segunda-feira, dezembro 24, 2007

Sentimentos confusos


Tanto tempo sem vir para cá... e tanta coisa acontecendo. Poderia falar do final de semana que recebi meu amigo artista plástico em Santos. E de como invejei, de certa forma, o jeito meio criança dele. Engraçado ver na atitude do outro o quanto talvez a gente tenha perdido do nosso olhar desatento e curioso no mundo. Saudades do tempo em que tudo era descoberta.

Poderia falar também da viagem que fiz recentemente. De marreco recheado, de hotéis vagabundos próximo de rodoviárias, de horas de sono dentro de um carro parado num posto de gasolina, de um lago ao lado de um museu que convidava para uma tarde preguiçosa, de uma lua-de-mel improvisada...

Poderia falar de ansiedade e de amor, de decepção e de amor, de saudades e de amor, de sofrimento e de amor... aliás, por que será que amor combina com estas palavras?

Poderia falar de "Tropa de elite" e pesadelos com alguém gritando no meio da noite "Pede pra sair" ou de "A maldição da flor dourada" do Zhang Yimou.

Poderia falar de como eu não entendo pessoas que dizem que te amam e que não demonstram a mínima vontade de estar com você quando você propõe algo para fazer juntos. Onde todas as palavras parecem desculpas e tudo parece inútil.

Poderia falar de tanta coisa... mas agora é véspera de Natal. Minha família está lá na sala esperando eu descer com um sorriso estampado no rosto. Pelo menos a eles não quero decepcionar...

sábado, dezembro 15, 2007

Renato Russo: a peça


Sempre curti as letras das músicas da Legião Urbana. Cazuza e Renato Russo estão entre os que sabem me traduzir. Sentimentos são universais? Acho que sim... senão, como poderiam pessoas que nunca me conheceram me dizer tão bem em letras de músicas?

Quando meu amigo Cláudio disse que estava comprando ingressos para a peça "Renato Russo", não pensei muito. Fui correndo comprar os ingressos. E o destino estava a meu favor: ainda tinham ingressos a venda e soube que no dia seguinte, já estavam esgotados.

Como posso explicar o clima que rolou na peça... Aquilo não era uma peça. Parecia um show, com todos cantando juntos as músicas. E o Renato Russo encarnado por Bruce Gomlevsky era o cantor contando histórias de sua vida para a platéia.

Chorei em muitos momentos. Com o coração apertado ao ouvir ele se despedindo dos amigos, dos pais e do filho. Aos soluços enquanto ele se revoltava com o fato de ter de ficar na cadeira de rodas. Com um sorriso cúmplice quando ele contava sobre como conheceu o namorado.

Mas tudo era tão bem pontuado com as canções que a única coisa que se podia fazer era se entregar e cantar junto. Show disfarçado de peça, peça multimídia com música e imagens projetadas... enfim, chamem do que quiser, mas não percam.

Tão bom...


Tão bom descobrir que se pode confiar em alguém... e melhor ainda descobrir que este alguém também passou a confiar em você.

Mais do palavras, as atitudes gritam muito mais. E neste encontro de almas que se confiam uma a outra, espero seguir sempre em eternas descobertas.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O trem-fantasma




Há coisas que chamam a minha atenção e eu, curioso convicto fico criando expectativas para ver. Depois, vem a dúvida: será que a coisa toda era ruim ou era eu quem estava esperando demais? Num destes meus flertes com a arte, fui conferir "O trem fantasma".

O folder dizia que era uma "play-opera-land". O que isso quer dizer? Não faço a mínima idéia. Bem, o espetáculo tinha de tudo: bonecos gigantes com imagens sendo projetadas na barriga, uma anã que ficava lendo a sorte das pessoas, um palco giratório que parecia um carrossel e que misturava cantores de ópera, uma réplica da casa de Wagner em Bayreuth e um velhinho cantando música punk em alemão.

Depois, vamos ao trem fantasma, passamos perto de cenários remetendo a terras infernais. Na saída, quando achava que tudo tinha acabado, passa ao meu lado uma bateria de escola de samba com uma mulata sambando e se esfregando nas minhas costas. Informação demais para minha cabeça... E a obra de arte total, misturandoteatro, música, artes visuais e dança, ficou na incompreensão.

Edith Piaf :: La môme


Bem, depois de muito postergar, consegui enfim assistir a cinebiografia dacantora francesa Edith Piaf. O filme, como tantas outras cinebiografias, enfatiza todo um vendaval de desgraças e abuso de drogas e paixões. Parecia que estava vendo a mesma estrutura do filme "Ray" e de "Johnny e June".

Edith Piaf também viveu desgraças mil... foi criada num bordel, abandonada pela mãe que sonhava com uma carreira de cantora, teve relações com o submundo e usou e abusou das drogas.

No filme, quando ela dizia ter 44 anos aparentava uns 80. Mas o melhor dofilme foi mesmo a trilha sonora... La vie en rose, Hymme a l'amour e Je ne regrette rien estão entre as pérolas pinçadas.

Fico só imaginando aintensidade destas vidas. Será que a vida destes artistas famosos érealmente tão intensa ou são vidas editadas em celulóide que destacamapenas as desgraças e as paixões? Sobre o filme... curti tê-lo conferido.

Está longe de ser um filme magistral. É um filme bom e merece ser visto. Para quem for, preste atenção na trilha sonora.

sábado, dezembro 01, 2007

Gilberto Freyre no Museu da Língua Portuguesa


Nesta semana foi aberta a nova exposição no Museu da Língua Portuguesa. Depois do sucesso das exposições sobre o universo de "Grande sertão:veredas" de Guimarães Rosa e de "A hora da estrela" de Clarice Lispector, o escolhido da vez foi o polêmico Gilberto Freyre.

Mas por que um sociólogo num espaço destinado a literatura e às manifestações da língua portuguesa? Simplesmente porque "Casa grande e senzala" disseca muito a alma do povo brasileiro. Este mesmo povo que, apesar das diferenças regionais, se mantém unido pela língua portuguesa.

A abertura foi muito interessante. Nada de prosecco nem canapés repletos de estrangeirismos. O clima era de puro amálgama: caipirinha de frutas bem brasileiras (pitanga, carambola, caju) e pratos com toques nordestinos (trouxinhas de palmito pupunha, bobó de camarão, caldinho de feijão, cuscuz e escaldado de siri).

A exposição vasculha o universo de Gilberto Freyre através de suas obras. Vi a casa partida, fazendo muitas referências a "Casa grande e senzala", vi microondas e geladeiras e uma dispensa cheia de latas com receitas e falando sobre a importância da culinária (referência direta a obra "Assucar". Vi um canavial infinito dentro de um armário, vi nossa sombra se tripartir em cores distintas para mostrar que somos um povo repleto de matizes.

E vi também a obra que ilustra este post (do artista plástico Cícero Dias) e que ilustrava "Casa grande e senzala". Saí da exposição querendo ler mais de Gilberto Freyre.

Sobre a arte contemporânea: prêmio Sérgio Motta, IAC e Superflex



Superdose de arte contemporânea... Um dos lados divertidos do meu trabalho é tentar entender um pouco mais desta faceta da arte.


Para mim, arte contemporânea é algo incompreensível. E também hermético. A compreensão da obra ultrapassa aquilo que é visível e adentra no próprio processo de criação. Isso é válido. Sim, super-válido. Mas fico sempre com a impressão de que a arte contemporânea acaba sendo feita para impressionar os intelectuais de plantão.


No domingo passado fui a entrega do prêmio Sérgio Motta. O que o ex-ministro das telecomunicações, responsável pela privatização das teles tem a ver com arte e tecnologia? Também não entendi muito bem, apesar da viúva dele tentar fazer uma ligação no discurso de abertura.





Na apresentação dos premiados, houve também um espetáculo multimídia. Algo meio estranho que envolvia participação de muitas pessoas da platéia, uma bailarina executando movimentos de dança moderna, uma tuba, uma parede de gelo, um cara com lança-chamas, realejos pendurados e imagens que eram projetadas.


Se eu entendi alguma coisa? Não. Se eu senti alguma coisa? Também não. Na verdade, houve um momento em que estava tão entediado com aquilo que fiquei conversando com meu amigo. E de repente, o espetáculo terminou. O comentário dele: "Pelo menos terminou no tempo certo".




Na terça-feira, foi a vez de ir a dois eventos: a abertura do IAC - Instituto de Arte Contemporânea e uma vernissage na galeria Vermelho.



O IAC fica num prédio histórico, na USP da rua Maria Antônia. Projeto interessante do Paulo Mendes da Rocha. Exposição cheia de nomes consagrados: Amilcar de Castro dialogando com Tunga, Mira Schendel pertinho de Alfredo Volpi.



Muita pose e pouca simpatia. Sabe aquilo que falam sobre a postura blasè? Lá descobri o que é estar cercado disso. Uma turma que faz coisas para impressionar os outros da mesma turma, que vão admirar e criticar e fazer disputas sobre quem fará a coisa mais delirante ou quem dirá a coisa mais criativa.



Acho isso tudo muito estranho... quase uma masturbação intelectual. Gente falando de Merleau-Ponty enquanto degusta um pouco de queijo brie com geléia acompanhado de prosecco.


De lá, fomos (eu e meu amigo artista plástico, que com certeza ficou muuuuuito chateado comigo por conta das minhas opiniões) para a vernissage na Galeria Vermelho.



O clima ali era totalmente diferente. Gente jovem, gente descolada, gente se divertindo. A exposição principal era do grupo suiço Superflex. Este grupo já tinha causado certo burburinho na Bienal ao pregar o livre acesso a informação e ao defender o copy-left (oposto ao copyright). O direito autoral pode destruir a cultura colaborativa? Este é o mote principal da discussão.

E a forma de suscitar esta discussão, foi através do projeto Free Beer. Foi desenvolvida uma fórmula de cerveja que é aberta para todos fabricarem. E esta é a obra de arte. O clima na abertura era de festa. Muita cerveja e muita gente brincando nas propostas lúdicas do Superflex.

Arte contemporânea? Pode ser hermética, pode ser divertida... no final das contas, melhor não tentar entender.