quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O preço da mudança climática

Steven Levitt é um dos mais famosos economistas da história recente. Entretanto, ao contrário de seus predecessores, não criou novas teorias macroeconômicas nem mecanismos para explicar os efeitos da regulação de mercado. Ele ficou famoso por seu trabalho que relacionava instrumentos da econometria com situações empíricas.

É dele, por exemplo, o estudo que mostra a correlação entre a legalização do aborto e a redução dos índices de criminalidade. Eu, particularmente, gosto bastante dos estudos publicados e acompanho regularmente o blog dele: Freakonomics (sim, é o mesmo nome do livro).

Num post recente, Steve Levitt fala sobre o impacto do aquecimento global sobre a economia. Mostra interações entre os fatores climáticos e o comportamento das pessoas, apoiado inclusive em estatísticas históricas. E faz conjecturas sobre o que o futuro reserva.

Um exemplo: as estatísticas da Baviera no século XIX mostra uma relação entre chuva, fome e crimes. Veja só a lógica no raciocínio desta correlação. A chuva afeta as safras de centeio. O centeio é um recurso alimentar importante na região. Quando se verificava uma chuva muito forte, a safra de centeio era prejudicada. Com menos centeio no mercado e muita gente querendo comprar, entra aí uma lei básica da economia: a lei da oferta e da demanda.

Menos centeio, muita demanda resulta em preços mais altos. Considerando que as famílias pobres não teriam dinheiro para comprar centeio e mesmo assim precisam se alimentar, o índice de crimes de propriedade aumenta.

Interessante, não é? Mas veja só... quando os níveis de chuva verificados eram normais e a safra era normal, o índice de crimes de propriedade caía mas o índice de crimes violentos aumentava. Por que? Porque o centeio também é a matéria-prima para a cerveja.

Ou seja, mostra-se também uma correlação entre o consumo de bebidas alcóolicas e crimes violentos.

Para quem quiser ler o texto na íntegra, vale a visita ao site Freaknomics. Ainda neste texto será possível verificar a relação entre secas e as guerras civis em países africanos e os possíveis ganhos agrícolas nos EUA devido ao aquecimento global.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Flávio Diário


Há coisas que você lê e se pergunta: como é que alguém que eu não conheço pode falar tão junto da minha alma? Como alguém que nem sabe da minha existência pode dizer coisas que ressoam na mente e ficam ali brilhando, brilhando, brilhando?

Fui visitar o site Flávio Diário e li um post recente dele (que transcrevo na íntegra abaixo). Um texto marcado pela delicadeza e por certa amargura. Interessante ler e pensar.

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Juro. Eu não queria ter muito dinheiro. Nunca saberia o que fazer com tanto.

Mas eu queria ter uma máquina do tempo. Dessas em que eu pudesse entrar nela e voltar no tempo, só pra te encontrar.

E com certeza, eu ia te encontrar linda como você é hoje. E nesse belo lugar em que você mora, eu ia te pedir em casamento, mesmo que fosse a primeira vez em que nossos olhares se cruzassem.

E a gente se casaria como você sempre sonhou: na igreja, de véu e grinalda com toda a pompa e circunstância que a solenidade merece.

E eu ia ser o homem mais feliz do mundo. Por te ter, por ter permanentemente a sua boca perto da minha, as minhas mãos tocando os seu longos cabelos, te amando, te fazendo feliz como você nunca foi.

E todo mundo ia olhar a gente andando abraçados e o amor nos envolvendo por onde a gente estivesse. E teríamos filhos, teríamos uma vida de projetos, faríamos planos que se realizariam, pois não conheço ninguém com a garra e a determinação como você tem.

Mas infelizmente eu não tenho essa máquina do tempo. E nem sei se existe uma. No dia em que eu souber que ela existe, saiba que eu vou atrás dela.

Por isso é que só agora eu cheguei à você. Claro, tem esse passado nas minhas costas. E que eu quero tanto que você esqueça. E que nunca me rememore detalhes que são penosos e deletados.

Se existir uma, eu também vou atrás de uma máquina de apagar o passado. Faço questão de ir atrás. Pra quando eu te encontrar, eu estar como se tivesse acabado de nascer: com uma cabeça zerada e uma vida só pra você.

Infelizmente essas máquinas não existem.

Por isso eu te peço: dê uma chance pra gente se entender e construirmos um novo caminho chamado futuro.

sábado, fevereiro 24, 2007

And the Oscar goes to...

Bem... estamos na véspera da premiação do Oscar. Quem serão os vencedores? Dos indicados deste ano, consegui assistir a todos os indicados a melhor filme (o último que faltava era "Cartas de Iwo Jima" e vi nesta semana).

Dos indicados para algum dos prêmios, assisti 11 filmes. E ao ver os filmes que assisti, fica difícil ver alguma forma de comparação entre um filme e outro. Há filmes tão distintos e todos são bons em algum aspecto.

"Pequena Miss Sunshine" é uma pérola do humor negro. "Volver" emociona e cativa com as personagens apresentadas por Almodóvar. "A rainha" faz conjecturas interessantes. "Babel" nos faz refletir sobre a condição humana neste mundo moderno e global. "Um verdade inconveniente" nos alarma e chama para a ação. "O labirinto do fauno" é pura psicologia e fantasia.

Como comparar filmes tão díspares? Tarefa difícil para quem vai decidir os ganhadores. Mas, vamos aos palpites:

* Melhor filme
"Babel" é sem dúvida o grande favorito. Uma história que mescla crítica social, fala sobre as neuroses do mundo moderno e traz histórias interligadas pela incomunicabilidade.

* Melhor direção
Eu aposto em Martin Scorsese por conta de "Os infiltrados". Depois de ser tão esnobado por filmes anteriores, acho que agora é a vez dele. Clint Eastwood já ganhou dois prêmios. Stephen Frears seria um prêmio também merecido, mas acho que há poucas chances.

* Melhor ator
Nesta categoria prefiro não opinar porque não vi nenhum dos filmes. Todos apostam em Forest Whitaker. Se for considerar a carreira dele, ele merece. É um ator talentoso e pouco reconhecido.

* Melhor atriz
Páreo difícil. Meryl Streep faz um bom trabalho em "O diabo veste Prada" mas o papel dela é de coadjuvante. Penélope Cruz merece o prêmio por conta da inspirada atuação em "Volver" e já ganhou a Palma de Ouro em Cannes junto com o restante do elenco feminino. Mas a favorita é Helen Mirren por "A rainha". Ela está fantástica e convincente. Difícil tornar uma personagem tão factível, distante e acessível ao mesmo tempo.

* Melhor roteiro original
Eu fico aqui entre "Pequena Miss Sunshine" e "O labirinto do fauno", pendendo talvez mais para o segundo.

Agora é apostar e torcer. Vamos ver o que acontece amanhã...

domingo, fevereiro 18, 2007

O céu de Suely


Em tempos de Oscar, fica aquela corrida para se ver os indicados que estão em cartaz. Eu, sinceramente, curto muito estar por dentro do que foi indicado e tento assistir o maior número de indicados, mas neste ano...

Bem, neste ano já assisti a boa parte dos indicados e os que eu ainda não assisti, simplesmente não me atraem.

Resolvi então arriscar e assistir uma produção nacional. E cruzei com filme "O céu de Suely". Junto com um grupo de amigos, fomos conferir o mais novo filme de Karim Ainouz na pequena sala do Espaço Unibanco 5.

Karim Ainouz já tinha chamado minha atenção como roteirista. Foi ele quem escreveu os roteiros de "Madame Satã" e, junto com Walter Salles, os roteiros de "Abril despedaçado" e "Central do Brasil".

Nos primeiros minutos do filme, imaginei que era mais um filme tentando dar uma tinta colorida e esteticamente bela para miséria. Tenho uma certa antipatia por filmes que tentam pintar a miséria com cores belas. A miséria humana nunca é simpática.

Mas, assim como em outros filmes, a miséria material das personagens é condição para se contar uma história maior, de um humanismo universal: a superação da condição e a busca do sonho.

Hermila (papel muito bem defendido pela atriz Hermila Guedes) é uma jovem de 21 anos, recém-entrada no mundo da maternidade. Assim como vários nordestinos, fez a viagem para São Paulo buscando uma vida melhor. Encontrou muita coisa boa e muita coisa ruim.

Depois do nascimento do filho, resolveu voltar para a cidade natal. Primeiro ela e o filho, o marido viria depois. Ao voltar, reencontra as raízes e se vê em conflito: está ali querendo uma vida melhor mas ainda perambula sem planos certos nem destino. Sabe que está voltando para o lugar de onde fugiu e sente-se ao mesmo tempo pertencendo e não pertencendo àquele lugar.

Sozinha, tenta levar a vida e arranjar sustento para ela e o filho. Rifa garrafas de whisky que trouxe de São Paulo, lava carros para levantar mais algum dinheiro... Deseja fugir novamente. Desta vez para mais longe. E vai perseguir este desejo até as últimas conseqüências.

O que a prende? O filho. Um possível amor. A família. Uma história. Conseguirá abandonar tudo para tentar a vida em seu novo sonho mais distante? Hermila percebe que não consegue avançar em direção do seu sonho e decidi explorar as possibilidades: para levantar o dinheiro que precisa, vai rifar-se e assume o nome de Suely.

Partindo destas premissas, o filme se desenvolve lentamente e permite que nos envolvamos com o conflito de Hermila/Suely ao tangenciar os limites para se atingir um sonho.

Pena que este filme esteja já saindo de cartaz... com certeza, merece ser visto.

Descobrindo São Paulo

Quem passa na rua, dificilmente iria perceber aquela pequena porta de acesso. O lugar fica na rua da Glória, uma das principais vias do bairro oriental de São Paulo: a Liberdade.

Da rua, não se tem uma idéia do que se encontrará lá dentro. E ao cruzar a porta, algo totalmente diferente se revela. Pense em aquários, não um ou dois, mas uma parede inteira com aquários. Pense ainda em flores de plástico e em luminárias pendentes com aquela cara típica dos anos 80. Pense em couro vermelho e espelhos. Pense em painéis luminosos e neón. Pense em animais de plástico e cercas também de plástico e multicoloridas separando ambientes.

Tudo isso você encontra lá na Choperia e Petiscaria Liberdade. O mais novo point dos moderninhos e descolados paulistanos. Não é à toa que o lugar recebeu o apelido de "Karaokê David Lynch" por conta das bizarras combinações assumidamente kitschs.

Este é o lugar garantido para uma festa mais do que divertida e que atende a todos os gostos. Você quer beber chope? Lá tem. Quer comer comida japonesa? Também tem. Quer algo mais substancioso como um churrasco? Lá também tem. Quer pagar um mico? Embarque no videokê, tentando acompanhar a música "You make me feel brand new". Quer relaxar num jogo? Pegue uma das mesas de sinuca.

Resolvi conhecer este lugar movido pela minha curiosidade. Posso dizer que ri muito e me diverti mais ainda. Este é um lugar para relaxar e para aprender a não se levar tão a sério assim. Vale a visita.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Aventuras do final de semana

Ultimamente tenho usado meus finais de semana para conciliar duas coisas: colocar-me em movimento (e assim, deixar o sedentarismo um pouco de lado) e divertir-me.

Por conta disso, meus últimos finais de semana foram dedicados a caminhadas. E devo confessar que tenho boas surpresas com esta minha decisão. Caminhadas me ajudam a conhecer um pouco mais da região em que vivo e me colocam em contato com realidades que dificilmente eu encontraria no meu meio habitual.

Neste final de semana fui caminhar na cidade vizinha: Guarujá. Santos fica em uma ilha e o Guarujá fica em outra. Separadas apenas pelo canal que leva ao porto de Santos.

Acordamos cedo e fomos para a ponte dos práticos, local em Santos onde ficam as catraias que fazem a travessia entre uma cidade e outra. Descemos na antiga Fortaleza da Barra Grande, antigo forte construído para defesa da baía de Santos dos invasores.

De lá, começamos a caminhada. Cruzamos as pedras até a praia do Góes e de lá, uma trilha que adentrava pela mata nos levaria até o destino final: a praia do Sangava.

Já tinha ido uma vez a esta praia por conta de uma aventura anterior: um passeio de caiaque cruzando o canal e seguindo pelas pedras até esta praia. Desta vez, seguimos por terra até acessá-la.

O caminho não foi dos mais fáceis, subidas íngremes e descidas escorregadias por conta do barro, alguns trechos com capim alto e sol forte, outros com mata fechada e muita sombra.

Algumas surpresas no caminho como pés de abacaxi e borboletas e, até mesmo uma pequena cobra coral cruzando nosso caminho. Depois de tanta andança, chegamos a praia.

Menos deserta do que supomos. Muita gente estava por ali, tinham chegado por barcos e ocupavam a pequena faixa de areia. Procuramos nos acomodar e fazer um lanche e dar um mergulho antes de retomar o caminho de volta.

Incrível saber que a poucos minutos de casa, é possível entrar em contato com outro mundo. Nada de prédios envidraçados nem praças de concreto. Bom saber que existe um caminho de fuga momentânea das loucuras urbanas.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Maratona de filmes: "A rainha"

Helen Mirren está realmente incrível em "A rainha". Ela não interpreta a rainha Elizabeth II. Ela simplesmente É a rainha. A personificação é tão forte que fica difícil dizer que aquilo que é mostrado no filme seja apenas ficção.

No filme, Stephen Frears (diretor que ganhou o meu respeito depois de "Ligações perigosas") mostra os bastidores da semana em que ocorreu a morte da princesa Diana.

A princesa Diana aparece no filme apenas através de imagens capturadas em noticiários e sua imagem parece assombrar a rainha durante todo o filme. Um trabalho fabuloso de construção dos bastidores e das intrigas e preocupações que recaíram sobre a monarquia britânica.

No filme, dá-se a entender que o primeiro-ministro Tony Blair (na época, recém-eleito) foi um verdadeiro salvador da monarquia. A rainha é mostrada como uma pessoa teimosa e inflexível, buscando conter-se o tempo todo já que o seu papel é o de representar um Estado. E o Estado é simplesmente impessoal.

As influências para a rainha são dúbias: a mãe e o marido fortalecem a posição aristocrática, o passado em descompasso com os anseios do povo. O filho Charles aparece como uma tímida voz modernizante, preocupado com a própria sobrevivência da monarquia para um dia chegar ao posto de rei.

Acredito que a melhor imagem a respeito da monarquia britânica esteja condensada na imagem do cervo: altivo e belo na distância, mas passível de ser abatido por qualquer um.

A rainha encarnada por Helen Mirren é altiva e busca se manter distante, imaginando assim ser a manifestação da vontade de Deus e do povo. Aprende a duras penas que esqueceu por um momento, como ouvir e atender o povo que representa.

Maratona de filmes: "Filhos da esperança"

Alfonso Cuarón é um diretor que se envolve em filmes bem distintos: do infantil "A princesinha" ao cult "E sua mãe também", passando pelo blockbuster "Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban".

O novo filme dirigido por ele é uma ficção ambientada no futuro. Focada na Inglaterra do ano 2027.

A premissa é a de um mundo onde o controle de fronteira é cada vez mais forte. Massas de imigrantes ilegais são deportadas ou colocadas em campos de refugiados.

Além disso, este mundo em 2027 é um mundo sem bebês. O último bebê nasceu em 2009 e, a humanidade caminha para o envelhecimento e sem deixar sementes. A fertilidade humana caiu para zero e ninguém sabe o porquê.

No meio deste caos, surge um pequeno milagre: uma jovem está grávida. E num estágio avançado de gravidez. Ao contrário das outras mulheres, ela não abortou nos primeiros meses.

O problema é que ela é negra e uma refugiada fugitiva dentro da Inglaterra. Uma verdadeira bomba política para o governo inglês e uma arma política para os grupos terroristas pró-refugiados.

Uma trama interessante, conduzida de forma despretensiosa (se bem que a parte em que quase se faz da criança um pequeno Jesus negro, dá nos nervos) e defendida por um bom elenco.

No papel principal, o ator Clive Owen encarna um funcionário do governo que acaba se envolvendo na trama. Juliane Moore é a chefe de uma facção revolucionária. Michael Caine também aparece como um hippie sonhador e viciado em maconha "tosse de morango".

Maratona de filmes: "Zabriskie Point"


Zabriskie point é nome de uma região no Vale da Morte e também é o nome de um dos poucos filmes rodados na língua inglesa pelo diretor italiano Michelangelo Antonioni.

Juro que não entendo o porquê da crítica endeusar alguns diretores. Os filmes do Antonioni, para mim, carecem de emoção.

Não vou discutir o visual... ele realmente tem um bom olho para a câmera, para buscar o melhor enquadramento. Mas, simplesmente não me agrada.

E eu já tentei diversos filmes dele... "A noite", "Blow-up", "Além das nuvens"... nenhum destes filmes despertou uma empatia.

"Zabriskie point" sempre foi um filme do qual ouvi falar. E ao que parece, poucas pessoas o assistiram. Sabe aquelas referências que todo mundo cita mas pouca gente realmente sabe do que está falando? Algo como falar de Cervantes e Dom Quixote mas nunca ter lido a obra. Ou citar a banda Velvet Underground mas nunca ter ouvido um disco inteiro deles.

Pois bem, este também é o caso deste filme. Sempre li a respeito deste filme como sendo uma expressão da contracultura americana dos anos 60 e várias críticas endeusando o diretor Antonioni por conta desta obra.

Minha opinião: o filme é pretensioso, lento e cerebral. Atira para todos os lados, tentando agradar a todas as facetas de uma manifestação complexa que foi a contracultura americana.

Encontra-se de tudo ali: drogas, estudantes protestando, negros protestando, atentados terroristas contra o establishment, amor livre... enfim, talvez fizesse sentido nos anos 60. Para mim soa como um filme anacrônico e pretensioso.

A trilha sonora moderninha (na época) conta com Rolling Stones, Grateful Dead e Pink Floyd. Isso e mais a fotografia é que podem ser destacados como pontos positivos no filme.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Eu fui ao Itororó...


"Fui a Itororó
Beber água e não achei
Adeus bela morena
Que no Itororó deixei..."


Pois bem, nestas minhas andanças acabei indo parar na fonte do Itororó, esta mesma das cantigas. Se bem que já falaram que, na verdade, não é Itororó e sim, Tororó.

Fui pesquisar e sabe o que descobri? Que Tororó também está certo. O antigo ribeiro de Itororó também aparece nas antigas escrituras como Tororó, uma corruptela de Y-xororó (que significa água corrente).

Enfim, nem sabia que esta fonte do Itororó era em Santos. Qual não foi a minha surpresa descobrí-la ali ao pé do Monte Serrat, destino da minha caminhada neste domingo.

Estou numa fase de caminhadas. Descobrindo trilhas e fazendo passeios a pé. Desta forma, aproveito para tirar o bolor que se acumula durante a semana. rsrs.

O Monte Serrat é o ponto mais alto da cidade de Santos. No alto, um antigo cassino e uma pequena igreja dedicada a Nossa Senhora de Montserrat, padroeira da cidade.

Para se chegar lá no topo, há duas opções: a mais rápida (que é pelo funicular) e a mais demorada (subindo as escadas da base até o topo e passando pelas estações da paixão de Cristo que colocaram no caminho).

Fomos, eu e Gwa, pelas escadas. Curtindo o visual e o insólito de passar num morro e notar as casas simples e antigas dos moradores. Surpreendeu-me a atenção da comunidade. E também a integração das pessoas naquela paisagem.

Lá em cima, a impressão era de que eu estava em outra cidade. Crianças empinando pipas, a igrejinha e um descampado que servia de campo de futebol. Uma vista interessante do canal do porto de Santos, onde foi possível ver toda a movimentação dos navios de cruzeiro.

Sensação boa de descobrir uma coisa nova.

sábado, fevereiro 03, 2007

Babel

Diz a Bíblia que muitos anos atrás todos os habitantes da Terra se uniram para construir uma torre que chegasse até o céu, para tornar seu nome célebre e impedir que fossem espalhados pelo mundo. Para punir os homens por sua ambição demasiada, Deus confundiu sua linguagem e depois os dispersou pelo mundo. A torre de Babel tornou-se símbolo da incomunicabilidade, símbolo de um mundo cheio de palavras mas vazio de compreensão.

Babel é o novo filme do mexicano Iñarritú, diretor de Amores perros e 21 gramas. O filme, indicado para diversos Oscars, trata sobre a incomunicabilidade em diversas histórias que se passam em lugares diferentes.

No Marrocos, uma família de pastores adquire um rifle para poder proteger as cabras do ataque dos chacais. Um casal de turistas americanos discute e se afasta, sem encontrar as palavras certas para uma reaproximação. No Japão, uma surda-muda sente-se isolada do mundo ao redor, busca integrar-se mas é observada como curiosidade. No México, uma babá se coloca em apuros por conta de um pequeno mal-entendido na fronteira com os EUA.

Nestas histórias, aparentemente desconexas, mostra-se as repercussões da incomunicabilidade. Um tiro fatal acaba ligando todas as personagens sob algum aspecto. E é este tiro que servirá de catalisador para que cada história em cada canto do planeta, sigam o caminho e superem o entrave da falta de comunicação.

Em algum momento, as palavras e o entendimento precisam surgir. Seja por algo bom, seja por algo trágico, o entendimento deverá vir de alguma forma.

O filme conta com o astro Brad Pitt e a oscarizada Cate Blanchett, mas quem se destaca são os atores menos conhecidos. Os garotos marroquinos dão a tônica neste drama. E as indicações ao Oscar da atriz mexicana e da atriz japonesa foram mais do que merecidas.

Para quem quiser um drama com algum conteúdo para reflexão, pode se abrigar diante deste filme na tela do cinema.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A trilogia Qatsi

Godfrey Reggio estudou durante 14 anos para se tornar um monge. Nestes caminhos tortuosos que cada um percorre durante a vida, pode-se dizer que o caminho dele levou-o para longe da vida em monastério e direto para o cinema.

A trilogia Qatsi é o produto de anos de filmagens e de uma concepção primorosa para discutir um tema ousado: a vida humana. Nada de explicações biológicas nem de discursos panfletários.

Os filmes da trilogia Qatsi falam somente através das imagens e da música minimalista de Philip Glass.

Qatsi é uma palavra de origem Hopi (tribo indígena norte-americana) e significa vida. Os títulos de cada um dos filmes da trilogia traduz uma forma de relação com a vida.

O primeiro filme é Koyaanisqatsi (vida fora de equilíbrio) e vemos ali um desfile de imagens de grandes metrópoles e da velocidade impressa pelo homem nos ritmos da natureza. Vemos a próprio domínio do homem sobre a natureza, moldando-a conforme suas necessidades e, talvez, até conforme sua própria vaidade.

O segundo filme da trilogia é Powaqqatsi (vida em transformação). Se o eixo do primeiro filme girava em torno da relação homem-natureza num mundo já desenvolvido, aqui a discussão gira em torno da relação do homem num mundo em transformação. E para isso, as filmagens foram todas feitas em países do Terceiro Mundo (África, América Latina, Sudeste asiático). Impressionante as imagens que Reggio coletou em Serra Pelada.

O último filme (ainda não lançado aqui no Brasil e sem previsão de lançamento... e viva a internet, porque senão, sabe-se lá quando eu conseguiria assistir a última parte da trilogia) é Naqoyqatsi (vidas em guerra).

A figura humana desaparece sob a luz dos efeitos. Parece que a humanidade se dissolveu no meio das suas criações intelectuais. Até onde somos aquilo que criamos? Até onde apenas somos? Naqoyqatsi foi feito em 2002 mas impressiona pelas discussões que suscita.

Para quem não curte um cinema de reflexão, a dica é afaste-se. Para quem não curte filmes sem diálogos, vale a mesma dica. Para quem quiser arriscar, eu diria "vá em frente" e saia do filme com mais conteúdo.