quarta-feira, setembro 28, 2005

A esperança é a última que morre?

Hoje, visitando um dos blogs de amigos que visito diariamente, me deparei com um texto do Marcelo Barros (saudades de vc, Marcelo). Ao invés de ficar direcionando para o blog dele (ou melhor dele e do Fabrício), vou trascrever aqui o que li.

Espero que gostem tanto quanto eu gostei. Ahhh... eu li também "A revolução dos bichos" (acho que foi um dos poucos livros que li e que ficaram na minha memória). Nunca li "1984", outro livro do George Orwell, mas quem sabe um dia.

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Sobre porcos e homens

Era o começo dos anos 80. Eu tinha uns onze ou doze anos e li pela primeira vez A Revolução dos Bichos, do George Orwell. Era um livrinho pequeno e fininho com uma capa divertida, então simplesmente o peguei para ler. Só alguns anos depois fui saber que a história dos animais que se rebelam contra a dominação do homem era uma alegoria da Revolução Russa de 1917 e suas decorrências.

Corte para 1984. Eu tomando chuva no comício das Diretas Já na minha cidade, como já relatei brevemente aqui. Com a derrota da Lei Dante de Oliveira, as primeiras eleições após a ditadura militar foram por colégio eleitoral. Os candidatos eram Tancredo Neves (da "oposição"), que foi eleito e morreu em abril de 1985, antes da posse; e Paulo Salim Maluf, "filhote" dos militares e encarnação de tudo o que considerávamos mais nefasto.

Corte para 1989. Primeiras eleições diretas neste país em quase três décadas. Eu tinha tirado título de eleitor no ano anterior, aos 18, que naquela época era a idade mínima. Vários candidatos no primeiro turno, e no segundo Fernando Collor e Lula. Sem a menor dúvida, escolhi o torneiro mecânico, pois nunca votaria em um produto da oligarquia alagoana. Meu voto foi derrotado, como o de pouco mais de 31 milhões de pessoas.

Corte para 2002. Depois de ter votado no meu colega de profissão Fernando Henrique Cardoso (mesmo com a aliança com o PFL de Toninho Malvadeza) e ter me decepcionado, coloquei a estrelinha do PT na lapela e fiz campanha aberta pelo "representante das camadas inferiores da sociedade". Lula eleito, me emocionei. Na posse, brindamos com champanhe. E chorei. Ouvi os nomes de ex-"subversivos" sendo nomeados ministros e agradeci internamente por, inclusive tendo tido pai preso e torturado por militares, poder vivenciar e ter contribuído de alguma forma para a dita "transição democrática".

Corte final para 2005. Lula é presidente e Maluf está na cadeia (como bem sintetizou Sérgio Dávila em inspirada coluna na Revista da Folha de S. Paulo). E o sonho "foi para o saco": Os corruptos fazem a festa e chegam a nos chamar de estúpidos descaradamente -- até no futebol, como eclodiu no fim da semana passada.

Como sou treinado, ou me treinei, para buscar o "tesouro da sombra", ainda acho que isso tudo está contribuindo para que mais pessoas se envolvam e se interessem por política. Acho legal que isso tenha se tornado assunto de mesa de boteco e ponto de ônibus e que as pessoas comecem a ter um pouco mais de percepção do que é feito com o nosso dinheiro de contribuintes. O risco? O de sempre: ficar na ingenuidade do discurso e cair no "é assim mesmo e não vai mudar nunca".

O fato é que até ontem vários de nós tínhamos a esperança -- aquela que teria vencido o medo -- no futuro político desse país, encarnada e simbolizada pelo PT e agremiações próximas. A idéia de que quando fosse o PT, as coisas seriam diferentes. A certeza de que pessoas que vieram da "base da pirâmide social" teriam um olhar diferente do das "elites" de sempre.

E hoje, se me perguntarem em quem vou votar nas eleições do ano que vem, não tenho o menor vislumbre de uma resposta. Ficou um oco onde antes existia a tal esperança. E aí me lembrei daquele livrinho lido há mais de vinte anos, que termina assim: "As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco"...

quinta-feira, setembro 22, 2005

A gente é o que come?



Sempre falaram que a gente é o que come (ouvi esta frase principalmente de alguns vegetarianos). Ultimamente, tenho acompanhado uma série de programas feito pelo chef inglês Jamie Oliver sobre a qualidade nutricional das merendas escolares inglesas.

Muita pizza, batata-frita e gordura saturada. Crianças que desde cedo aprendem a não provar novos sabores e que chamam de cebola um maço de aspargos. Pais relapsos que para poupar tempo, usam e abusam de comidas industrializadas e pré-prontas (diga-se macarrão instantâneo e pizza).

No programa, o chef inglês recebe como desafio mudar o cardápio da merenda de uma escola tendo um parco orçamento. O engraçado é ver que legumes e verduras custam muita mais do que um pacote de biscoitos recheados. Acho que por isso que os mais obesos são os mais pobres.

Num outro exercício, ele pede para crianças identificarem frutas e legumes. Os resultados são desanimadores. Ninguém sabe o que é um morango ou uma cebola (se ainda fosse para diferenciar uma chicória de uma rúcula, tudo bem... nem eu sei diferenciar muito bem as duas). Mas ao mostrar o logotipo de redes de fast-food, as crianças respondem corretamente em uníssono. Lembra muito o que foi explorado por Morgan Spurlock em Supersize me (documentário fantástico).

Tendo visto esta e outras, resolvi fazer uma pequena experiência... vou adotar uma dieta restrita. Se somos aquilo que comemos, será que se eu mudar minha alimentação vou sentir alguma diferença?

Vamos ver...

segunda-feira, setembro 12, 2005

"Algumas pessoas tem problemas. Outras tem dez dedos, duas mãos e um taco de basebol. Algumas pessoas são vitimas, outras tem alvos. A maioria tem vontade, mas não tem disposição. Algumas pessoas querem prazer mas não sabem em que posição. Ando me sentindo fora do mundo.As vezes eu acho que não me encaixo. Não tenho muita coisa. Mas tenho vontade, disposição, alguns problemas, um taco de basebol, um alvo, acho que estou na posição correta e acredito que estourar sua cabeça vai me dar um prazer da porra."

Interessante como este texto chegou a mim... o original está publicado num outro blog chamado Pirata Curupira mas achei-o no blog do meu amigo Fabrício (Quando isso virar um blog).

Gosto desta coisa meio niilista que é destilada em alguns textos. Gosto de ver o inconformismo e a vontade de reagir contra uma rotina esmagadora. Às vezes, estes roteiros cotidianos de tédio para tédio me incomodam profundamente.

Talvez seja por isso que eu tente buscar, quase sempre desesperadamente, alguma coisa nova. Viver a vida num modo de descobertas diárias. Procuro fazer isso... seja conhecendo pessoas novas, seja aprendendo algo que jamais imaginei fazer, seja conhecendo lugares novos (mesmo que depois se mostrem um lixo mas pelo menos, experimentei e posso dizer que não gostei ao invés de confiar no que as críticas dizem).

quarta-feira, setembro 07, 2005

As únicas respostas interessantes são aquelas que destroem as perguntas.

A frase acima é da ensaísta Susan Sontag. Quem mandou para mim foi a minha amiga Káhtia num e-mail pré-feriado... como se desejasse a todos que pegassem este feriado no meio da semana para pensar um pouquinho mais.

Ultimamente tenho me arriscado a fazer várias coisas novas e inusitadas. Novas porque nunca tinha feito antes. Inusitadas porque jamais pensei que as faria.

Comecei a praticar tae-kwon-do. Sim, isso é surpreendente. Para quem me conhece, sabe que nunca fui adepto de esportes de luta. Mas fui atraído pelo Guacymar (que também está fazendo) que disse que iríamos apenas aprender as formas.

Comecei e estou adorando. Ok, ok. Não devo ser um dos melhores alunos nem devo fazer tudo corretamente. Mas quer saber? Estou adorando descobrir este meu lado meio descoordenado. Tae-kwon-do tem muito a ver com sincronização de movimentos. E no dia-a-dia a gente não pensa muito neles. O momento de inspirar associado com um movimento de braço e de perna. O momento de expirar associado com outros movimentos.

Vejo os outros faixas-brancas (são todos adolescentes) e vejo o como está sendo difícil coordenar meus movimentos. Sei que aos poucos vou melhorar...

No sábado, fui almoçar no Café Y Cia. Aliás, quem estiver em Santos, não deve perder o almoço lá... provei um prato de camarôes em cama de alho-poró acompanhado de arroz branco com pimenta-rosa divino. O Guacymar pediu um atum vermelho com crosta de gergelim e arroz de açafrão.

Depois de todo este deleite gastronômico, voltamos para casa. No caminho, vimos uma faixa oferecendo curso de hebraico. Arriscamos a entrar e, quando vi já estava matriculado no curso.

Sim, comecei um curso de hebraico... ou melhor, começamos... porque o Guacymar também se matriculou. Na primeira aula, já tivemos o alfabeto. Achei interessante. Não é difícil. Basta memorizar as letras e voilà, já estava até conseguindo ler as palavras. Entender o que eu estava lendo é que está mais complicado.

Estou curtindo esta minha fase de descobertas. Espero que dure mais... para quem me conhece, sabe que não consigo ficar muito tempo sem buscar o novo. Seja um restaurante, seja um local...

quinta-feira, setembro 01, 2005

Ser e ter & Flying spaghetti monsterism


Anteontem assisti o documentário Ser e ter aqui no cineminha da praia, em Santos. O documentário tratava sobre o cotidiano de crianças entre 4 e 12 anos numa escola francesa. Foi engraçado ver situações vividas pelas crianças nos papéis de alunos e relembrar muita coisa.

Ver cenas como a do menino aprendendo a ler e da discussão do professor com um outro aluno sobre compromisso e responsabilidade são interessantes. Ativadores de memória.

Como crianças são seres permeáveis... às vezes esqueço disso. E ver o professor lidando com as crianças e moldando não apenas uma formação escolar mas também um caráter dá uma sensação de como devemos valorizar a importância do educador.

E já que começamos falando em escola e valores ensinados, lembrei de uma discussão recente que acontece nos EUA.

Recentemente, o Estado do Kansas (sim, aquele lugar de onde veio o atual presidente americano George W. Bush) aprovou que as escolas destinassem tempo igual para o ensino da teoria da evolução (Charles Darwin, Lamarck e correlatos) e do design inteligente (confesso que nunca tinha ouvido falar deste termo... e acho que houve uma criatividade inacreditável para dar um novo nome para criacionismo).

Por conta disso, foi lançado um manifesto irônico por Bobby Henderson, criando uma religião-paródia: o Flying spaghetti monsterism.

Numa carta aberta, o pastor Bobby Henderson pede também que seja dedicado tempo igual para se tratar do flying spaghetti monsterism nas salas de aula. Fantástico, não é?

Estou quase para me tornar um pastafári (denominação para os seguidores da nova religião). Veja só algumas das crenças:

* O unvierso foi criado por um invisível e indetectável Monstro Spaghetti Voador. E todas as evidências sobre uma possível evolução foram intencionalmente feitas por este ser.

* O aquecimento global, terremotos, furacões e outros desastres naturais são consequências diretas do declínio do número de pirates desde 1800. Foi elaborado inclusive um gráfico que mostra a correlação inversa entre os números de piratas e as temperaturas globais.

É claro que tudo é uma grande brincadeira para satirizar com as posturas destes defensores do "design inteligente" e, principalmente esta crença relacionando os piratas com o aquecimento global ressalta uma grande falácia lógica.

Para saber mais sobre o FSM (Flying Spaghetti Monsterism) é só acessar o site http://www.venganza.org/index.htm