segunda-feira, julho 17, 2006

Muita história eu tinha para contar... sobre pressa e dignidade humana

É incrível perceber no dia-a-dia o quão estamos imersos na velocidade. Percebi-me hoje já em alta ansiedade por conta do meu relógio que acusava o tempo passando enquanto estava parado no meio do trânsito da cidade.
Conversando com uma amiga, percebi o quão “sufocada” está a minha agenda. Termino sempre a conversa dizendo que quero fazer tanta coisa e reclamando pelo fato do dia ter somente 24 horas.

O tempo é artigo raro e, mesmo dormir já me angustia por conta do tempo que estou “perdendo”. Nestes dias de hoje, num tempo de funcionamento 24 horas, num tempo-internet, a pressa é o padrão no caos urbano.

Há pouco tempo fui a uma consulta na minha dermatologista. No exame, ela se deteve numa pinta que eu tinha no calcanhar e perguntou se eu tinha percebido alguma alteração na coloração ou no formato daquela pinta.

Não pude responder... porque eu nem sabia da existência daquela pinta. Talvez tenha me acompanhado desde o dia em que nasci, talvez tenha aparecido no dia anterior. E eu não tinha me dado conta da existência daquele sinal no meu corpo...

Fechei os olhos e tentei fazer um exercício de memória: lembrar do meu rosto e dos detalhes do meu sorriso... e se a minha orelha fosse cortada (num ato meio van Gogh) e jogada num balde com outras 100. Será que eu conseguiria identificar a minha?
Alego para mim mesmo, numa resposta de lógica pura e simples, que todos estes “detalhes” são irrelevantes, que são simples distrações do cotidiano... Afinal, qual é a importância de se saber que você tem um pinta no calcanhar? Pode ser algo irrelevante. Mas seguramente, são detalhes que passaram despercebidos por conta da nossa pressa diária. Frutos desta nossa vida em ritmo de videoclipe.

Há quanto tempo eu não saboreio um prato vagarosamente? Estou tão acostumado a engolir um sanduíche “light” entre um telefonema e a resposta de um e-mail? Um bom prato de comida vagarosamente degustado desde o início: observado em seus detalhes de cores e composição no prato, sentido em todos seus odores de molhos e condimentos...

Há quanto não como a sobremesa olhando para as nuvens ao invés de ficar olhando para os ponteiros do relógio? Há quanto tempo eu não bebo uma taça de vinho ouvindo o burburinho da tarde e sentindo o solzinho morno espantando o frio do escritório que parece se acumular na minha pele?

Pelo menos uma vez por semana eu faço aquilo que realmente gosto? Ou será que não tive tempo? Ou pior... será que não tive tempo para constatar qual é o meu gosto?
Definitivamente a pressa é inimiga da perfeição... e da dignidade humana...

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