tema já explorado a exaustão pelos dramas: um jovem descobre que tem poucos meses de vida e começa a questionar muita coisa que fez e que vive. Nenhuma novidade até aí. Mais um filme que volta a embarcar em reflexões sobre a vida, mas ao menos, não chega a pieguice (como seria fácil de se chegar).
Um dos momentos que mais curti foi o encontro do protagonista com a avó (feita pela Jeanne Moureau). Romain, o protagonista, resolve contar que está doente apenas para a avó paterna. E ela, ao saber que ele não tinha falado disso para mais ninguém, pergunta o porquê dele ter contado apenas para ela.
A resposta de Romain foi amargamente sincera: "Porque você também está próxima da morte". Uma lembrança de que a morte é caminho natural para todos, uns estão mais próximos, outros mais distantes. Mas todos iremos morrer.
Depois do filme, voltei para o meu caminho de volta para casa. Resultado do dia: uma caminhada de mais de 10km (e como a caminhada foi sob o sol, minha pele sem protetor solar ardeu em reclamações), um almoço improvisado no meio de pessoas estranhas e regado a muitas risadas, um filme nada excepcional falando sobre alguém que resolve fazer as pazes com os outros e consigo mesmo. Foi um bom dia...
sexta-feira, novembro 10, 2006
Eu não quero ganhar. Eu quero chegar junto, sem perder...
Em certo momento do filme "Pequena Miss Sunshine", Richard diz que o mundo se divide entre "perdedores" e "vencedores".
Apesar de viver numa sociedade que valoriza tremendamente a competição, por que será que ninguém gosta de ser um perdedor? Será que podemos vencer em todas as ocasiões? E nesta era de puro darwinismo social, vencerão sempre os mais fortes?
A história é o registro da visão dos vencedores. Mas será que quem "perdeu" nunca contribuiu em nada? Sinceramente, não consigo acreditar que só os "vencedores" tem alguma contribuição positiva para este mundo.
E no filme, o que se vê é justamente um desfile de "fracassados": um professor universitário com tendências suicidas, um palestrante que fala sobre "como atingir o sucesso" e que não emplaca seus próprios sonhos, um avô viciado em heroína e em pornografia, um adolescente que deseja ser piloto de avião e que fez voto de silêncio, uma garotinha míope e gordinha que sonha em ser miss, uma mãe que se equilibra no meio das frustrações dos outros.
"Pequena Miss Sunshine" pode ser visto por várias facetas: talvez um filme sobre uma família desajustada e que numa viagem pelas estradas do país encontra nas adversidades de cada um, algo comum que os une como família. Talvez um filme que critica a sociedade competitiva e que insiste em vender "sonhos de felicidade" (corpo perfeito, roupas e celulares e carros e computadores e...).
De qualquer forma, para quem puder conferir, vá. Para aqueles que estão órfãos da Mostra Internacional, o filme é uma brisa no meio de tantos filmes pouco atraentes.
Perdedores ou vencedores? Acho que a melhor resposta é dada no próprio filme: "Um verdadeiro perdedor é alguém que está com tanto medo de não vencer e por isso nem tenta".
Eu continuo por aqui... tentando e seguindo adiante.
Apesar de viver numa sociedade que valoriza tremendamente a competição, por que será que ninguém gosta de ser um perdedor? Será que podemos vencer em todas as ocasiões? E nesta era de puro darwinismo social, vencerão sempre os mais fortes?
A história é o registro da visão dos vencedores. Mas será que quem "perdeu" nunca contribuiu em nada? Sinceramente, não consigo acreditar que só os "vencedores" tem alguma contribuição positiva para este mundo.
E no filme, o que se vê é justamente um desfile de "fracassados": um professor universitário com tendências suicidas, um palestrante que fala sobre "como atingir o sucesso" e que não emplaca seus próprios sonhos, um avô viciado em heroína e em pornografia, um adolescente que deseja ser piloto de avião e que fez voto de silêncio, uma garotinha míope e gordinha que sonha em ser miss, uma mãe que se equilibra no meio das frustrações dos outros.
"Pequena Miss Sunshine" pode ser visto por várias facetas: talvez um filme sobre uma família desajustada e que numa viagem pelas estradas do país encontra nas adversidades de cada um, algo comum que os une como família. Talvez um filme que critica a sociedade competitiva e que insiste em vender "sonhos de felicidade" (corpo perfeito, roupas e celulares e carros e computadores e...).
De qualquer forma, para quem puder conferir, vá. Para aqueles que estão órfãos da Mostra Internacional, o filme é uma brisa no meio de tantos filmes pouco atraentes.
Perdedores ou vencedores? Acho que a melhor resposta é dada no próprio filme: "Um verdadeiro perdedor é alguém que está com tanto medo de não vencer e por isso nem tenta".
Eu continuo por aqui... tentando e seguindo adiante.
quarta-feira, novembro 08, 2006
Let´s talk about sex!
Na verdade, queria falar menos de sexo e mais sobre a liberdade. A liberdade em relação a preconceitos, a limitações auto-impostas.
Por todas estas rotações que o planeta dá, acabo cruzando meu caminho com o de pessoas muito interessantes.
Tenho esta mania de aparecer em festas ou encontros de grupos onde eu não conheço absolutamente ninguém, ou melhor, onde conheço apenas uma pessoa (geralmente quem me convida ou quem estou acompanhando).
Já fui parar em festa de aniversário de amiga de amiga de amigo meu, numa improvisada festa a fantasia na casa de amigos de amigo de amigo meu (nem me perguntem como foi que consegui uma fantasia... risos) e em encontros de amigos onde eu era elemento totalmente estranho. Volta e meia, nestes encontros e festas acabo conhecendo pessoas interessantes.
E numa festa de aniversário de um amigo, acabei conhecendo uma pessoa por quem fiquei encantado. Ele é crítico de teatro (quem quiser conferir, é só visitar o Aplauso Brasil), poeta (já pude ler algumas de suas poesias), dramaturgo (agora está em cartaz uma peça dele), dançarino.
Recentemente, descobri o blog em que ele expõe opiniões a respeito de sexualidade: o KadeiraSutra. E lendo os seus posts, não pude deixar de admirá-lo ainda mais.
Quando o conheci, vi uma pessoa cativante em sua inteligência e em suas atitudes suaves. Ao ler suas poesias, descobri alguém com talento para emocionar com as palavras. Ao ler seus posts no KadeiraSutra, admirei-o ainda mais por expôr sua visão sobre a vida e o desejo de liberdade.
Destaco abaixo, um dos posts do KadeiraSutra:
"Não posso deixar de iniciar meu depoimento sem falar da peça "A Noite Antes da Floresta", de Kolts. Ser estrangeiro, na peça, não é apenas morar fora do país natal, É ser diferente, estar à margem do que é comum entre as pessoas. Nessa perspectiva, ser gay e cadeirante me coloca duplamente estrangeiro: ao que é usual sexualmente e ao que é o protótipo da perfeição tão buscada no meio GLS.
Mas, antes de ficar chorando o leite derramado, aproveito bem o que sobrou na caneca pra viver sorrindo. Tenho uma vida afetivo-sexual agitada. Paquero muito, mas não percebo se sou paquerado, ou se me observam como se observassem o estrangeiro. Problema preu resolver em terapia (risos).
O que incomoda são os foras de quem nem sabe como sou, o que posso e o que não posso. Garanto que eles saem perdendo (risos). A cadeira nunca apagou meu fogo, nunca me impediu de namorar, trabalhar e realizar minhas fantasias sexuais. Até bailarino virei. Estreei ano passado um espetáculo de dança-teatro com uma trupe alemã, a DIN A 13 TANZCOMPANY, da alemã Gerda König, que estará em cena em Colônia (Alemanha) no começo de junho."
Sinal claro de que as limitações que sofremos são, muitas vezes, produto de nossas próprias concepções. Será que não somos nós que nos limitamos a uma série de atitudes e situações?
"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez". Hora de rever o que tenho deixado de fazer por imaginar que não possa fazer. Hora de me livrar destas limitações auto-impostas.
segunda-feira, novembro 06, 2006
Dar e receber
No blog Rosa que sana, da minha amiga mineira Rosana, encontrei no post de hoje uma descrição sobre duas atitudes que ela condena: a avareza e o calote.
Inspirado neste post dela, acabei me lembrando sobre uma lição recente que aprendi. Ultimamente estou meio "tao", no sentido de buscar o equilíbrio e ver que positivo e negativo são sempre necessários para se definirem.
Sabe aquele ditado do "nem oito nem oitenta"? Mais ou menos isso. Quem me conhece sabe que eu sempre busquei pelo equilíbrio e pela compreensão das diferenças. Mas mesmo para mim que sempre busquei isso, algumas coisas são difíceis de aceitar. Por que, por exemplo, deveria aceitar uma situação de "falta de dinheiro" como algo normal?
E lendo o post no Rosa que sana, lendo aquilo que a Rosana tinha para falar sobre avareza, lembrei de um livro que tinha visto há algum tempo atrás: A energia do dinheiro, de Glória Maria Garcia Pereira.
O livro não fala sobre formas de ganhar dinheiro. Pelo contrário, ele fala sobre a atitude das pessoas em relação ao dinheiro. E isso é o mais interessante.
Muito do que está escrito no livro, fala sobre equilíbrio: dar e receber são faces da mesma lei. Não se consegue nada se não aprendemos também a dar. Mais ou menos como se seguíssemos aquela lei de Lavoisier: "Na natureza, nada se cria, tudo se transforma". E a transformação vem justamente de se colocar a energia em movimento.
Então, antes de ser "muquirana", melhor tentar lembrar que se não se dá, também não se recebe. E aqui, vale a pena relembrar um outro velho ditado: "É dando que se recebe".
Inspirado neste post dela, acabei me lembrando sobre uma lição recente que aprendi. Ultimamente estou meio "tao", no sentido de buscar o equilíbrio e ver que positivo e negativo são sempre necessários para se definirem.
Sabe aquele ditado do "nem oito nem oitenta"? Mais ou menos isso. Quem me conhece sabe que eu sempre busquei pelo equilíbrio e pela compreensão das diferenças. Mas mesmo para mim que sempre busquei isso, algumas coisas são difíceis de aceitar. Por que, por exemplo, deveria aceitar uma situação de "falta de dinheiro" como algo normal?
E lendo o post no Rosa que sana, lendo aquilo que a Rosana tinha para falar sobre avareza, lembrei de um livro que tinha visto há algum tempo atrás: A energia do dinheiro, de Glória Maria Garcia Pereira.
O livro não fala sobre formas de ganhar dinheiro. Pelo contrário, ele fala sobre a atitude das pessoas em relação ao dinheiro. E isso é o mais interessante.
Muito do que está escrito no livro, fala sobre equilíbrio: dar e receber são faces da mesma lei. Não se consegue nada se não aprendemos também a dar. Mais ou menos como se seguíssemos aquela lei de Lavoisier: "Na natureza, nada se cria, tudo se transforma". E a transformação vem justamente de se colocar a energia em movimento.
Então, antes de ser "muquirana", melhor tentar lembrar que se não se dá, também não se recebe. E aqui, vale a pena relembrar um outro velho ditado: "É dando que se recebe".
domingo, novembro 05, 2006
No cinema, cale a boca!
Em tempos de Mostra, impossível não ficar intoxicado com a atmosfera do cinema. O que acontece é que mesmo não conseguindo ir a filmes da Mostra, acabo querendo ir ao cinema.
Incrível ver as diferenças entre um público cinéfilo e um público ordinário. Em qualquer sessão da Mostra Internacional, sente-se um respeito imenso pelo trabalho que está sendo exibido. O público inteiro mergulhando para dentro da história exibida no filme. Reações atentas a cada imagem. Risos certeiros nos momentos adequados.
Nesta semana fui conferir "O arco", filme do diretor coreano Kim-Ki-Duk. Descobri este cineasta muito recentemente e já pude assistir alguns de seus filmes. Em todos, percebe-se um recurso muito comum: o silêncio.
Em todos os filmes, a comunicação se dá mais através da sutileza de olhares e gestos do que pelas palavras. Normalmente, em seus filmes, as personagens principais não falam (por vontade própria).
Num filme destes, em que o silêncio é extremamente significativo, pressupõe-se que o público acompanhe e mergulhe nesta intenção de silêncio e de introspecção. Infelizmente, eu ainda espero demais dos outros.
A fileira de cadeiras diante de mim foi toda ocupada por adolescentes. Eu, em meus preconceitos, pensei: "Que saco! Aposto que vão ficar conversando o tempo todo!". E já fui preparando o meu espírito para ter que pedir silêncio. Atrás de mim, alguns casais e, exatamente atrás de mim, um casal de velhinhos (por "velhinhos" entendo gente acima dos 60 anos).
O que se deu durante a exibição do filme foi o seguinte: os adolescentes se comportaram muito bem (só fizeram comentários na parte em que se sugeria um ato sexual) e o casal de velhinhos ficou comentando absolutamente tudo em voz alta, da roupa da protagonista a críticas descabidas sobre as atitudes das personagens.
Num filme em que o silêncio é parte integrante do filme, num filme em que o caráter simbólico dos atos é essencial, como é que tem gente que não se controla e guarda os comentários para fazer após o filme?
Aff... Não apenas eu, mas muita gente, pediu silêncio durante a exibição. O pior é que eles não se calavam. Melhor colocar um cartaz logo na entrada da sala: Durante o filme, cale a boca!
Incrível ver as diferenças entre um público cinéfilo e um público ordinário. Em qualquer sessão da Mostra Internacional, sente-se um respeito imenso pelo trabalho que está sendo exibido. O público inteiro mergulhando para dentro da história exibida no filme. Reações atentas a cada imagem. Risos certeiros nos momentos adequados.
Nesta semana fui conferir "O arco", filme do diretor coreano Kim-Ki-Duk. Descobri este cineasta muito recentemente e já pude assistir alguns de seus filmes. Em todos, percebe-se um recurso muito comum: o silêncio.
Em todos os filmes, a comunicação se dá mais através da sutileza de olhares e gestos do que pelas palavras. Normalmente, em seus filmes, as personagens principais não falam (por vontade própria).
Num filme destes, em que o silêncio é extremamente significativo, pressupõe-se que o público acompanhe e mergulhe nesta intenção de silêncio e de introspecção. Infelizmente, eu ainda espero demais dos outros.
A fileira de cadeiras diante de mim foi toda ocupada por adolescentes. Eu, em meus preconceitos, pensei: "Que saco! Aposto que vão ficar conversando o tempo todo!". E já fui preparando o meu espírito para ter que pedir silêncio. Atrás de mim, alguns casais e, exatamente atrás de mim, um casal de velhinhos (por "velhinhos" entendo gente acima dos 60 anos).
O que se deu durante a exibição do filme foi o seguinte: os adolescentes se comportaram muito bem (só fizeram comentários na parte em que se sugeria um ato sexual) e o casal de velhinhos ficou comentando absolutamente tudo em voz alta, da roupa da protagonista a críticas descabidas sobre as atitudes das personagens.
Num filme em que o silêncio é parte integrante do filme, num filme em que o caráter simbólico dos atos é essencial, como é que tem gente que não se controla e guarda os comentários para fazer após o filme?
Aff... Não apenas eu, mas muita gente, pediu silêncio durante a exibição. O pior é que eles não se calavam. Melhor colocar um cartaz logo na entrada da sala: Durante o filme, cale a boca!
quarta-feira, novembro 01, 2006
Ciranda social e cirandeiros
Uma das lições que aprendi nas aulas de marketing foi a respeito dos 4 Ps de marketing. Lição clássica: produto, preço, propaganda e "placement". Ou seja, o produto certo no preço correto, no lugar em que o comprador esteja e sendo divulgado para os compradores.
Na lição referente a 'placement', a gente se defronta com toda uma cadeia de intermediários. Do produtor, o produto segue para o atacadista e depois para o varejista. Com vários acréscimos no meio do caminho. Esta é uma verdade: pagamos mais pelo mesmo produto na loja do que se o comprássemos direto do produtor.
E se tivéssemos uma alternativa para subverter a cadeia? Pois bem, para isso surgiu o movimento da Ciranda Social.
Agora vem a parte em que você pergunta: "O que é ciranda social?" e aí, eu respondo:
A Ciranda Social seria uma espécie de "clube de compras", que tem o objetivo de fazer uma integração entre o campo e a cidade, entre os pequenos produtores rurais e os consumidores.
Uma iniciativa interessante para quem quer alimentos mais saudáveis (orgânicos), sem sair de casa, a um custo mais baixo, e ao mesmo tempo colaborar com o pequeno agricultor.
A Ciranda Social faz entrega por bairros a partir de um número mínimo de cestas - 10 "cirandeiros" (pessoa que contrata/compra a cesta de produtos) por bairro e uma taxa de R$8,00 sendo que se todos ou dois, três... estiverem na mesma rua e próximos essa taxa de R$ 8,00 será um rateio entre os cirandeiros; se moram em ruas diferentes será R$ 8,00 por casa.
Há cestas pequena (1 ou 2 pessoas), média (3 a 5) e grande (5 a 8), e a lista de produtos que podem integrar a cesta varia de acordo com a sazonalidade e há a integração de alguns produtos de origem anima. (ovos, leite e iogurte).
Não há taxa de adesão, mas existe um compromisso com o pequeno produtor, o consumo consciente e sustentabilidade. O primeiro pagamento é antecipado e em época de férias ou viagens longas, o cirandeiro assume o compromisso de deixar um novo cirandeiro que preencha a lacuna ou um aviso com uma antecedência de 90 dias para que se possa regularizar e manter a harmonia do ritmo de produção, a sustentabilidade e a qualidade de vida para todos.
Para quem quiser saber mais pode visitar o site do Cio da Terra ou, quem sabe, organizar o seu próprio "clube de compras".
Assinar:
Postagens (Atom)