Sim, eu leio as páginas amarelas da Veja. Volta e meia sempre surgem algumas entrevistas bem interessantes. Resolvi comprar a Veja desta semana, apesar de não estar gostando muito desta fase da revista... Cadê o jornalismo imparcial?
Enfim, comprei a revista e fui direto ver o entrevistado nas páginas amarelas. Desta vez, o entrevistado é o inglês John Gray, pensador inglês e professor da London School of Economics.
A entrevista destila um certo ar de desesperança na espécie humana e no futuro do planeta. Algo como uma luz lançada para trazer a tona muitas reflexões. Vale a pena dar uma lida na íntegra da entrevista.
Mas, só pra dar um gostinho, vou colocar aqui alguns trechos:
* Se o homem é uym animal como outro qualquer, como nossa espécie chegou a dominar o mundo?
O homem é um sucesso evolutivo: desenvolveu uma linguagem sofisticada, uma incrível capacidade de construir ferramentas e de registrar e transmitir uma memória cultural. Alguns grandes primatas também detêm algumas dessas habilidades. A diferença é que nenhum deles atingiu o nível alcançado pelos humanos. Some-se a essa habilidade uma extrema ferocidade - que também não é característica única de nossa espécie - e temos aí as condições que permitiram ao homem tornar-se a espécie dominante do planeta. Mas é um engano pensar que o homem tenha conquistado a Terra. Somos a espécie dominante simplesmente porque eliminamos grande parte da biosfera. E, ao fazermos isso, geramos condições pouco promissoras para nossa própria sobrevivência. O poder que temos sobre o meio ambiente não nos dá o controle sobre ele. O homem tem muito poder, a ponto de destruir a Amazônia, mas não o poder de recompor a mata rapidamente. Ora, se você não tem o poder de redesenhar a biosfera, então não tem o controle sobre o planeta. Assim, acho praticamente impossível que se concretize a previsão de que a população humana chegue aos 8 ou 9 bilhões de pessoas daqui a cinquenta ou sessenta anos, vivendo em certo nível de prosperidade, sem que se desestabilize a ecologia do planeta. Calculo que, daqui a um século, a população mundial terá encolhido bastante. E essa queda poderá se dar de duas maneiras: uma seria pelo declínio da taxa de fertilidade, como já acontece em países como Japão e Itália. Outra, por meio de guerras, doenças e pelos efeitos deletérios das mudanças climáticas. Se eu tivesse de apostar, apostaria na segunda opção. Seja como for, o sucesso do homem no planeta é real, mas extremamente precário e muito mais curto que o de outras espécies, como os dinossauros, que dominaram o planeta por milhões e milhões de anos. Pode acabar muito em breve.
* Qual é o papel da religião hoje?
Quem gosta de religião se aproxima mais da poesia do que da ciência. A religião ocidental tem se intimidado por rivalizar com a ciência. mas a ciência diz respeito ao poder, não dá um sentido à vida - isso é função da religião.
* O senhor diria que existem religiões que conflitam menos com a ciência?
Religiões não-antropocêntricas, como o taoísmo, parecem mais próximas do mundo que nos é apresentado pelo que há de mais avançado na ciência contemporânea. E, porque pregam uma certa modéstia sobre o lugar dos seres humanos no esquema das coisas, essas religiões são mais capazes de promover a felicidade. No entanto, recomendo também algumas filosofias ocidentais, como o epicurismo. O grande poema A natureza das coisas, de Lucrécio, é um antigo guia para viver feliz num mundo em que o homem não é a figura central.
* Para o leitor, seu livro pode deixar um certo sabor de desesperança. Qual é a saída? Ou não há saída?
Leve sua vida da maneira mais bela e inteligente possível, pois o destino da Terra não está sobre seus ombros. A necessidade de acreditar que o futuro será melhor é uma ilusão. A felicidade não vem daí, mas de aceitar a nossa natureza animal, que, ao contrário das crenças, é imutável.
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