
São Paulo é um enigma. E para tentar mostrar um pouco deste enigma, selecionei um texto em que se expõe alguns lugares especiais em Sampa. Enjoy it!
.......................................
1: O melhor lugar para alcançar a "iluminação"
Foi exatamente debaixo de uma figueira que Buda atingiu, aos 35 anos, a "iluminação". Localizada no parque da Luz, há uma figueira que tem mais de 100 anos e, para abraçar seu tronco, são necessárias 12 pessoas. A espécie é originária da Índia e veio parar no parque graças a Dom João 6º, que em 1798 decidiu criar um ortobotânico com espécies nativas e estrangeiras para extração de madeira.
2: O melhor lugar para maldizer a existência de motoboys
Eles estão por toda parte, mas parecem se multiplicar como "gremlins" na rua da Consolação. O farol fecha e, em poucos segundos, os três que ocupavam a dianteira da pista já são seis, depois 12 e assim sucessivamente, em progressão geométrica. Mudar de pista é uma atitude de alto risco. Nunca se sabe quando nem de onde eles podem surgir. E se você "fecha" sem querer apenas um, compra briga com todos.
3: O melhor lugar para abençoar a APARIÇÃO de UM taxista
No Jardim Ângela, Shakespeare mudaria o "meu reino por um cavalo" para "meu reino por um táxi". Ali, eles são tão raros quanto diamantes. Por dois motivos: é uma viagem longa (mais de uma hora desde a região central), cara (em torno de R$ 60, só a ida) e, no jargão profissional, "sem volta": retorna-se vazio ou com falsos passageiros, que entram em dupla para fazer assaltos.
4: O melhor lugar para praguejar contra marronzinhos
Escolha o cruzamento das avenidas Rebouças e Brasil. Sempre há pelo menos um, seja para mandar parar, quando o farol está verde, ou andar, quando o vermelho diz o contrário. Você obedece o farol -está condicionado- e leva multa (ou passa o dia injuriado, achando que levou). Justiça seja feita, no trânsito paulistano é difícil não embirrar com os marronzinhos: por percepção seletiva, o motorista só os vê quando o tráfego está parado (e ele irritado) ou depois de alguma barbeiragem proibida (e ele multado).
5: O melhor lugar para tomar bolo ou chá de cadeira
As escadarias do prédio da Gazeta, na Paulista, são um clássico: dá para esperar sentado, sem dar pinta de quem levou "bolo" e há sempre o que observar enquanto o tempo não passa: a zoeira dos adolescentes do Objetivo, os atores amadores que se apresentam ali na frente, as greves que atrapalham o trânsito. Se não estiver acontecendo nada, é possível comprar um jornal na banca da frente ou um sorvete de casquinha ali do lado. E esperar.
6: O melhor lugar para FALAR MAL DE Oscar Niemeyer
Dizem que o arquiteto tem alguma coisa contra o verde -e o Memorial da América Latina parece prova inconteste. É um mar de concreto que, em dias escaldantes, se torna mais inóspito que o Saara. Oscar Niemeyer já argumentou que o espaço livre, sem vegetação, valoriza a arquitetura (é mais ou menos como preferir ficar careca para valorizar o design da cabeça). Ainda bem que ele não pensou nisso quando projetou o parque Ibirapuera.
7: O melhor lugar para "ver" a poluição
Lugares poluídos não faltam, mas nada mais simbólico do que uma avenida chamada Bandeirantes para ficar literalmente cara a cara com um "patrimônio" da cidade. Escolha a faixa central e fique no banco do passageiro: os caminhões jogam aquela fumaça negra diretamente no seu nariz, você respira fundo e se sente um verdadeiro Anhanguera. Das 23 estações de controle de ar da Cetesb, a de Congonhas (que cobre Bandeirantes e Washington Luís) era a que mais estourava os limites de emissão de monóxido de carbono, produzido pelos veículos. Isso melhorou. Desde 2003, segundo a Cetesb, nenhuma estação ultrapassa mais esse limite. Mas fique tranqüilo, a sensação intoxicante continua a mesma.
8: O melhor lugar para fingir que está em Paris
Às vezes, a mais parte mais interessante de uma apresentação no Teatro Municipal é o intervalo. Você pede uma taça de prosecco, passeia pelo salão nobre e, com ar existencialista, vai ao terraço. Não vai ver exatamente a Avenue de Opera, mas a vista do Viaduto do Chá é bem bonita. Se estiver frio, melhor: enrole-se em um cachecol usado e diga que comprou no mercado de pulgas.
9: O melhor lugar para se perder
Caia na conversa daquela "dica imperdível": um amigo falou de uma pizzaria incrível no Brás. E você vai. Mas pega o viaduto errado no parque Dom Pedro e vai parar na Mooca. Pergunta às pessoas no caminho, e ninguém conhece nada. Pede o guia emprestado a um taxista, mas parece que todas as ruas são contramão. Já desistindo, cai numa rua escura e, sem querer, encontra a pizzaria. Nessa altura, a fome é tão grande que você entende por que a pizza é tão incrível assim.
10: O melhor lugar para soltar a voz
A acústica não é tão boa quanto o boxe do banheiro, mas a motivação para soltar a voz (ou necessidade) é incomparável quando se está no túnel Anhangabaú, principalmente com trânsito intenso. Imagine o Bono Vox cantando para 100 mil fanáticos no Morumbi sem o retorno (aquele aparelhinho para ouvir a própria voz): só ouve o barulho. Tentar conversar no carro, com as janelas abertas, é o mesmo que trocar palavras em um show da banda Motorhead.
2 comentários:
Eu adorei São Paulo e muito... bom, fui em poucos lugares, mas adorei.
quando eu voltar vou te contratar pra guiá euzinha...rs
Cara, seu blog é um barato.
vc é muito engraçado e escreve muito bem.
parabéns
Postar um comentário