E o tema do post de hoje é "Matrix". Hesitei entre colocar aqui alguma coisa sobre o filme porque queria deixar "os ânimos se esfriarem" para depois discutir.
Ainda ontem, o tema retornou quando vi uma tirinha dos "Malvados" (para quem ainda não viu, é só acessar www.malvados.com.br) que dizia: "Será que só nos somos machos o suficiente para dizer que não entendemos o primeiro filme?".
Pois bem... outro dia, a Cynthia também me perguntou o que era "Matrix".
E achei uma explicação. Afinal, o que é a Matrix? (Leia apenas se já assistiu aos dois primeiros filmes)
O elemento mais interessante de Matrix residia justamente na natureza da realidade virtual concebida pelas
máquinas para ocupar a mente dos humanos. Ao final do filme original, alguns elementos deste universo haviam sido
claramente estabelecidos pelos irmãos Wachowski:
* Depois de assumirem o comando do planeta, as máquinas passaram a 'cultivar' humanos como fonte de energia;
* Para manter os humanos em sua postura passiva, uma realidade virtual foi criada para que ninguém percebesse o que de fato estava ocorrendo;
* Alguns indivíduos conseguiram se libertar da Matrix e, fundando Zion, passaram a comandar uma rebelião com o
objetivo de destruir o mundo virtual e, com isso, permitir que os demais também pudessem escapar do domínio das
máquinas;
* Alertado pelo Oráculo sobre a 'Profecia', o comandante Morpheus passa a dedicar sua vida à procura do Escolhido, do
Predestinado: um humano que, depois de liberto de seu casulo, seria capaz de manipular a Matrix com maior grau de liberdade do que todas as outras pessoas;
* Resgatado por Morpheus, Neo dá início ao seu treinamento e, ao final de Matrix, ele já é capaz de enxergar o 'código'
daquele universo virtual e de realizar proezas inimagináveis para seus companheiros, como voar e destruir Agentes;
* Certo de ter encontrado o Predestinado, Morpheus começa a planejar o ataque final à Fonte da Matrix, destruindo-a.
Pois bem: estas eram as regras estabelecidas por Andy e Larry Wachowski até o início de Matrix Reloaded. E foi então que, de repente, os criativos irmãos introduziram novos conceitos que, indubitavelmente, modificam tudo o que imaginávamos saber sobre a Matrix.
Vejamos, inicialmente, quais são as 10 principais revelações feitas pelos Wachowski:
* Depois de encontrar o Oráculo, um dos humanos sai da Matrix carregando algum tipo de aparelho que servirá de guia para que Neo possa se reunir com a personagem;
* O Agente Smith, agora liberto da Matrix, torna-se capaz não apenas de reproduzir-se ao contaminar outros indivíduos (na verdade, representações virtuais de pessoas reais e programas da Matrix, como outros Agentes), como também
consegue 'contaminar' um humano, invadindo o mundo real;
* O Oráculo não é um ser humano, mas sim um programa da Matrix;
* Alguns programas destinados ao extermínio (ou seja: que serão deletados) podem se 'rebelar' e, depois de assimilados pela Matrix, transformar-se em representações físicas anômalas no universo virtual (de acordo com este conceito, criaturas como lobisomens, vampiros e, é claro, o novo Agente Smith seriam programas 'exilados' da Fonte da Matrix);
* Depois de criar versões fracassadas da Matrix, o Arquiteto ('pai' do programa) percebeu que suas falhas decorriam de sua incapacidade de compreender a falibilidade humana. Assim, ele concebeu um programa capaz de estudar a psique dos seres humanos a fim de encontrar uma solução para o dilema. Este programa é o Oráculo;
* Depois de estudar o problema, o Oráculo concluiu que 99,9% aceitariam a existência virtual imposta pela Matrix desde que acreditassem ter a escolha de abandonar aquele universo;
* Apesar do sucesso quase absoluto, o Arquiteto ainda se via na obrigação de encontrar uma forma de lidar com os 0,1% restantes;
* O Predeterminado tem a função de retornar à Fonte e, em seguida, selecionar 23 indivíduos presos à Matrix para que
estes recriem Zion, que já foi destruída seis vezes;
* Neo é o sexto Predeterminado a surgir na Matrix;
* Depois de voltar para o 'mundo real', Neo consegue paralisar as Sentinelas exatamente da mesma forma com que paralisava as balas na realidade virtual.
A pergunta é: o que tudo isso significa? Depois de organizar as revelações dos dois filmes e colocá-las em um sistema
de 'causa-e-conseqüência' (como, aliás, advoga o interessante personagem Merovingian), a resposta parece assustadoramente clara. Senão vejamos:
O Oráculo foi criado com o objetivo de conferir estabilidade à Matrix. Para isso, alertou Morpheus para a existência de
Neo, que, por sua vez, tem a função (esta foi a palavra utilizada pelo Arquiteto) de retornar à Fonte – algo que
Morpheus acredita ser uma missão com o objetivo de destruir o mundo virtual.
Ao contrário do que havia sido estabelecido no primeiro filme, há um trânsito relativamente livre entre a Matrix e
o 'mundo real', como pode ser percebido pela passagem de Smith (um programa) para 'nossa' realidade e pela transmissão de um aparelho enviado pelo Oráculo.
Zion já foi destruída seis vezes – sempre em conseqüência de 'rebeliões' lideradas por humanos que acreditavam ter
realizado uma escolha.
Ora, a conclusão lógica (e assustadora, embora fascinante) é a de que o 'mundo real' nada mais é do que um sistema
concebido pelo Arquiteto para proteger a estabilidade da Matrix, garantindo a passividade dos humanos. Em outras
palavras: Zion é tão virtual quanto a Matrix, e é por isso que Smith consegue invadir a 'realidade' (como programa, ele
tem a capacidade de entrar em outro nível do sistema). Da mesma forma, isso explica a capacidade recém-adquirida por
Neo de congelar as Sentinelas: estas não são máquinas reais, mas sim programas que controlam aquele nível virtual (as
Sentinelas são, portanto, os Agentes do 'mundo real').
A questão é: qual é a verdadeira natureza de Neo? Será ele um humano? Ou – possibilidade mais plausível para explicar tudo o que foi revelado – será ele um programa, assim como o Oráculo e os Agentes? Se esta for a explicação, confesso que minha admiração pelos Wachowski aumentará ainda mais – e mal posso esperar para ver a reação de Trinity ao descobrir que seu amado não existe, sendo apenas um conjunto de números cujo objetivo era justamente enganar os humanos, levando-os a acreditar na possibilidade da libertação. E qual será a reação de Morpheus ao descobrir que foi manipulado pelo Oráculo e pela Matrix, inadvertidamente ajudando as máquinas a controlarem os humanos?
Por outro lado, é óbvio que Neo conseguiu alcançar um nível de lucidez jamais atingido por seus predecessores, já que,
agora, é capaz de utilizar seus poderes em um outro nível da Matrix – o do 'mundo real' (resta saber como ele lidará com
suas descobertas).
Além disso, observei mais dois fatos que julgo curiosos:
Quando Neo, Morpheus e Trinity vão visitar Merovingian, na parede do andar em que o personagem se encontra podemos ver, em fontes gigantes, o número 101. Ora, em Matrix, este era exatamente o número da porta do apartamento de Neo (que, como todos já estão fartos de saber, é um anagrama de 'One', 'Um'). Além disso, em sua bela matéria sobre a produção desta continuação, a revista SET esclarece: '(...) Em certos grupos de estudo, [os reis merovingian] são tidos como descendentes da linhagem de Jesus Cristo'. A partir disso (e como sabemos que Neo é o sexto predestinado a surgir na Matrix), começo a crer que Merovingian é, na realidade, uma das primeiras versões (possivelmente, a original) do Escolhido, do Predestinado.
Durante a seqüência situada em Zion, o Conselheiro Hamann (interpretado por Anthony Zerbe) tem uma conversa
estranhíssima com Neo – e, em determinados instantes do diálogo, tive a forte impressão de que o personagem é, na
verdade, um programa, e não um humano (isto é, desde que Zion seja, de fato, um outro nível de simulação). Sua função seria garantir que Neo tivesse liberdade para cumprir seu próprio programa: retornar à Fonte e garantir a manutenção da Matrix.
Por que acredito nisso? Simples: apesar da insistência do Comandante Lock para que Morpheus seja mantido em Zion, o
Conselheiro Hamann cria todas as condições para que a nave Nabucodonosor deixe a cidade e parta para realizar uma
transmissão para a Matrix. (Esta teoria é aquela sobre a qual tenho menor convicção, apesar de julgá-la viável.)
É claro que estas conclusões podem estar equivocadas, mas, honestamente, não creio que isso ocorra. Mais: torço para que estejam certas, pois, assim, os Wachowski terão criado um universo infinitamente mais fascinante do que poderíamos imaginar a princípio.
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