Eduardo Coutinho é quase uma unanimidade no cinema brasileiro. Um dos melhores documentaristas da Terra Brasilis. Dificilmente ouço alguém falando em tom de desapontamento de qualquer trabalho dele. Dos que assisti, curti muito todos.
"Babilônia 2000" e "Edifício Master" são filmes que todos deveriam colocar na lista para assistir em algum momento.
Fui conferir "Jogo de cena", o mais novo filme dele. Eu achando que não iria ficar muito surpreso com o que veria, saí da sala mordendo a língua. O filme flerta no limite entre a ficção e a não-ficção, trata de metalinguagem, fala sobre o trabalho do ator, fala de histórias reais.
Tudo começa com um anúncio do diretor: "Procura-se mulher acima de 18 anos para contar uma história real". Ou algo semelhante. E as mulheres aparecem. E contam suas histórias deliciosamente privadas para as lentes da câmera.
No meio disso tudo, há alguns cortes e uma atriz conhecida começa a contar a mesma história que estava sendo contada. Sim, o diretor fez um trabalho coletando histórias reais e colocou depois, atrizes interpretando estas mesmas histórias. Fernanda Torres, Andréia Beltrão, Marília Pêra... todas desfilam seu talento diante das histórias reais das mulheres recrutadas por Coutinho.
Um jogo que mescla realidade e interpretação. O que é real? O que é falso? E isso me faz lembrar "Autopsicografia" do Fernando Pessoa:
"O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente."
O limite entre o real e a interpretação (o fingimento) é tão tênue. As atrizes falam da dificuldade de entrar naquela personagem que não era mais personagem e sim, pessoa. O diretor desfia histórias e traz boas reflexões. Imperdível!
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Um comentário:
Parece ser bem interessante, vou colocar na lista.
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