terça-feira, outubro 10, 2006

Baú de memória e vida


Já tentei fazer cócegas em mim mesmo para ver se surgia alguma risada que me fizesse esquecer a tristeza. Já fiquei pulando em cima da cama até quebrar o estrado e só assim conseguir um sono tranqüilo.

Já comi cinco chicletes de uma só vez apenas para tentar fazer uma bola que ficasse maior que o meu rosto. Já fiquei olhando horas para a chama de uma vela dançando e enxerguei naquilo mais do que a chama de uma vela.

Já conversei com o espelho buscando alguma explicação para os erros que parecem ser recorrentes. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando na sensação da água fria correndo em fios grossos pela pele.

Já passei trote por telefone e já toquei a campainha de uma casa estranha para sair correndo depois. Já roubei xícaras de café em cafeterias apenas porque elas eram bonitas e eu queria ter xícaras de café sem gostar de beber café. Já roubei flores nos jardins apenas para distribuí-las depois.

Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Já fiquei horas esperando ao lado de um telefone. Já me arrependi por ter embarcado muitas vezes naqueles “joguinhos” de sedução. Já senti o gosto metálico daquele beijo que antecede o fim. Já me apaixonei e achei que era para sempre até ver que era um “para sempre que acaba”.

Já tentei esquecer algumas pessoas, até descobrir que estas nunca serão esquecidas porque fazem parte da minha vida, da minha história. E aprendi que esquece-las seria o mesmo que esquecer de parte de mim mesmo.

Já dormi na areia da praia porque as estrelas estavam me chamando para vê-las. Já comi muita manga e jabuticaba e goiaba que eu colhia direto das árvores no quintal da casa da minha avó.

Já raspei o fundo da tigela para pegar aquela massa crua de bolo. Já lambi muita tampa de alumínio de iogurte. Já fiquei raspando a lata de leite condensado com o dedo. Já fiquei brincando de quebrar o ossinho do frango e fazer um pedido.

Já fiz juras eternas. Já escrevi no gesso de um amigo que tinha quebrado o braço. Já escrevi com pedaço de tijolo no asfalto da rua. Já escrevi um poema porque um amigo pediu. Já escrevi no muro da escola, raspando a tinta e deixando o reboco aparente.

Já quis ser arquiteto, mágico, jornalista, biólogo, violinista, psicólogo, chef de cozinha e viajante profissional. Já estudei muita coisa achando que seria útil. Já estudei muita coisa estranha porque eu queria. Já percorri muitos caminhos errados para chegar no lugar certo.

Já chorei sentado no chão do banheiro. Já corri para não deixar que me vissem chorando. Já chorei baixinho ao lado da minha cachorra. Já prendi o choro muitas vezes dentro do peito... e doeu.

Já saí de casa e fui para lugares lotados apenas para me sentir sozinho. Já fiquei sozinho em casa quando o que eu mais queria era estar com alguém ao meu lado. Já fiquei no meio de um monte de gente e sentindo falta de uma só.

Já fiquei acordado por mais de 3 dias seguidos. Já dormi horas e horas sem acordar nem para comer nem para ir ao banheiro. Já tive medo do escuro e de portas de armário abertas a noite e de palhaços de brinquedo. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já sonhei que estava dando um passo e senti minha perna se mexer como se quisesse andar.

Já vi alguns amigos partindo e chorei por pensar que não os veria mais. E aprendi que bons amigos nunca deixam de ser amigos. Já aprendi que o trem da partida também é o trem da chegada. Amigos partirão e entrarão na sua vida, simplesmente porque é assim que é a dinâmica da vida: um ir e vir sem razão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo...
De tudo aí teve algo que não fiz e gostaria: roubar umas xicáras... e olha, amando café..rs
beijos

Anônimo disse...

Olha só, o acento no cá de xícara é porque gosto daquelas com detalhes...
hahahaha

Nem me perguntei porque eu voltei aqui, nem eu mesma sei...rs